O LIVRO DE SALADINO - TARIQ ALI

“Estou dizendo apenas que somos criaturas que têm um destino e nossas vidas dependem da época em que vivemos. Nossas biografias são escritas pelos fatos.”

Um livro repleto de personagens históricos. A vida do chefe militar de origem curda, Salah al Din ibn Ayub, conhecido no ocidente como Saladino, é contada a par dos acontecimentos históricos que culminaram na tomada de Jerusalém em 2 de outubro de 1187, após uma longa ocupação pelos cristãos.

Sua habilidade diplomática conjugada com o uso estratégico da força imortalizou o gênio militar na história do islamismo e o consagrou como o herói de um ciclo de lendas que percorreram todo o Oriente Médio e o Ocidente.

Sua devoção à causa da jihad era inabalável e alicerçou o objetivo de reconquistar a cidade dominada pelos cristãos. A percepção das divisões entre os muçulmanos e das traições fez com que Saladino, antes de libertar Jerusalém, unificasse a Grande Síria e o Egito, eliminando o sectarismo sunita/xiita e a rivalidade que tanto ajudou os europeus.

“Meu pai tinha me ensinado que dois exércitos, com dois comandos diferentes, jamais poderiam coexistir por muito tempo. Mais cedo ou mais tarde, por Alá, um deles vencerá.”

Nos depoimentos de Saladino encontramos ensinamentos profundos que desnudam o homem, as políticas e as religiões.

“Tudo isso me ensina que os homens só lutam por uma causa maior que seus próprios interesses quando estão convencidos de que ela trará benefícios para todos.”

O personagem judeu, o grande médico-filósofo Maimônides (Ibn Maimum), retratado no momento em que escrevia o Guia dos Perplexos é fundamental para compreender o período das cruzadas, a valorização dos filósofos e escribas, o valor de uma biblioteca e a união entre judeus e muçulmanos durante as cruzadas, principalmente depois da bárbara chacina dos habitantes muçulmanos e judeus, perpetrada pelos cristãos, em 1099, na conquista de Jerusalém.

Ao contrário das barbáries cometidas pelos cavaleiros fanatizados pela Igreja Medieval, Saladino marcou a vitória muçulmana com um comportamento civilizado e cortês. Com rara sensibilidade, soube angariar o respeito e a afeição do seu povo com hábitos simples, sem a ostentação característica de muitos sultões.

“Para merecer o respeito do povo, e em particular de nossos soldados, aprendi que devemos nos acostumar a comer e a nos vestir como eles. Nós fazemos as leis, Farruk Xá. Devemos segui-las e dar o exemplo... Nunca esqueça que um homem é aquilo que faz.”

Tariq Ali nos presenteia com a história enredada numa ficção envolvente, marcada com fortes personagens, como o narrador Ibn Yakub, responsável por escrever as memórias de Saladino, o ancião Xadi, as mulheres do Sultão, Hamila e Jamila, os eunucos, enfim, todos os preciosos tipos criados pelo escritor que contextualizam a história do grande líder curdo Saladino, o conhecimento do filósofo judeu Maimônides, e trazem à tona a cultura islâmica, seu desenvolvimento e suas fragmentações, com uma perspectiva fiel aos acontecimentos relevantes.

Saladino fundou a dinastia aiúbida, que governou até 1260. Contudo, após a sua morte em 1193, a unidade acabou, seus sucessores aiúbidas discutiam entre si e a Síria partiu-se em pequenas dinastias. Ainda assim, o período aiúbida se consagrou pelas atividades culturais que transformaram o Egito e a Síria em grandes centros de erudição e literatura árabe.

Helena Sut
Enviado por Helena Sut em 04/09/2006
Código do texto: T232795