Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado

SILVA, Ana Beatriz Barbosa. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Rio de Janeiro, Objetiva,2008.

A instigante fábula “O sapo e o escorpião” é a introdução de Mentes perigosas descrito pela novelista Glória Perez como um livro perturbador. A narrativa conta que certa vez um escorpião que não sabia nadar se aproximou de um sapo e pediu a sua ajuda para atravessar o rio. Temendo o escorpião por causa do seu veneno o anfíbio recusou-se a ajudá-lo, mas o escorpião sabiamente argumentou que não podia fazer nada contra ele, pois senão os dois morriam afogados, diante de tal idéia, o sapo cedeu. Ao final da travessia o peçonhento aracnídeo cravou o seu ferrão no sapo e este logo começou a fundar. Sem entender o porquê de tamanha traição o escorpião disse-lhe “esta é a minha natureza”.

“Mentes perigosas” traz à tona uma ordem de indivíduos desprovida da capacidade de amar, sentir remorso ou culpa por alguma dor ou dano que tenha causado a alguém, por isso assemelha-se ao personagem da fábula. Obviamente a comparação é inversa já que este gênero textual utiliza-se do comportamento humano como matéria-prima.

Os psicopatas ou ainda seres desprovidos de consciência são pessoas frias, traiçoeiros, egocêntricas e manipuladoras. Segundo a autora do livro a consciência pode ser considerada o “sexto sentido” que nos habilita a ter bons sentimentos como: compaixão, empatia, sensibilidade para compartilhar a dor alheia e principalmente amor.

Ana Beatriz Barbosa, médica graduada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-graduada em psiquiatria, divide sua obra em treze capítulos e discorre de maneira muito eficiente as características dos chamados psicopatas, assim tal livro torna-se um manual que instrui seus leitores permitindo que estes estejam aptos para detectar com certo discernimento estas criaturas que estão a solta infiltrados nas mais diversas esferas sociais e fogem do padrão que costumamos atribuir a eles. Ao contrário do que muitos pensam os psicopatas não possuem um perfil estético ou comportamental fácil de ser percebido.

Eles, quase sempre, se parecem com pessoas comuns quando não estão agindo. A maioria possui um sorriso cativante e boa fluência verbal, são atenciosos, atraentes e fazem de tudo para ganhar a confiança das suas futuras vítimas. É importante salientar que os psicopatas não são só assassinos, estes estão em um grau elevado. No entanto golpistas, estelionatários, pedófilos, estupradores, seqüestradores, tiranos, corruptos, entre muitos outros se enquadram no rol de donos de mentes perigosas.

No decorrer do livro há inúmeras dicas que ajudam na identificação dos chamados psicopatas entre elas destacam-se os seguintes comportamentos: mentiras freqüentes; frieza emocional; impulsividade e irresponsabilidade; violação às regras sociais; falta de constrangimento; eloqüência superficial, etc.

Umas das qualidades mais marcantes nos psicopatas é a capacidade de planejar seus atos. Eles são mentores calculistas de seus passos e diferem das pessoas que cometem algum ato ilícito por impulso ou porque estão sob forte pressão emocional e recebem uma alta carga de adrenalina. Ana Beatriz cita um exemplo desta reação não página 39 e a distingue de um ato psicopata. Ao longo do livro a autora explicita variados tipos de situações reais para servir de exemplo para as diversas faces do tema abordado.

“Foi manchete nos jornais” é o título do capitulo 7 e como o próprio nome sugere trata de episódios que ganharam grande repercussão na imprensa nacional, ora por ser hediondo, ora por se tratar de alguém famoso ou por ambos os motivos. Ao todo são sete casos descritos pela autora fruto de pesquisas em jornais escritos e televisivos, internet e revistas. Alguns são mais recentes e ainda estão acesos em nossas mentes como o caso de Suzane Von Richthofen e os irmãos Cravinhos. Um em especial ganhou maior ênfase e foi abordado com mais detalhes: o assassinato de Daniela Perez. Neste caso Ana Beatriz analisou mais a fundo as reações do assassino Guilherme de Pádua e outros aspectos que envolveram o crime.

Mas, e quando os psicopatas são crianças? Como associar tal anormalidade a seres tidos como inocentes e/ou inofensivos? Tais indagações estão presentes no capítulo 9 “Menores perigosos demais” e nele há muitas questões polêmicas que merecem um campo de discussão mais amplo que um mero capítulo de quatro páginas. Especulações como a maioridade penal aqui no Brasil e outros países servem de base para abrir um debate rodeado de dilemas a respeito de se responsabilizar um menor pelos seus atos. Alerta-se também que o uso do termo psicopata não é adequado aos menores de 18 anos, sendo assim os jovens que têm uma personalidade problemática devem receber o diagnostico de Transtorno da Conduta.

Apesar do mal que estas mentes perigosas nos trazem eles são considerados minorias. 96% da população mundial são pessoas consideradas possuidoras de comportamentos pró-social, sendo que os 4% restantes possuem transtorno da personalidade anti-social ou psicopatia. Estes números são trazidos pela autora embasados na classificação americana de transtornos mentais (DSM-IV-TR).

Nos últimos capítulos do livro a autora fala ainda que não há tratamento para os psicopatas e que o melhor a ser feito é ajudar as suas vítimas no processo de recuperação dos seus traumas.

Logo estamos vulneráveis a esta espécie sub-humana que nos rodeia como predadores e vampiros e, não raras vezes, passam despercebidos aos nossos olhos só sendo desmascarados quando atacam e deixam rastros de sofrimento na nossas trajetórias de vida ou de alguém próximo a nós.

Por isso a leitura cuidadosa deste livro é recomendada a todos os públicos, pois possue uma linguagem acessível e bastante elucidativa.

Carla Mari
Enviado por Carla Mari em 22/07/2010
Reeditado em 24/07/2010
Código do texto: T2393517
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