Pragmatismo

Se vivemos à procura da melhor resposta, porque não procurá-la entre aqueles que já a encontraram?
As pessoas respondem de acordo com suas possibilidades e capacidades, desenvolvidas conforme seu modelo de mundo. Assim, todo comportamento, por mais estranho que pareça, é a melhor escolha que o individuo pode fazer, dado o momento e o contexto em que a experiência ocorre.
Não acredito que existam “pessoas do bem” e “pessoas do mal”. O que existe são respostas que dão bons resultados e respostas que produzem maus resultados. Ninguém pratica atos nocivos a si ou a outras pessoas como um fim em si mesmo. Pratica-os porque, naquele momento, dado o contexto em que está inserido e segundo suas possibilidades e capacidades, aquela é a única resposta que sabe e pode dar em face de uma situação que lhe exige uma atitude.
Um indivíduo que invade uma residência e mata o proprietário para roubar o seu dinheiro, pensa que está fazendo a melhor escolha para resolver um problema em sua vida. O resultado que ele obtém, para si mesmo, e principalmente para a sociedade, é que não produz o bem que ele pensava estar realizando. Nesse caso, não podemos dizer que ele tenha feito a melhor escolha, mas ele dificilmente admitirá que errou.
Todos os nossos comportamentos podem ser úteis ou nocivos, dependendo do contexto em que eles são praticados. Podemos pensar numa situação em que fumar seja útil? Abstraindo os malefícios que o fumo traz em qualquer contexto, poderíamos dizer que a fumaça do tabaco afasta mosquitos, por exemplo. Em uma pescaria, em um momento de lazer à beira de um rio, ou em um bosque, isso poderia ser útil. Também para alguns povos indígenas das Américas, dividir uma boa baforada é sinônimo de paz e amizade.
Em que situação procrastinar alguma decisão poderia ser útil? A escritora Margareth Mitchel pode dizer-nos. Sua personagem mais famosa, Scarlet, de “..E o Vento Levou”, fazia isso sempre que algum evento desagradável lhe ocorria. “Vou pensar nisso amanhã,” dizia ela.
Ou então, que tal deixar para brigar com sua mulher ou com seu filho outro dia qualquer, quando os ânimos estiverem mais calmos? Que tal deixar para dizer “aquelas verdades” para o seu patrão amanhã, quando você tiver raciocinado um pouco mais sobre o assunto? Não lhe parece o tipo de procrastinação útil?
A regra geral da natureza é a utilidade. Bom é o que é útil, certo é o que funciona, verdadeiro é o que traz o melhor resultado para a felicidade do indivíduo e da sociedade. Por isso, a PNL é ciência da modelagem, ou seja, o estudo dos comportamentos eficientes, funcionais, eficazes, praticados pelas pessoas que já conseguiram obter os melhores resultados. É nesse sentido que procura descobrir entre os seres humanos os seus modelos de excelência, para estudá-los, mapear suas estratégias neurológicas e torná-las explícitas, para que outros seres humanos possam tomá-las como referências para desenvolver suas próprias habilidades pessoais.

Ética

Só pode haver auto-estima, orgulho, reconheci-mento, mérito, respeito – alimentos que nutrem o nosso ego – com a existência de um meio social.
Ética é a parte da filosofia que estuda os juízos de valor feitos pelo ser humano e a sua repercussão no comportamento da sociedade. Seria inadmissível que em um estudo destes, nós a deixássemos de fora como uma postura essencial a um praticante de PNL.
Quando aconselhamos as pessoas a adotarem posturas práticas perante a vida, como a de escolher o que é útil e o que dá resultado, por exemplo, isso não significa dizer que nessas escolhas não esteja presente o elemento ético.
Aliás, o que se espera de uma pessoa perfeitamente alinhada em todos os seus níveis neurológicos é exatamente uma postura ética e moral da mais alta qualidade, sendo essa qualidade uma conseqüência natural do refinamento de caráter, refinamento esse obtido pelo desenvolvimento da personalidade em níveis mais altos de processamento neurológico, que se atinge quando a nossa mente transcende de uma condição meramente biológica, orgânica, para uma esfera de interesses maiores, que é o nível que chamamos de espiritual.
A PNL, como sistema de aprendizagem da excelência comportamental, busca descobrir como isso pode ser feito e ensinado e ensinado às pessoas. Nesse sentido, são as experiências humanas bem sucedidas que são buscadas e modeladas para servirem de padrão de comportamento. Sucesso, aqui, é entendido como um resultado que modifica a experiência humana,
tornando-a mais qualitativa e eficiente para a satisfação das nossas expectativas. É, portanto, um conceito enredado em múltiplas relações, que envolvem não somente o bem estar da pessoa que o pratica, mas também o equilíbrio do ambiente no qual ele vive. Não deve ser entendido como um axioma do tipo “ o fim justifica os meios”, mas como uma fórmula de avaliar resultados.
Ética e moral podem ser considerados filtros purificadores da experiência humana, pois o resultado de um comportamento, por mais proveitoso que seja para o indivíduo, não terá alcançado o ideal que aqui se propaga se ele afrontar as crenças eleitas pelo grupo no qual o indivíduo se intera.
Nós não vivemos somente para nós mesmos. Se estivéssemos sozinhos no mundo, como um “Robinson Crusoé” posto na terra como único representante da espécie humana, certamente não haveria motivação para procurarmos colocar sempre mais qualidade nas nossas respostas. Todos os nossos comportamentos seriam regidos pelo instinto da sobrevivência e esta sendo atendida, nada mais nos incitaria a procurar um viver mais qualitativo.
Mas existe sempre “alguém” mais, para quem vivemos e praticamos os nossos atos. Aliás, penso mesmo que não há condição de existência para o chamado “ego humano” na ausência de socialização, na falta de alguém que nos “reconheça” de alguma forma. Ética e Moral são filtros que a sociedade desenvolve para purificar os comportamentos humanos e descontaminá-los dos vícios que as nossas idiossincrasias lhes colocam. Não podem ser negligenciadas por quem esteja buscando a melhor resposta para dar à vida.

Flexibilidade

Posturas inflexíveis reduzem a capacidade da nossa mente para produzir alternativas de resposta aos desafios da vida. Elas nos conduzem ao imobilismo mental, que é a nossa primeira sepultura.
Como mostra o Dr. Goleman, em seu excelente livro “Inteligência Emocional”, existe uma grande diferença entre a vida cerebral do ser humano e a dos animais de organização neurológica inferior. Por seu turno, Teilhard de Chardin ( O Fenômeno Humano- 1956), nos ensina que na vida orgânica, quando se passa de um nível simples de organização celular para um nível mais complexo, ocorre um grande aumento nas ramificações neurais das espécies, em razão da própria complexidade do processo que rege seus comportamentos
Quanto maior a atividade cerebral, maior a quantidade de neurônios que precisam ser criados e ativados. Em conseqüência, o leque de escolhas, em termos de respostas possíveis, também se abre, até por exigência dessa complexidade.
Um animal, quando é atacado, só tem duas opções de comportamento: lutar ou fugir. Já o homem, além dessas opções, pode argumentar, tergiversar, recuar, discutir, oferecer a outra face, negociar, pedir ajuda, etc. São “n” opções de comportamento que ele pode escolher. Escolherá aquela que lhe parecer mais apropriada para o contexto em que está vivendo e para o propósito que está buscando
Quando há várias opções de escolha, a possibilidade de atinar com a resposta certa é bem maior. Se nenhuma das respostas nos der o resultado que pretendemos, podemos combinar umas com outras e produzir uma espécie nova. Se tivermos apenas uma, ou no máximo, duas opções como os animais, então ficaremos limitados a responder sempre da mesma for -ma, e quem só tem uma resposta tende a obter sempre os mesmos resultados. Enquanto o comportamento estiver obtendo os resultados desejados, tudo bem, mas e quando não obtiver?
Quem encaixota sua vida em hábitos e faz deles regras inflexíveis de comportamento, não é apenas uma pessoa chata. Torna-se um problema. Quando precisarmos dela para iniciar algo novo ou para reconstruir o que foi destruído, teremos que resolver dois problemas: o seu apego aos próprios padrões de conduta e as barreiras de impossibilidades que ela erguerá por força da sua resistência em adotar novos paradigmas.
Faça um teste com você mesmo: acostume-se a passar todo dia pelo mesmo lugar e veja o que acontece na sua mente quando o caminho que você faz for interditado. Veja o quanto lhe custa em aborrecimento e estresse por ter de alterar a sua rotina.
Mas se você é capaz de encontrar um novo caminho quando aqueles que você já conhece forem interditados, e conseguir se adaptar a ele sem sofrer muito, então você está muito bem. Há pessoas que nem são capazes disso. Quedam-se paralisadas, sem saber como proceder.
Você já leu o gostoso livro do Dr. Johnson, “Quem mexeu no meu queijo? Se não leu, leia. Além da gostosa leitura que o livro proporciona, você vai aprender coisas muito interessantes sobre o comportamento humano. Trata-se de uma interessante metáfora sobre a dificuldade do ser humano em abandonar os seus hábitos. A estória foi composta a partir de uma experiência verdadeira feita com homens e ratos. Pesquisadores de uma universidade americana construíram dois labirintos. Em um deles esconderam alguns pedaços de queijo e depois soltaram vários ratos à sua procura. No outro esconderam notas de dez dólares e puseram um grupo de estudantes com a missão de encontrá-las. Os estudantes descobriram as notas antes de os ratos encontrarem o queijo. Depois de alguns dias, porém, tanto os pedaços de queijo quanto as notas foram retirados. Os ratos, depois de algumas tentativas frustradas, abandonaram o labirinto e nunca mais voltaram a procurar o queijo. Já os estudantes, até hoje, de vez em quando ainda invadem o laboratório à noite e percorrem o labirinto para ver se encontram algum dinheiro.
O que isso quer dizer? Que as pessoas são mais eficientes que os animais para atingir seus objetivos, mas têm muito mais dificuldade para abandonar seus comportamentos depois que eles os levaram a um bom resultado. Mesmo que não sirvam mais, mesmo que a utilidade de seus modelos esteja esgotada, que não conduzam a mais nada de bom, elas se recusam a abandonar seus velhos caminhos.
E é assim que acabam muitos casamentos, boas parcerias são desfeitas, grandes empresas desmoronam, vidas que pareciam bem sucedidas terminam em fragorosa ruína. Você já leu um famoso poema atribuído a Jorge Luis Borges, no qual ele fala da sua mágoa por estar com quase oitenta anos, próximo da morte e não ter feito uma série de coisas que gostaria de ter feito? Então não espere chegar numa idade tão avançada para começar a mudar isso. Faça como Clarice Lispector aconselha:

“MUDE”

Mudança

“ (...) mas comece devagar, (...) direção é mais importante que a velocidade, sente-se em cadeiras e mesas diferentes (...) .Ande pelo outro lado da rua, por ruas diferentes, outros lugares(...). Troque o estilo das roupas, pegue outros ônibus(...). Ande descalço, ouça os passarinhos, passeie no parque, use mais a mão esquerda (ou direita, se você for canhoto), durma
do outro lado da cama, em outras camas, veja outros programas de TV, leia jornais diferentes, outros livros com outros assuntos, viva outros romances ( não precisa ser com outros parceiros) ,durma mais cedo, ou mais tarde, aprenda novas palavras, outros idiomas, experimente novos sabores, novos perfumes, novo corte de cabelo, roupas de cores e modelos diferente...”

Enfim, MUDE...pois a vida é uma só e ela passa tão rápido que a gente só percebe o tempo que perdeu quando tenta fazer alguma coisa que o nosso organismo já não tem mais condição de executar.
Muitas vezes, são as experiências mais difíceis ou dolorosas que nos trazem mais sabedoria. Elas nos ajudam a desenvolver a capacidade de superação e desenvolver a criatividade.
Lembro-me do exemplo de um sujeito que recebeu como herança uma propriedade em pleno deserto. Quando foi ver o que ganhara ficou completamente desanimado. Lá só havia pedras, areia e cascavéis. De repente ele teve uma idéia: Por que não criar cascavéis, vender o veneno delas para a indústria farmacêutica e a carne para restaurantes exóticos? Assim fez e logo aquela propriedade, que não valia nada, se tornou a mais próspera fazenda da região.
Eu mesmo já tive algumas experiências ruins que acabei transformando em oportunidades de reali-zação. Uma delas foi a doença da minha primeira esposa. Presa à uma cama por um câncer terminal, eu tive que largar tudo para cuidar dela. Fiquei, praticamente, dois anos recluso, dentro de casa. Nesse tempo, como não podia fazer mais nada, acabei realizando um projeto que acalentava há muito tempo: escrever um livro sobre a maçonaria. Era um projeto que eu sonhava desenvolver há muito tempo, mas isso implicava em um longo trabalho de pesquisa que eu, em razão das minhas atividades, jamais encontrara condições para fazer. Então comecei a aproveitar as noites em que eu tinha que ficar acordado para cuidar dela para pesquisar e organizar as notas que eu precisava para escrever o livro. Foi assim que eu escrevi os dois volumes da obra “ Conhecendo a Arte Real”, o primeiro dos quais já publicado pela Madras Editora.
Quem recebe um limão pode fazer com ele duas coisas: ou reclama do azedume ou faz com ele uma gostosa limonada. Se for brasileiro e gostar dessas coisas, pode fazer uma terceira, que é uma boa caipirinha. Se quiser ser ainda mais criativo, uma deliciosa musse de limão. Enfim, se pensar um pouco, irá encontrar uma série de aplicações úteis para a fruta, além de aproveitar o seu rico conteúdo vitamínico. Agora se ficar pensando só no gosto dela....
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DO LIVRO "À PROCURA DA MELHOR RESPOSTA"- ED. 24X7- SÃO PAULO, 2009
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 30/05/2010
Reeditado em 30/05/2010
Código do texto: T2289708
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