As metáforas educacionais
Texto: “As Metáforas Educacionais”, do livro “A Linguagem da Educação” de Israel Scheffler. São Paulo, Saraiva: 1974.
Neste texto o autor faz uma análise sobre as metáforas focando três exemplos utilizadas no âmbito educacional e, ainda, introduz uma nova. O mesmo conceito de metáfora aqui estudado é essencialmente o mesmo já tratado por Bruner e Machado, como ferramenta pedagógica importante que facilita a compreensão e ilustra determinado conceito, teoria ou idéia. Segundo Scheffler, “as metáforas, normalmente, não têm a intenção de exprimir a significação de termos utilizados, quer segundo a maneira padrão, quer segundo modos estipulados. Ao contrário, eles indicam aquilo que se pensa serem paralelos significativos, analogias e similaridades existentes no interior do tema do próprio discurso”. Salienta ainda a mesma preocupação de Bruner quanto a sua natureza delicada, afirmando que “a linha divisória entre a teoria séria e a metáfora, mesmo em ciência, é bastante tênue – se é que pode sequer ser traçada”. Há ainda duas críticas passíveis às metáforas, podendo elas serem triviais demais e sem relevância significativa, e com limites estreitos.
Três metáforas que encontramos habitualmente nos discursos educacionais:
Metáfora do crescimento: faz uma analogia entre o professor e o jardineiro, entre o aluno e a planta. Esta metáfora transmite a idéia de que o aluno sendo “cultivado” com os devidos cuidados e respeitando-se sua natureza própria, cresce e desenvolve-se de maneira apropriada. É uma metáfora modesta pois assume que o aluno pode crescer também sem o professor, sendo que este pode apenas dar um suporte ao seu crescimento. Esta metáfora peca na questão da escolha das aptidões a serem desenvolvidas pelo aluno. Se uma planta desenvolve-se por si só segundo duas próprias leis biológicas, o mesmo não ocorre com o aluno quanto a suas aptidões. É preciso direcionar a energia temperamental do aluno estabelecendo certas prioridades.
Metáfora da moldagem: esta é quase uma antítese da metáfora do crescimento. Considera ao aluno como uma “massa” homogênea, onde a escolha do melhor molde para sua formação é de fundamental importância. Fica patente a falha desta metáfora uma vez que não considerada a heterogeneidade e complexidade dos alunos enquanto seres humanos, de forma que esta moldagem unidirecional não se ajusta ao seu desenvolvimento biológico-temperamental.
Metáfora da arte: o professor é colocada como escultor e os alunos como mármores a serem esculpidas. A estátua não brota por si só da pedra, precisa ser trabalhada levando em consideração as suas particularidades internas. Estas não aceitam todos os entalhes, sendo, portanto, não receptíveis a qualquer molde que lhes são impostos. O artista também aprende com cada escultura e cada uma delas resulta em diferentes estátuas, numa formação heterogênea. Mas, assim como as outras metáforas, esta também possui falhas: a estátua quando abandonada pelo escultor deixa de crescer, ou seja, vira literalmente uma estátua.
Scheffler conclui que por mais elaboradas que sejam as metáforas, elas nunca conseguirão representar uma imagem ideal do que quer que seja sem trazer alguns pontos obscuros.
Finalizando o texto, o autor discute a questão da continuidade cultural e o papel da educação, utilizando o que ele chama de metáfora orgânica. Comparando um sistema biológico ao universo cultural, ele tece analogias abordando algumas questões. Qual é o papel da educação na continuidade cultural? O que exatamente deve ser mantido e o que deve ser transformado? Quem determina tais critérios? Não existe uma noção clara (assim como nos existe nos organismo biológicos quanto a reposição celular) sobre o que deve permanecer ou não. O autor aponta o risco de se rotular como educação o processo de opressão, fraude, distorção, doutrinação e ameaça, mediante as quais se obtém a submissão política e intelectual. Isso não acontece, porém, se refletirmos sobre a noção de ensino. “Ensinar, no seu sentido padrão, significa submeter-se, pelo menos em alguns pontos, à compreensão e ao juízo independente do aluno, à sua exigência de razões e ao seu senso a respeito daquilo que constitui uma explicação adequada. [...] Ensinar envolve, além disso, que, se tentarmos fazer com que o estudante acredite que as coisas são deste ou daquele modo, tentemos, ao mesmo tempo, fazer com que ele o creia, por razões que, dentro dos limites da sua capacidade de apreensão, são nossas razões. Ensinar, assim, exige de nós que revelemos as nossas razões ao estudante e, ao fazê-lo, que as submetemos à sua avaliação e à sua crítica”.
Idéias: a metáfora do Bonsai combina as características da metáfora do crescimento e a metáfora da arte. O Bonsai é uma planta que necessita ser cuidadosamente cultiva ao mesmo tempo que é podada a fim de se buscar a mesma estética buscada pelo artista. É um organismo vivo e como tal não interrompe seu crescimento após o artista abandoná-la.
Reflexão: não há em nenhuma das metáforas apresentadas uma reciprocidade professor-aluno significativa. Assim como o jardineiro, o modelador e o escultor, a ação é essencialmente unidirecional, vertical, onde o professor encontra-se em um tablado e o aluno ocupando uma posição quase que exclusivamente receptora. Mas a definição de formação continuada abarca a idéia de um aprendizado contínuo por parte do professor e considera a sala de aula também um lugar onde o professor aprende, sendo o aprendizado então sempre mútuo e as transformações bidirecionais.
Outubro de 2004