Resenha:
Nova Psicologia para a Educação: Educando o Ser Humano.
Zenita Cunha Guenther
CEDET - Centro para o Desenvolvimento do Potencial e Talento/ASPAT Associação de Pais e Amigos para apoio ao Talento
Canal 6 Editora, Bauru, São Paulo, 2009.
 
         Compartilhar leituras, por meio de confecções de resenhas, é um hábito que gostaria de dedicar uma maior parte do meu tempo, pois ler é aprender e partilhar o que se aprende é algo parecido com o ato de oferecer, aos amigos ou vizinhos próximos, um pedaço de bolo ou um doce que elaboramos com prazer e que, por ter ficado bom, achamos por bem ter este gesto.
         Eu conheci Dra. Zenita e suas obras tempos atrás e, mesmo a distância, nós mantemos o intercâmbio de movimentos e afetos. O livro que aqui resenho, possui a marca de uma educadora que, em sua trajetória, sempre buscou aprender para ensinar e ensina aprendendo, em suas múltiplas atividades de docente e pesquisadora que exerce mundo afora.
         Dividido didaticamente em três partes, no seu todo este livro é um convite amplo aos interessados por estudos e propostas que demonstrem a importância de seguirmos acreditando nos processos de desenvolvimento humano a partir da Educação. A autora defende a Educação Inclusiva apontando-nos o desafio de cotidianamente buscarmos a apropriação do Pensamento Humanista, para iluminarmos nossas práticas e estabelecermos outros modos de sentipensar nossas próprias intervenções psicossocioeducativas e a importância delas em nossas próprias trajetórias, em nossas histórias de vida.
         Na parte primeira, intitulada “Uma Psicologia para a Educação O ser e o não ser da Ciência”, elabora quatro capítulos que são fios que tecem uma rede de apoio para seguirmos atentos, na leitura de suas outras ideias, apresentadas no decorrer da obra. A dimensão psicológica da Educação e as bases e os princípios da ciência psicológica nos são apresentadas numa linguagem de clara compreensão. Fundamentada em investigações e pesquisas, nos ensina que compreender os sistemas abertos e fechados de pensando amplia possibilidades de acessar, de melhor modo, os próprios desafios à Psicologia da Educação Humanística na contemporaneidade, que a meu ver a nos se apresenta com excessivo retorno a olhar o ser humano tão somente nos aspectos da Neurociência, deixando de lado outras dimensões que nos compõem.
         “Compreendendo o ser humano conhecendo seu aluno” é a segunda etapa que nos deparamos com esta obra. Aqui o destaque que é dado se constrói permeado pelas significações que, ao longo de nossas vidas, vamos elaborando em nosso viver junto com os outros, perpassando pelas discussões sobre o auto-conceito e a presença do outro em nossas humanas interações.
         De importância impar é a apresentação do Quadro Referencial da Visão de Mundo que nos brinda com interessantes provocações ao nosso pensar sobre características pessoais, visão de mundo e quadros pessoais de referência. Enfatiza nossas etapas de desenvolvimento, desde o início de nossas vidas até a velhice, onde ressalta que, nesta etapa a vivência humana “(...) concreta é vagarosa, configurada pelos limites impostos pelo ambiente e corpo físico, mas a vivência psicológica, ao contrario, é capaz de abstrair e incorporar grandes extensões e profundidades de tempo e espaço.” (p. 120).
         Ainda nesta parte, apresenta no oitavo capítulo o que denomina Alicerces da Adequação Pessoal, cuja ênfase reside na constante movimentação humana em prol de seu auto-aperfeiçoamento, com o desenvolvimento de nossas personalidades acontecendo nas interações nossas com o mundo, significadas e ressignificadas em experiências relevantes e reais. São interessantes e atuais suas posições no que diz respeito ao que seria, em nosso tempo, uma personalidade adequada, o que seria um comportamento adequado: “Todo crescimento do ser humano é um processo de maior identificação com o mundo físico e social em que vive. Estudos do desenvolvimento humano em Kohlberg (1969) e Piaget (1962) demonstram como o ser humano muda gradativamente, de um estado de egocentrismos, mas comum na infância, a uma posição de altruísmo esperada no adulto. Quanto mais se identifica com os outros, mais a pessoa se sente parte da humanidade, do mundo, da vida, e quando mais adequada é a personalidade, maior será o nível de identificação alcançado (p. 130)”.
         Para o desenvolvimento da adequação pessoal, enfatiza os poucos estudos existentes em relação ao tema, mas a partir do campo do desenvolvimento humano, propõe-nos várias reflexões sobre: a necessidade de uma visão positiva do mundo, a incorporação da Experiência, a ampliação de nossos campos de percepções e a Presença do outro, com suas diversidades e modos de estar e ser no mundo. Neste último aspecto destaca a validade das técnicas onde é possível experienciar como os outros sentem e pensam, citando como exemplo, o “role playing” e o Psicodrama.
         A terceira e última parte, intitulada “Educação do Ser e Vir a Ser. Ser e vir a Ser em Educação”, contém três preciosos capítulos, nutridores e vitais aos que desejam ampliar visões sobre significados e sentidos do ato de educar educando-se. No capítulo nove, Educação do Ser, Dra. Zenita nos relembra que a educação é uma área de aplicação de conhecimentos construídos por diferentes ciências, mas que é essencial, para cada um de nós, posicionar-se frente ao desafio de constituir uma Ciência da Educação, complexa e multidimensional com objetos, campos de ação e conceitos próprios, envolvendo dimensões que são interrelacionadas sem, entretanto, desprezar contribuições advindas de outros campos do saber.
         Afirma a importância da configuração de uma nova Psicologia Educacional, onde a pessoa humana, em sua integralidade, seja o centro das ações educativa, mesmo “levando em alta conta a importância do grupo social, a psicologia educacional ajuda a manter em perspectiva o fato de que o grupo, cultura, sociedade, são feitos por pessoas, para pás pessoas, e nunca ao contrário (147)”. Trata, ainda, de esclarecer os reais propósitos da Educação Humanista, que ancora-se no campo dos distintos sentidos, significados e percepções sobre nossas relações com a realidade, onde necessidades e motivação são agentes de importância primordial ao desenvolvimento e crescimentos humanos. Neste sentido, nos brinda com algumas considerações práticas caso seja, efetivamente, nosso desejo favorecer a formação de pessoas que sejam capazes de, nas diferentes situações e etapas de sua vida, tomarem decisões mais apropriadas.       
         No capítulo dez, “Ensinar e Aprender” abordagens da própria Psicologia Educacional nos relembram que a aprendizagem é um processo ativo para que possamos encontrar alternativas às nossas próprias necessidades de desenvolvimento e crescimento. Por conta disso, aqui temos amplas ideias sobre os processos de aprendizagem, as diferentes percepções e os distintos significados que podemos elaborar em nossas interações, com o conhecer, com o saber e com o comportamento, pois os eventos “(...) adquirem significado nas relações que a pessoa percebe entre eles e o seu próprio eu, e as percepções que existem sobre o eu determinam, em parte, que sentido os eventos tem para a pessoa (...) (p.169)”.
         Adiante, nos demonstra a importância das diferenciações sobre as percepções, sobre o raciocínio e a resolução de problemas, alertando que o desenvolvimento do conhecer, do aprender e da inteligência se dá com o favorecimento, pela escola e pela mediação pedagógica, de momentos com mais variedades e disponibilidades para que exista, com maior frequência, um cotidiano escolar com percepções mais ricas.  
         No capítulo onze “Viver para Aprender” a autora distingue aprender de ensinar, demonstrando que ambos os processos se situam no campo relacional entre aprendentes e ensinantes, mas que ensinar é um ato distinto de aprender, pois o primeiro é intencional e externo, dependente, iniciado e construído na interatividade entre as pessoas. Aprender é um evento não linear, interior, não disponibilizado as nossas observações externas e que ocorre no campo das percepções. Com esta diferenciação, Dra. Zenita alerta que precisamos suprimir os modelos de tão somente “Ver e Ouvir” em sala de aula, seduzindo-nos a criar outras estratégias pedagógicas onde o Viver ganhe dimensão de maior presença em nossas aprendizagens. Destaca que a escola precisa se alerta ao fato de que nós aprendemos o tempo todo e todo o tempo, nos diferentes locais onde nossa presença capta percepções, capazes de gerar significados e sentidos as nossas existências e essências humanas.    
         A sala de aula, enquanto ambiente e processo urge ser ressignificada, para que sejam possíveis intenções propícias às percepções diferenciadas, mútuas interações em correspondência, decisões e ações constituídas a partir da presença docente, mas construídas na dialogicidade. Para tanto, processos e condutas com metodologias mais ativas e participativas podem e devem fazer parte da formação inicial e continuada de professores. Por assim também sentipensar, uma frase me chamou redobrada atenção: “Há que aprender a “ser” professor”, e o bom professor aprender a usar a si próprio como instrumento de trabalho”(p.190). Uma boa questão para aprofundarmos em encontros, debates, formações e espaços de reflexão sobre nossas professoralidades. Preparando o ambiente pedagógico, vivendo a magia do processo de ensinar e aprender, registrando e documentando o trabalho cotidiano em sala de aula soa temáticas que se presentificam ao final deste capitulo.
         Esta rica obra é concluída com alguns princípios e considerações, que estão na agenda educacional contemporânea: bom ensino demanda bons professores; bom ensino demanda boas escolas; bom ensino demanda acompanhamento e análise contínua; bom ensino demanda conteúdo (acima e além de instrumentação); bom ensino demanda avaliação (sistemática, frequente, apropriada); bom ensino demanda boa liderança.
         Acrescento apenas uma consideração: bom ensino demanda que livros como este seja estudado, divulgado e amplamente debatido, se desejamos uma outra Educação que seja de fato, de afeto e amorosidade, ação realmente voltada para seguirmos adiante em nossa histórica evolução verdadeiramente Educando o Ser Humano.
             Parabéns Dra. Zenita, pelo trabalho, dedicação e partilha. Sucessos em suas Ações.
 
João Beauclair
Vivenda dos Anjos - Boca do Mato
Cachoeiras de Macacu RJ
Inverno de 2010
 
 
Professor João Beauclair é Doutorando em Educação (Currículo) pela PUC Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Doutorando em Intervenção Psicossocioeducativa pela Universidade de Vigo, Ourense, Galícia, Espanha. Pesquisador do GEPI Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares (PUC-SP) e do NEPPED Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia Diferencial (UFAM Universidade Federal do Amazonas). Docente de Pós-Graduação, Assessor Educacional, Palestrante e Conferencista Internacional sobre temas motivacionais, organizacionais, educacionais e psicopedagógicos. Autor de diversos artigos e livros, entre eles: “Para Entender Psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros”. Rio de Janeiro: WAK Editora, 2006, (terceira edição, 2009), “Dinâmica de grupos: MOP Metodologia de Oficinas Psicossocioeducativas”. Editora WAK, Rio de Janeiro, 2009 e “Incluir, um verbo/ação necessário à inclusão: pressupostos psicopedagógicos”. Pulso Editorial, São José dos Campos, São Paulo, 2007”. Site pessoal: http://www.profjoaobeauclair.net e-mail joaobeauclair@yahoo.com.br    Curriculum Lattes disponível em http://lattes.cnpq.br/3331453713583083