O Livro de Urântia
Como digo sempre, sou um “neo-discípulo de Tomé”. E o que significa isso? Significa que, depois das dúvidas do mais desconfiado discípulo de Jesus Cristo, depois de toda formação religiosa e intelectual pela qual passei e de tudo o que a Vida até aqui me proporcionou experimentar, nestes novos mundos de virtualidades onde vivemos nem mesmo vendo estou convicto de que devo acreditar.
Nunca fui propenso a crendices. Para considerar o valor real de uma afirmação sobre as origens de vidas, então, primeiro preciso investigar tudo do ponto de vista artístico-racional – uma vez que compreendi o valor do intelecto, da imaginação e do desenvolvimento técnico a objetivações de idéias nos processos de construção de realidades históricas. Porque, de fato, fora a realidade de nossos corpos e dos muitos universos existentes, tudo o que vivemos no cotidiano, de noções de tempo, formação de personalidades, culturas e suas muitas formas de proporcionar-nos expressar sentimentos, são objetivos e objetos das artes.
Mas, nos campos da Física, como já disseram sábios orientais, neurologistas e os mais renomados astrofísicos quânticos, tudo o que você acredita ser no cotidiano nada é além dos resultados de processos de condensações vibracionais de impulsos luminosos essenciais e da ação da imaginação, concomitante com outras reações vitais fisiológicas que geram sensações, memórias e associações de idéias a valorações do que, aquém das estrelas, se chamará “real” – sendo tudo resultados do sistema “cosmorgânico” complexo que, como expressão Daquilo que conhecemos como “Deus”, “Vida” e outros nomes, Se gera e Se auto-sustenta, em incontáveis vibrações de Sua luminosidade, às infinitas dimensões de sua tendência a iluminar o escuro espaço-tempo universal a gerar de novos seres a descobertas conscientes de Seus próprios atributos e, em consequência, de novas possíveis e mais perfeitas gerências de Si mesma.
Fui longe, não? Mas com toda essa prolixidade quero dizer que foi meu gosto pelas artes, a tendência de considerar o valor artístico de certas revelações que me motivou a participar do lançamento de uma verdadeira obra prima da Criação artística: “O Livro de Urântia”. E escrevo o termo “Criação” com C maiúsculo para referendar a fonte de onde, como tudo e todos nós, toda invenção de sua história proveio – uma vez que, como a maioria dos livros considerados “sagrados”, ele foi escrito por um grupo de seres considerados “supra-humanos”. Nada demais, como pensarão adeptos do ceticismo, se considerada a qualidade das informações que seus escritores nos legaram e os interesses que os motivaram desenvolvê-lo; quais sejam: assuntos de ordem celestial, assuntos que não dizem respeito a questões sobre a quanto anda o índice de crescimento econômico do planeta, por exemplo, ou sobre quem vencerá as próximas eleições para governadores. As questões do Livro de Urântia dizem respeito a fazer lembrar àqueles capazes de compreender que, de fato, no meio de toda a superficialidade que aprenderam sobre si mesmos, são produtos de algo mais além do que dizem ser seus registros de nascimentos ou seus títulos de eleitores.
Uso o termo “invenção” no parágrafo acima para dizer, mais uma vez, da qualidade artística do livro, não para depreciar a crença daqueles que acreditam que as informações que ele contém sejam as mais puras expressões da Verdade sobre a origem e finalidade de tudo o que existe ou, pra começar, da origem e finalidade dos universos que circulam o sistema solar onde, sobre Urântia – nome original do planeta que nossos ancestrais batizaram de “Terra” – nossos primeiros pais e mães foram instalados a colaborações no desenvolvimento da Criação.
Como a maioria, fui criado sob princípios cristãos, mas depois que foi se desenvolvendo minhas capacidades intelectuais e minha curiosidade sobre como Deus Se manifestara em outras culturas, comecei a discutir com minha mãe e meus irmãos na tarefa de admoestá-los ao bom senso; não para dizer que eles estavam se denunciando idiotas com suas crenças, mas para desenvolvê-los ao bom entendimento de certas importantes metáforas jesuínas – a despeito de que houvesse sempre a citação da defesa bíblica sobre a necessidade de nossas submissões à fé a boa aceitação de toda Verdade revelada naquele livro sagrado.
Entre leituras e discussões com minha mãe, porém, que se pensava suficientemente crente, ela me revelou perceber a contradição dita no Gênesis sobre ser toda humanidade constituída por “filhos de Adão e Eva” e a história de que Caim casara-se com outra mulher que não era sua irmã, membro de outra tribo que vivia para além do “Paraíso”.
Assim questionando, ela terminava por reconhecer que tal casal não era afinal tão primordial assim, como dissera o autor do Gênesis – sem saber que, em outros livros, eu havia lido sobre as razões simbólicas pelas quais se deveria considerar Adão e Eva o primeiro casal humano “descendente direto de Deus”, o que poderei comentar em outro texto.
Mas, entre as revelações sobre a verdadeira origem e função de Adão, entre outras, a narrativa do Livro de Urântia garantiu a organização de expedições que, segundo seus apresentadores – com os quais nos reunimos no dia do lançamento do livro num centro cultural aqui na cidade de João Pessoa, PB – investigaram e descobriram não apenas a localização exata dos altos muros que separavam o jardim do Éden do resto do mundo como, também, espécies de âncoras, feitas de pedras circulares com um furo no meio – como o formato de certas moedas orientais – encontradas numa região do fundo do mar onde antes habitavam os povos da submersa Atlântida.
Segundo o site http://www.urantia.org/pt/o-livro-de-urantia/pagina-preliminar, que referenda “O Livro de Urântia”, ele “é uma tradução do The Urantia Book, uma obra que a Fundação Urântia publicou em inglês em 1955. Esta é a primeira impressão desta tradução. A Fundação Urântia acredita que O Livro de Urântia é basicamente uma cuidadosa interpretação do conteúdo do texto em inglês, o qual deve ser consultado em caso de qualquer dúvida”.
Uma curiosidade: além de ser o produto de uma 5ª Revelação, escrita numa linguagem adaptada aos nossos tempos modernos, ao contrário dos escritos bíblicos – dos quais não se podem retirar ou acrescentar uma única vírgula – a despeito de se ter considerado seus autores “supra-humanos”, tal tradução, “como qualquer outra do The Urantia Book, é produto do esforço humano evolucionário e é, portanto, imperfeita. O processo de aperfeiçoamento contínuo leva a revisões e correções; voluntários estão buscando meios de tornar o texto mais claro e ainda mais exato. A Fundação Urântia levará em conta as recomendações deles quando publicar uma edição subsequente de O Livro de Urântia”.
No trecho de apresentação do livro pescado na Internet, lê-se: “O verdadeiro significado do mandamento divino é este: ‘Sede perfeitos, assim como Eu sou perfeito’; é o que impulsiona constantemente o homem mortal a ir adiante e o atrai para o interior de si próprio, na sua labuta longa e fascinante para alcançar níveis cada vez mais elevados de valores espirituais e de significados verdadeiros do universo. Essa busca sublime, pelo Deus dos universos, é a aventura suprema dos habitantes de todos os mundos do tempo e do espaço”.
Mais adiante, depois de explicar que somente consideramos Deus um “pai” por influências culturais de nossas noções familiares, o texto descreve Deus, Seus poderes e dependências:
“Em teoria”, conta, “vós podeis pensar em Deus como o Criador, pois Ele é o criador pessoal do Paraíso e do universo central da perfeição; mas os universos do tempo e do espaço foram todos criados e organizados pelo corpo do Paraíso de Filhos Criadores. O Pai Universal não é o criador pessoal do universo local de Nébadon; o universo, no qual vós viveis, é criação do Seu Filho Michael. Ainda que o Pai não haja pessoalmente criado os universos evolucionários, Ele os controla, por meio de muitas das suas relações universais e por meio de algumas das suas manifestações de energias físicas, mentais e espirituais. Deus, o Pai, é o Criador pessoal do universo do Paraíso e, em associação com o Filho Eterno, é o Criador de todos os outros criadores pessoais de universos”.
Além de considerá-lo uma densa obra de Arte, creio que “O Livro de Urântia” não é apenas um produto exemplar de muitos exercícios da imaginação e da boa vontade. Ele serve para aproximar outras mentes, mais imaginativas e exigentes, das descobertas da grande Verdade também contida em certas fantasias da Bíblia – já que seus seguidores são essencialmente cristãos – como em outros livros-revelações espalhados pelo tempo e pelo espaço onde viveram seus muitos autores.