AS CRUZADAS VISTAS PELOS ÁRABES, de Malloof

Tenho as melhores referências de Saladino. Homem fino, como todo oriental à época, em contraste com a rudeza dos franj (os francos, como chamados pelos árabes).

Mas depois de alguma pesquisa sobre as Cruzadas, que é um assunto fascinante, não me convenço muito das versões maniqueístas.

De muito interesse é o livro de Malloof, AS CRUZADAS VISTAS PELOS ÁRABES. Ele revela a percepção árabe dos cristãos: eram tidos como rudes. Mas, apesar de rústicos e cruéis, qual o motivo de terem, num primeiro momento, vencido os árabes, requintados e cruelmente sutis?

Os cristãos lograram se manter, apesar de todas as hostilidades e

improbabilidade, por um tempo razoavelmente longo (cerca de 2 séculos), em território árabe. Malloof dá uma pista: apesar da rudeza enfatizada por terríveis violências - a que nenhum povo está imune - os cristãos eram solidários, em contraste com os árabes que, a par de todo seu refinamento, eram escravocratas ferrenhos, aplicavam castigos cruéis aos subordinados e não tinham lá muito espírito de solidariedade interno, como os simplórios costumam ter.

Ademais, é preciso lembrar que, quando a Europa marchou contra os árabes, estes já a estavam pressionando nos limites orientais, pois na Península Ibérica já dominavam. Desde o século VII, quando Maomé inaugurou a jihad (guerra santa islâmica) como forma de proselitismo com vistas à conversão, que a dominação islâmica aferrou-se à expansão bélica. Ademais, nisso sim há absoluta fidelidade: Maomé, que viveu entre judeus e teve um mestre que era monge cristão, não entendia a rivalidade entre seus admirados afetos e mestres. (Detalhe importante: islamismo é um sincretismo judaico-cristão). A justiça e a caridade estavam no centro da espiritualidade e moral judaica, transmitida aos cristãos. Isso exercia fascinação sobre o jovem Maomé, originário de uma cultura guerreira que, em suas origens, enfrentara as hostilidades naturais e a violência dos embates bélicos do deserto, onde não havia terreno fértil para o sustento das delicadezas femininas... Um atavismo renitente.

Tema apaixonante ... Pouco controvertido já que sufocado pelo senso comum, que faz a apologia invariável das vítimas de uma suposta opressão judaico-cristã. E haja persistência para a contestação.