Meninas Bonitas Não São Para Casar - por José Cláudio Adão

O livro surpreende o leitor em todos os aspectos. O título Meninas Bonitas Não São Para Casar, não é um axioma como pode parecer à primeira vista, mesmo sendo o autor, uma autora jovem. Também não é um compêndio de lições de moral, mesmo sendo ambientado nos anos 50 do século passado quando as meninas eram todas para casar, sendo ou não bonitas. E podem também ir se desiludindo aqueles ou aquelas que acham que se trata de uma lista de aconselhamento para as meninas bonitas. Nada disso. No entanto, qual a surpresa? Essa eu deixo para ser satisfeita por cada um. O que e tenho a dizer é que desde a primeira até a última página desse livro, a autora tem algo a dizer nesse momento em que estamos numa crise sem precedentes no mundo da criação em geral. Ela tem muito a dizer sobre idiossincrasias humanas, sobre o cotidiano das cidades, sobre história recente do nosso país, sobre as mais comezinhas e mais presentes emoções que nos guiam e também as mais profundas e belas reflexões filosóficas e psicológicas dos personagens, cada um esmiuçado escancaradamente para o leitor se identificar ou não, amar ou odiar.

É uma história de amores e tragédias, de carreiras e de golpes que entre sucessos e fracassos compõem a nossa cena comum, às vezes invejável do ponto de vista pessoal, íntimo, às vezes execrável e odiável do ponto de vista ético. O que posso dizer é que a autora Geyme Lechner é uma escritora de todos os tempos. Apesar da pouca idade (ela é bem jovem) parece que isso não lhe impõe nenhuma barreira que possa deixar de alçá-la à galeria dos grandes escritores da literatura. A desenvoltura e firmeza com que conduz as tramas, a não linearidade narrativa, o processo descontínuo e alternado de mostrar cenas e histórias, locais e conjunturas é algo impressionante. Vi essa narrativa alternando suspense e descrições monologais e extração dos dilemas pessoais em Rubem Fonseca, sem querer aqui fazer comparações. Apenas dizer que o talento dela é único e o livro imperdível. São cerca de 400 páginas que gostaríamos que fossem 800 logo no começo. Histórias boas, a gente nunca quer que terminem. Mais não digo. Apenas recomendo.

José Cláudio Adão

Autor de "A vida do bebe - de 40 para frente"

02/06/2010