Noturno

Guillermo Del Toro pode ser considerado um dos grandes diretores de cinema da atualidade, sempre visionário em seus projetos, como “Hellboy” e “O Labirinto do Fauno” – este último ganhador de três Oscar’s. Grande entusiasta do gênero de fantasia, Del Toro decidiu investir em uma empreitada diferente de seu ramo de trabalho: a literatura.

Junto de Chuck Hogan, autor de “O impasse”, Del Toro escreveu “Noturno” (‘The Strain’), que é o primeiro volume da intitulada “Trilogia da escuridão” (The Strain Trilogy). A história passa-se quase totalmente nos dias de hoje, e trata de um tema que tem se tornado quase banal na literatura e nos cinemas... Sim, é sobre Vampiros.

Idealizado por Guillermo Del Toro antes mesmo da publicação da famosa “saga” Crepúsculo, Noturno é o oposto de doce ou romântico, apresentando os vampiros de forma moderna, mas sem modificar muito extintos clássicos dessas criaturas seculares. Mas o que aparentava ser um ótimo livro, o que era a esperança da devolução da dignidade vampírica nessa última década, acabou se tornando uma verdadeira decepção.

Na trama, um avião Boeing vindo de Berlim pousa no aeroporto JFK em Nova York e imediatamente sofre um blackout. As janelas se fecham, as luzes se apagam e a comunicação com o avião é perdida. Temendo um possível ataque biológico, o centro de controle de doenças é chamado, e o chefe do Projeto Canário - Dr. Ephraim Goodweather - entra em ação, e lá dentro ele se depara com uma horrível situação... O que vem em seguida é uma verdadeira corrida para impedir que uma pandemia vampírica se espalhe por Nova York.

Uma coisa que deve ser ressaltada em Noturno, é a forma bastante cinematográfica com que a história é narrada. Em todo o livro as cenas parecem terem sido pensadas quase como um roteiro, transportando para as linhas recursos de ação muito comuns no cinema.

As cenas que envolvem o avião morto são sem dúvidas as melhores de toda a obra. Narradas com uma grande riqueza de detalhes, envolvendo até mesmo aspectos técnicos das aéronaves e parâmetros de voo utilizados nos aeroportos, esses trechos geram grande suspense e curiosidade para quem lê. Logo em seguida vem também a tentativa de explicar científicamente tudo o que está ocorrendo, e novamente o livro expõe curiosidades muito interessantes e é eficaz naquilo que propõe.

O vampírismo é apresentado como resultado da ação de um vírus, que se instala no organismo através de um parasita sanguíneo introduzido pelo vampiro em sua presa. Nisso lembram muito os vampiros descritos por Richard Matheson, no seu livro “Eu Sou a Lenda” de 1954, que lembram um pouco zumbis, mas possuem várias características básicas de um vampiro.

Tudo caminha relativamente bem em Noturno, até que na segunda metade o livro se torna arrastado e cansativo. Depois que grande parte dos mistérios e motivações são revelados, a trama se resume básicamente a uma inútil caçada ao tesouro.

Outros pontos negativos são as excessivas explicações que desfocam da trama, como um sub-capítulo totalmente voltado a ‘ocultação’, nome correto daquilo que conhecemos como eclipse. Temos também alguns clichês familiares como o irmão malvado e o irmão bonzinho, e o pai separado que larga o filho para atender ao seu trabalho. Mas esses clichês não chegam a afetar tanto a narrativa.

Perto do final o livro volta a tomar um pouco de fôlego, e apresenta um epílogo bem instigante. Mas aí já é um pouco tarde e tudo que o livro havia conquistado junto ao leitor no início, se esvai num mar de decepções.

Noturno teve a chance de morder sua fatia e agitar esse mercado editorial vampírico, mas infelizmente parece que não conseguiu afiar seus caninos o suficiente.

Jean Carlos Bris
Enviado por Jean Carlos Bris em 17/07/2010
Reeditado em 18/07/2010
Código do texto: T2383373
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