Elogio da Loucura de Erasmo de Rotterdam

ROTTERDAM, Erasmo de. Elogio da loucura; Tradução de Paulo Neves. Porto Alegre:L&PM,2006.144p.

Tecido de maneira louvável e surpreendente pelo teólogo e humanista Erasmo de Rotterdam no século XVI o libelo Elogio da Loucura, traz em seu título a intrigante idéia de elogiar algo sempre tão depreciado no meio social a “Loucura”. Propositalmente grafada com a inicial maiúscula, Rotterdam demonstra como tal substantivo comum torna-se próprio e personificando-a ao dar-lhe voz em 1ª pessoa durante toda a narrativa.

Fazendo jus ao que se conhece sobre a loucura no senso comum e sobre o efeito desta na vida humana, em sua autodescrição ela enumera de forma satírica, ora irônica suas principais qualidades, bem como cita suas aliadas mais eficientes: a Demência e o Esquecimento.

Segundo a Loucura algumas experiências humanas só são possíveis de serem vividas graças a ela, tais como: o casamento; a amizade; a maternidade, etc. Se não fosse a loucura qual homem se sujeitaria ao matrimônio? E qual mulher se renderia aos incômodos da gravidez se fosse racional e não louca? E sem o auxílio do esquecimento como repetiria este feito?

Já s relações de amizades também não durariam, não seria possível amar os defeitos alheios e suportar os seus vícios.

Concomitante ao que foi dito deve-se também a nossa protagonista as melhores fases da vida a infância e a juventude. A primeira é tida como a melhor de todas as épocas, período em que as crianças desfrutam da vida sem preocupações, inebriadas pela loucura.

Já na adolescência a Loucura só proporciona prazeres e afasta dos jovens a sensatez e a sabedoria que só lhes cabe na fase adulta. Por fim, na velhice ela também predomina, pois como seria possível envelhecer completamente sóbrio? Os velhos são muito semelhantes às crianças, ambos possuem poucos dentes e cabelos, gostam de leite e de tagarelar, assim os homens deixam o mundo de modo similar a sua chegada.

A Loucura no desenrolar da sua história também fala a respeito das personas que não bebem da sua água e, por isso são amarguradas, tristes. Ela cita os estudiosos que se dedicam à filosofia, os filósofos severos, os sábios que “quanto mais se aproximam da sabedoria se distanciam da felicidade”, os gramáticos arrogantes, enfim os eruditos em demasia. Em contrapartida, estão entre os mais loucos os apaixonado, os bobos, os poetas, comediantes, artistas em geral.

Logo, pode-se perceber através deste relato que o reflexo da loucura está em diversos aspectos da nossa vida e que graças a ela somos mais felizes, mais descontraídos, mais leves e que na ausência dela prevalece sempre a racionalidade extinta de emoções, a sobriedade desmedida e uma série de problemas que só se dissolvem com o delicioso tempero da Loucura.

Recomenda-se então este livro para todos loucos e loucas que vivem no século XXI e para os que virão, que esta temática mantenha-se sempre atual e que perdure para que muitos ainda tenham a oportunidade de aprecia-la.

Carla Mari
Enviado por Carla Mari em 16/07/2010
Reeditado em 24/07/2010
Código do texto: T2381753
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