O anticristo
Livro: “O Anticristo” de Friedrich Nietzsche. São Paulo: Martin Claret, 2004.
O autor faz neste livro uma crítica avassaladora ao cristianismo. Repudia todos os que se dizem cristãos, teólogos, sacerdotes, padres, pastores e moralistas em geral. Estes se consideram, assim como os judeus, o “povo eleito”. Se julgam “almas puras” que pairam sobre todo o resto imundo. Querem endireitar, moralizar, consertar o que vêem de errado no mundo como se fossem os escolhidos e os mais competentes para tal tarefa. Fazem isso por recompensa, pelo dízimo.
Segundo o autor, o cristianismo apoia-se em mentiras, em ilusões como “espírito santo”, “pecado”, “reino dos céus” e “fé”. É preciso viver no sofrimento para merecer o regozijo da “eterna vida” após a morte. O cristianismo nega a vida, a natureza. Nietzsche diz que o cristianismo é destrutivo, niilista e anarquista. Uma religião composta por pessoas ressentidas, cheias de ódio e sentimento de vingança. Apenas pessoas cheias de ódio é que precisam apoiar-se em um Deus que é puro amor, um Deus exterior a elas. Seu maior inimigo: a ciência. É preciso não conhecer coisa alguma, apenas se submeter e cumprir os deveres universais. Falsas morais – na verdade, o que se busca é o poder.
Afinal, o que Nietzsche considera bom? A vontade de potência, o poder (e é exatamente isso que o cristianismo busca, porém, de forma dissimulada, apoiado em ilusões e mentiras). E o que é mau? A fraqueza. O cristianismo precisa que as pessoas sofram, sejam fracas e doentes pois assim os sacerdotes se fazem necessários e o poder que podem exercer sobre elas é maior. As pessoas não podem querer conhecer, sentir estímulo ou curiosidade para saber algo. Para tanto, elas devem estar atordoadas e com seus espíritos aniquilados, sem vontade e entusiasmo para as ciências e as artes.
O autor diferencia Cristo de cristianismo. Cristo foi o único cristão, o verdadeiro Evangelho. Mas este morreu na cruz. O grande responsável pela institucionalização de Cristo sob o nome de cristianismo foi Paulo. Foi como se, enfim, Cristo tivesse sido derrotado na sua luta contra as hierarquias e instituições do judaísmo: o cristianismo tornou-se exatamente aquilo contra o qual Cristo sempre lutou.
A nobre moral: a força, o entusiasmo, o querer, a beleza, o conhecer.
A falsa moral: “o melhor meio para conduzir a humanidade pelo cabresto – eis a moral!”. A moral pregada como “Dever Universal”.
“Haverá por acaso algo que destrua alguém mais rapidamente do que trabalhar, pensar, sentir, sem uma necessidade interior, sem uma escolha profundamente pessoal, sem prazer, como autômato do ‘dever’? Eis precisamente a receita da décadence, da própria imbecilidade...”
Julho de 2004