TODOS OS DIAS SÃO ÚTEIS - J. ESTANISLAU FILHO

Para você, Estanislau, com carinho e atenção, minha simples interpretação sobre a sua grandiosa poesia, que fez de seu livro "Todos os dias são úteis", uma leitura agradabilíssima. Obrigada pela gentil dedicatória e pela gentileza em presentear-me tanto com este livro, como o outro igualmente sensacional "Crônicas do Cotidiano Popular".

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TODOS OS DIAS SÃO ÚTEIS

J. ESTANISLAU desenha em versos, um cenário na natureza, de amor e respeito, por si, pela mulher, pelo próximo, pela humanidade. Passeando livre e conscientemente por todas as estações do ano, sentindo-lhes o propósito e atribuindo-lhes a importância de suas funções na natureza e nos sentimentos que despertam no homem, o autor em perfeita sintonia com os sentimentos do poeta sensível que se revelou, semeiando o amor no verão, floresce junto a natureza na primavera, nos ideais de justiça do homem, frutificando no inverno, para finalmente no outono, colher os frutos em todos os dias, retirando-lhes as sementes e as plantando para as próximas estações da vida. O amor em suas várias vertentes é uma constante em todas as quatro estações (quatro partes do livro), à mulher, à natureza, à humanidade, é fruto das vivências do cotidiano.

SEMEAR, aparece na sua primeira estação, o VERÃO, como um alerta sutil ao homem, para que se irmane à natureza, cachoeira, rio e mar pois em breve o verão e seus danos será tão intenso e não terá pena do homem que não cuida dela. O AMOR, na sua universalidade é a semente da felicidade. E é o amor do homem pela mulher que preenche esta estação, em todas as suas nuances, de carinho, afeto, sensualidade, sedução, erotismo. Os lábios e os olhos da mulher estão presentes em quase todos os poemas, como que representando os principais objetos da sedução. NOS LÁBIOS QUE BEIJEI, de Maria Lúcia, Luíza, Tereza e tantas outras e em cada uma com suas peculiares diferenças, tanto pelos atributos físicos, quanto pelas formas de serem mulheres em sua essência, de se entregarem ao amor, aparece o desejo de fundí-las em uma única mulher, a ideal. ERÓTICA, é o poder da sedução nos lábios de batom, nos olhos e no sorriso e reforçado em DESEJO, pelo andar, pelo coração, os seios, os cabelos, os cílios, como a fantasia que tudo agita e o deixa mudo, como em TUA PRESENÇA. O poder de sedução se estende além da sensualidade de lábios e boca e manifesta-se também nas mãos agéis que produzem habilmente das MULHERES NA LINHA DE MONTAGEM. O olhar, um sorriso de uma mulher que INESPERADAMENTE o espreita, sem mesmo entender-lhe a intenção, ainda assim seduz, tal é a sua força. Na ESCURIDÃO, o brilho dos olhos da amada ilumina o breu da vida e em BEIJO, sonho de amor, doce veneno que o protege das palavras loucas é que se sente seguro e envolto. É em AMOR II, uma dedicatória, que culmina o sumo do amor, cúmplice, amigo, companheiro, tolerante, que se deseja eternizar, tomara! ELA, a musa e enquanto em ESPERO A HORA, a mulher com a beleza e naturalidade da lua e da flor, representam o sentido de fazer amor, que em QUERO se completa e deslancha no desejo louco que dura noite e dia, de sentir a voz, o suor, os seios e o sexo da amada. O homem contempla Deus no topo da SERRA DO CIPÓ, a mulher na sua nudez, assemelhando-a à beleza da natureza e de todos os seus milagres, as cachoeiras, flores, relâmpagos, trovão, chuva, sol, lua, estrelas, nuvens. E é com a mesma intensidade das forças da natureza que deseja a mulher inteira e sem pudor, seduzindo-o pelo olhos, boca, corpo, como se estes fossem todo o ENIGMA que o deixam ébrio e cego, a própria SEDUÇÃO. A constatação de que tudo que quer é esta mulher, musa de seus desejos, inteira, sabor, cor e cheiro, o PRAZER dos sentidos, nesta “ave de múltiplas cores” pousada em seus ombros.

FLORESCER, é a mais pura exaltação da PRIMAVERA, que chega em todo seu esplendor, reverenciada como menina que recebe todas as flores, aromas e cores. O autor revisita o passado em BAKUNIN, seus medos, os riscos que correu, as peraltices, a luta pela sobrevivência, de coração aberto por onde deixou entrar naturalmente o amor e sem nenhuma permissão, entraram também o clamor dos ideais, ao que ele chama de owi’s, tornando-se um visionário e para os outros um louco. Começa a escrever para não morrer e sendo rejeitado, contraditoriamente, encontra ânimo para prosseguir. Os seus ideais de justiça aparecem em MARIA, a imagem da mulher lutadora, guerreira, que não desiste e insiste em seus sonhos. PEDRO é a imagem do homem trabalhador que sai às ruas, à luta, todos os dias e que num pressentimento percebe um dia que mudaram os ares da rua, era a violência instalada. O CORAÇÃO SE PERDEU, desgovernou-se entre a razão e o sentimento, entre lágrimas e sorrisos, pois dele não se conhece o rumo, contraria os sentidos e flui para lados inconcebíveis. NAPOLEÃO representa a figura da mãe que ampara, ignorando os defeitos dos filhos e também representa o respeito dos filhos pelas mães, mesmo que eles sejam crápulas. Contemplando o MISTÉRIO do mundo, em toda a sua beleza que traz serenidade ao homem e que o próprio homem tenta desvendar e desafiar pelo conhecimento, sem contudo cogitar que o mundo é muito mais que as criações do homem. A descrença da humanidade nas soluções humanas e práticas para os problemas sociais, a saúde precária, o desemprego, a fome, realidade nua e crua que vem à tona, NOITE E DIA. O milagre da natureza que renasce em meio onde se julgava extinta a vida, é a esperança que desponta em MARAVILHA. Há uma voz que ecoa do pecado da ira em PENSAMENTOS IMPERFEITOS, que atira pedras, mas que são peneiradas pela suavidade do coração, que as antepara, seleciona, deixa escoar aquelas que ferem e guarda aquelas preciosas no pensamento. Uma LUZ que entra pelas frestas do muro, que se fez barreira, quando tudo parece escuro, sem sentido, é descoberta pelo homem. A conscientização sobre a estupidez humana, que agride a natureza, e sofre as suas represálias, como o EFEITO ESTUFA e novamente em um desabafo do poeta consternado e comovido, dedicado ao poeta Drumond, O POETA E A PAISAGEM, mostra a natureza desprotegida, carente da compreensão do homem, implora que não a crucifique. O POEMA CONCRETO mostra a capacidade do poeta em construir poemas sobre todas as coisas, se ele é capaz de sentí-las. E com esta certeza é que , QUERO POESIA SIMPLES, é a pura sensibilidade de quem está atento às vozes da natureza, aos fenômenos inexplicáveis, à inocência de uma criança, coisas simples, pela naturalidade que se apresentam. O CONSERTADOR DE GUARDA CHUVAS é o retrato da miséria humana, entorpecida pelo álcool ou pela loucura, mas que ainda assim luta pela sobrevivência e quem vê de fora com olhos insensíveis, não consegue enxergar o esforço ali contido. Na PALAVRA o poder de ferir, conciliar, lembrar, omitir, arriscar, falar, calar, apavorar, sorrir, ignorar, irritar e consolar. NÃO VIESTE BUSCAR AS FLORES QUE COLHI, num claro desabafo de decepção e em QUIMERA a clara alusão do que é concreto e que desejamos ter e não podemos alcançar, é ilusão. Se desfrutarmos apenas do que podemos ver, deixa de ser ilusão. ASSIM TALVEZ, a descrença de um povo humilhado que não vislumbra mudanças no rítmo de vida louco, pela sobrevivência. Em CLICHÊ DA DESTRUIÇÃO, uma analogia da destruição da história e a da poesia, destruindo-se os lugares que elas habitam, os sonhos, as estantes, os arquivos, a memória, os discos, os jardins, numa tentativa de esquecê-las, para não correr riscos de sofrer. ÀS AVESSAS mostra a mesma rebeldia que pretende mudar a ordem de todas as coisas, para parar o sofrimento. Finalmente o MANIFESTO, um protesto indignado de quem não se subordina à imposições que cerceiam-lhe a liberdade de ser dono do seu próprio ser.

FRUTIFICA no INVERNO a solidão dos dias sem sol que dói no homem. Representando o coração do Brasil, a floresta, o Rio Amazonas, RIO FLORESTA, que sofre as agruras da pesca de rede, a exploração dos madereiros e o desejo sensível de que os elementos da água , os bichos da mata, afugentem quem os destrói. Manisfesta-se em AMOR III o sonho de ver o amor em sua plenitude, a esperança de que ele chegue para a humanidade. O amor que traga a paz, que pratica o perdão, a tolerância, solidariedade, que trazem alegria, energia, saúde, um amor como cura de todos os males. RUAS, GENTE, CHUVA, CANÇÃO, CAZUZA, uma constatação de que o homem urbano nada entende da simplicidade “gente que não entende com quantos paus se faz uma canoa” , gente que entende apenas o que aprendeu das teorias. Indagando o que faz nascer a MÚSICA, se são tão vários os motivos, nasce da dor, da alegria, da natureza, a dureza da vida e confirmando-se as contradições que a fazem bela, em MULHER, que também são várias e únicas e que as torna capazes de cumprir seus papéis de mulheres fortes, jamais objetos. VOCÊ, uma declaração de amor e de valorização de alguém que se torna um porto de sua alegria. O amor declarado em todas as suas diferentes formas nas MÃOS QUE AFAGUEI, da mãe, do pai, da professora, da prostituta, da mulher companheira e até das mãos clandestinas, que simbolizam o quanto é importante um sinal, um gesto de amor de um pai por um filho. Uma ILUSÃO DE ÓPTICA, um homem sem rumo, mas que não perde a esperança no seu ideal e nos fatores que incapacitam o homem, na sua vulnerabilidade, como a SENILIDADE, motivos para abandonar tudo que lhe norteou a vida e que tornaram-se supérfluos diante da nova realidade. E o inverno se fecha com a solidão, a esperança que ela termine e que seja preenchida pelo que sempre esperou, seu PÁSSARO NOTURNO.

COLHER, no OUTONO as castanhas do Pará, o côco do Maranhão e Piauí, visitar os lugares que povoam a sua mente, como, MILHO VERDE, a cidade das montanhas das Minas Gerais, vista com os olhos da imaginação nas sua arquitetura e beleza naturais e com os olhos do coração, que vê a gente simples que a habita. O VIAJANTE, um tempo impiedoso que rouba as lembranças dos lugares, das sensações visitadas, que outrora o fizeram feliz e a procura ansiosa por este tempo de paz, embora saiba que deve procurá-la no presente, talvez EM TODOS OS DIAS SÃO ÚTEIS I e II, pois cada um deles traz consigo algo que nos é essencial e que podemos desfrutar. De segunda à sexta feira, dias de trabalho duro, nos finais de SEMANA, o descanso, no dia dia de consertar a casa, dias de ser feliz. E nos doze MESES, cada sentimento despertado, cada emoção vivenciada, cada mudança que provocam e no clima que se modifica, todas as estações que fazem com que todos os dias sejam úteis para o homem, tão bem captados neste universo do cotidiano.

Receba o meu abraço e parabéns pelo excelente livro.

Belo Horizonte, 28 de maio, de 2010

Celêdian Assis

Celêdian Assis
Enviado por Celêdian Assis em 02/06/2010
Código do texto: T2294522
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