Anjos de dor
A boate Flick, na pequena Sumaré, interior paulista, recebe uma nova cantora para suas noites. A carioca Sheila Fernandes chega como atração que levantaria a casa noturna como principal point da cidade. Entre os músicos e empregados da Flick, o barman e 'pau para toda obra' Ricardo Costa, um jovem que já passara por vários empregos, tem um relacionamento que crescerá ao longo das páginas de Anjos de Dor, romance do já conhecido autor de ficção científica José Roberto Causo.
Lançado pela Devir, a história é tecida ante esse relacionamento, que acarretará uma série de horripilantes acontecimentos. Para Ricardo, um misterioso e sensual espectro aterroriza suas noites. E o passado de Sheila entra no pesadelo, para um último grito de dor ou um derradeiro acerto de contas.
Uma nova abordagem para a nossa literatura brasileira de uma corrente que lá fora apresentou nomes que conquistaram seu espaço com o uso do elemento sobrenatural, do horror impactante em suas narrativas. Autores como Stephen King, David Morrel, Clive Parker ou Edward Bryant colocaram no papel o medo humano do desconhecido. No Brasil, temos poucos exemplos desse gênero e esperamos que o selo Pentagrama nos apresente mais dessas histórias aterrorizantes.
Causo constrói uma narrativa gradual, de uma história cotidiana numa cidadezinha paulista, como numa novela de TV, que cresce a um suspense com situações policiais e eróticas e desbanca em uma pavorosa e fantástica história de terror. Esse amalgama nos hipnotiza ao longo da trama até ao trágico desenlace final nas ruínas de uma soturna fábrica abandonada.
Usando sua cidade natal como ambientação da trama, o autor homenageia muitas de suas lembranças. Iniciado em 1990, o livro foi finalista do Projeto Nascente, ganhou leituras de mestres como Rubens Teixeira Scavone, R.F. Luchetti, Bráulio Tavares, André Vianco, Wendell Stein entre outros que ajudaram no aperfeiçoamento e no incentivo para a construção da narrativa,
A história em si é bem desenvolvida, com o controle ideal das emoções dos personagens e do uso descritivo das cenas. Cada um dos personagens é atormentado por sentimentos diversos, mas o que prolifera, do meio para o fim, são as explosões de medo e dor.
Esta história, que poderia acontecer em qualquer tempo ou lugar, se distorce e se complica com a entrada insidiosa do sobrenatural que vem transformar tudo. Ação, violência, sensualidade, terror - elementos que se entrelaçam e se completam em uma narrativa ágil, ambientação sólida e realista, personagens consistentes em suas melhores qualidades e aterradoras deficiências. Todos são vítimas e algozes diante de monstros de pesadelo que se tornam reais. Uma história cinematográfica de arte que ultrapassa as fronteiras da vida e da morte.A literatura de horror - ou numa definição mais abrangente, a "fantasia sombria" - ganha com este romance um representante original, à altura dos mestres do gênero em qualquer tempo ou idioma.
Anjos de dor consegue abordar o desconhecido, o sobrenatural, a morte numa dimensão que poucos autores conseguiram. Envolvente, o livro é mais um bom exemplo deste que já é um dos grandes talentos brasileiros na ficção.