Ecologia
Nada se faz no universo físico sem que o homem venha a sentir as conseqüências desse feito; por outro lado, tudo que ele faz causa impacto no sistema. Dessa forma, tudo interessa a todos, e o equilíbrio do sistema universal é uma tarefa de interesse coletivo.
Disso já sabiam os antigos filósofos hermetistas quando sustentavam a existência de uma unidade indissolúvel entre todas as coisas que existem no universo: “tudo que está dentro é igual ao que está fora, o que está em cima é igual ao que está em baixo”, diziam eles. Foi o pensamento cartesiano, com o seu materialismo dualista, sua exagerada preocupação pelo conteúdo do fenômeno em si, e não pelo que ele significa no contexto em que ocorre, que levou os homens de ciência a separar mente e corpo, como se ambos fossem duas realidades distintas, que podem coexistir independentemente. Desprezando milênios de sabedoria, renegaram os ensinamentos dos grandes taumaturgos, que sempre sustentaram o caráter sistêmico do universo e a existência de uma relação entre os fenômenos que nele ocorrem.
O ser humano possui um organismo unificado, assim como o próprio universo é um animal único que não pode ser entendido por partes. Fisicamente, somos constituídos de “partes” interligadas, que são os nossos sistemas, respiratório, cardiovascular, linfático, reprodutor, excretor, etc. Esses sistemas são constituídos de órgãos e os órgãos por células, tudo isso ligado por uma extraordinária rede de relações e funções, de tal maneira que o que ocorre no ínfimo da intimidade celular – onde reside a informação primordial, – repercute no imenso da estrutura orgânica, que é a nossa fisiologia.
Também em relação à nossa estrutura mental podem ser identificadas inúmeras “partes” interligadas entre si, cada qual com sua função, muitas vezes parecendo antagônicas, mas nunca inúteis nem inimigas, sempre buscando, á sua maneira, o bem do organismo, razão pela qual podemos dizer, a respeito das motivações humanas, que todo comportamento tem uma intenção positiva para quem o executa, dado o contexto em que ele ocorre
Esse é um pressuposto PNL, mas também é uma constatação verificável empiricamente. Sempre que procuramos eliminar determinado comportamento, sem oferecer à sua “parte” geradora uma compensação neurológica, há um espécie de boicote por parte dela, o que faz com que o comportamento que se tenta eliminar seja reforçado, ou então “recompensado” por outro comportamento indesejável. Quem já tentou eliminar o hábito de fumar, por exemplo, é vítima constante desse “boicote” neurológico. Quando tem êxito na repressão ao uso do tabaco, passa a ter compulsão por doces ou por outro tipo de comida.
A PNL descobriu uma estratégia para solucionar tais conflitos imaginando uma “negociação entre partes”, para fins de convencer a “parte” geradora do comportamento de que não haverá eliminação, mas sim, substituição de comportamento, e que ela não perderá nada com isso. Mostramos como isso pode ser feito no exercício de “squash visual” das páginas 101/102..
A PNL respeita a ecologia do sistema neurológico partindo do princípio de que o organismo humano é um sistema, onde o que acontece em cada uma de suas partes repercute no todo. As religiões orientais, formidáveis pela postura ecológica que adotam em seus postulados, encarecem a necessidade de a mente aprender a “operar” no vazio para podermos, efetivamente, adquirir o verdadeiro conhecimento. A justificativa é que a mente, num estado desses, está trabalhando sem filtros, sem preconceitos, sem nenhum elemento de comparação ou categorização que possa isolar o objeto, separando-o do conjunto ao qual pertence.
Dessa forma desaparece para ela a fragmentação, as separações, os rótulos, as quantificações, as classificações e por fim, as posições pessoais que estão na base de todo preconceito. Só remanesce a unidade indissolúvel de todas as coisas e conseqüentemente, o processo que faz gerar o conhecimento pode ser visto em toda a sua integridade relacional. A realidade, assim, é absorvida como um todo e não apenas em suas partes e as informações que nos chegam do mundo exterior não são analisadas nem interpretadas à luz de filtros anteriormente adquiridos.
Tudo é novo, tudo merece ser admitido como possibilidade, tudo pode ser, a priori, possível e verdadeiro. Essa atitude tanto pode ser a de um praticante do budismo zen, quanto à de um adepto do cristianismo místico, para quem é preciso acreditar que tudo está em tudo e nada existe de forma independente no universo. Nesse estado de consciência, ela não presta atenção apenas ao que acontece à sua volta, mas “vê , ouve e sente” tudo que acontece no mundo. É como a mente do monge budista que pratica bem o seu Zazen.
Fascinação
A aventura humana sobre a terra pode ser vista como uma busca constante de melhores resultados, a cada ação empreendida. Por isso é que eu a defino como uma eterna procura pela melhor resposta.
À medida que avançamos no espaço-tempo que medeia o nosso aparecimento no mundo como organismo, e o desaparecimento dele nessa condição, a nossa jornada na vida permeia-se de atos e esses atos são, essencialmente, de aprendizagem. Tudo se passa como se o nosso organismo, em seu processo de evolução, fosse construído para “aprender”.
É possível que nas regras de evolução das espécies, a natureza, ou Deus – seja como for que se queira chamar o princípio ativo que deu origem e governa o universo – tenha introduzido um mecanismo que faz com que, ao longo do tempo, os organismos das espécies vivas se componham em estruturas de crescente complexidade.
Esse processo se torna ainda mais sutil na medida em que elas respondem, com eficiência cada vez maior, aos desafios que a vida as submete.
A satisfação física e espiritual, para o ser humano, é sempre um estado desejado a ser atingido. Atingido, ele deixa de ser um objetivo para transformar-se em algo que já se aprendeu e se tornou uma etapa a superar. Como o conceito de evolução exige sempre uma atitude de superação, o organismo humano, a cada etapa superada, parte para nova jornada de aprendizagem, em busca de outro objetivo, sempre um pouco mais adiante, seja na escalada da evolução biológica, seja no caminho da evolução espiritual.
A descoberta que o universo nasceu a partir de uma origem única foi a maior de todas as luzes já acesas no panteão da sabedoria humana. Graças a essa informação, ficamos sabendo que o ambiente em que vivemos é um processo que está em eterno estado de gênese. Nele tudo nasce constantemente e evolui de certo modo. Não há uma continuidade uniforme em seus padrões evolutivos, nem acontece em todos os lugares as mesmas coisas. Tudo é produto de relações e de relações entre relações.
Metamorfoses são próprias de determinados lugares e tempos. Do átomo à estrela, ao longo do eixo espaço-tempo acontece um arranjo entre as propriedades físicas presentes nas estruturas dos elementos, que permite a produção da energia através da interação entre eles. A cada interação, uma nova relação; a cada nova relação, um avanço na estrutura molecular do elemento ou da espécie.
Para entender e aproveitar bem esse processo, o ser humano precisa manter o espírito alerta e sempre aberto para “ver” “ouvir” e “sentir” como isso acontece. Só assim ele pode realmente aproveitar todas as potencialidades que tem para fazer uma diferença no sistema.
Essa postura exige a atenção de uma mente adulta, consciente de que está presenciando o desenvolvimento de um processo de infinita complexidade e o espírito de uma criança, perplexa perante o mistério que se desenrola perante os seus olhos, mas de modo algum assustada com ele. É uma atitude de mística fascinação perante o espetáculo da vida. Essa é lição que nos deu Jesus ao dizer que se não nos tornássemos meninos não entraríamos no reino dos céus.
Humildade
Aquele que reivindica a posse da verdade demonstra total ausência de inteligência emocional. É um completo analfabeto na arte de viver, pois o bem viver implica em tolerância para com as visões de mundo que diferem das nossas.
A sabedoria de que as nossas visões do mundo são personalíssimas nos leva à necessidade de sermos humildes em nossas apreciações. Afinal de contas, elas são relativas a um mundo que só existe dentro de nossa mente e que pode ou não corresponder à realidade.
Quem pensa ter encontrado a verdade, diz Bandler , está apertando a mão do diabo. Realmente, não existe pior inimigo para o nosso equilíbrio neurológico do que uma postura de auto-suficiência intelectual. Pessoas que assumem tais comportamentos tornam-se arrogantes, pedantes, desagradáveis, incapazes de manter um rela-cionamento seguro, maduro e estável, pois sempre estarão reivindicando o comando da situação, como se os relacionamentos humanos comportassem algum nível de hierarquia.
Registre-se que nem Jesus Cristo reivindicou a posse de uma verdade absoluta, ainda que pelo menos um evangelista tenha escrito que ele proclamava ser a “verdade e a vida”. Eu creio que ele queria dizer com isso que seus ensinamentos seriam um excelente roteiro para a vida, mas não que ele fosse “ a verdade”. Tanto que quando Pilatos lhe perguntou o que era a verdade, ele não respondeu, ou se respondeu a resposta não foi registrada.
Pessoas intolerantes são do tipo que costuma dizer: “ Eu sou assim mesmo. Quem quiser gostar de mim, goste do jeito que eu sou porque eu não mudo para agradar ninguém”. Fuja dessas pessoas, pois elas só concordarão em viver no seu mundo se você concordar com elas em tudo.
Eu conheci um sujeito assim. Com 20 anos casou-se com uma boa moça, operária, que conheceu em uma fábrica onde trabalhava. Durante os primeiros anos da vida do casal, ela trabalhou e ajudou-o a adquirir patrimônio e cuidou muito bem dos três filhos que tiveram.
A moça trabalhava muito, no emprego que tinha na fábrica e em casa. Cuidava das finanças do casal como se fosse o melhor dos administradores. Ajudou-o de todas as maneiras, inclusive a estudar e melhorar de vida. Graças a isso, ele conseguiu se formar em direito e passar em um concurso público, tornando-se procurador de justiça.
Mas assim que foi adquirindo um melhor nível de informação ele começou a desprezar a mulher que o ajudara tanto. Como ele começou a freqüentar outros ambientes e ela continuava a ser operária e dona de casa, seus interesses começaram a se afastar. Vivia comparando-a com as garotas com as quais convivia na faculdade, e depois, na repartição.
Logo começou a se envolver com outras moças e a negligenciar a família. Depois de algum tempo arrumou uma amante fixa, com quem começou a fazer despesas. Teve, inclusive, filhos com ela. Logo, sua renda, apesar de consideravelmente aumentada, já não era suficiente para sustentar duas famílias.
Não demorou muito e o relacionamento com a esposa, que tanto o ajudara, chegou a um impasse que terminou em divórcio. E à medida que as coisas iam saindo do seu controle, ele se tornava cada vez mais arrogante.
Aposentou-se no serviço público e passou a advogar. Para ele, ninguém tinha qualquer competência, quer profissional ou emocional, para fazer as coisas certas. Achava que apenas ele sabia fazer tudo bem feito. Considerava-se o único dono da verdade. Não conseguia fazer amigos, pois todos se afastavam dele em razão da sua arrogância. Aos poucos, acabou perdendo o amor dos próprios filhos. Um dos meninos, logo após o divórcio dos pais, começou a demonstrar sinais de desequilíbrio nervoso. Depois da morte da mãe, o desequilíbrio degenerou em uma completa alienação mental. Ou-tro dos seus filhos tornou-se um inveterado alcoólatra e hoje dorme, praticamente, nas ruas. Quanto ao casamento, pelo que sei, foram mais de quatro.
Mesmo com todos esses maus resultados na vida, esse indivíduo jamais fez uma reflexão madura sobre o seu comportamento. Na última vez que conversamos, ele fez violentas críticas a um juiz que não havia acatado seus argumentos em um processo.
Ele morreu há alguns meses atrás. Se o enterro tivesse que ser realizado à maneira antiga, teria sido difícil encontrar braços para carregá-lo até o cemitério, tão pequeno era o número de pessoas que compareceram ao seu funeral.
Um pouco de humildade não faz mal a ninguém. Mas é bom não confundirmos humildade com timidez, covardia ou ausência de auto-estima. Aliás, a auto-estima é filha do justo orgulho que alguém pode ter de si mesmo e quando esse orgulho está fundamentado no mérito, trata-se de um sentimento que deve ser cultivado com muito carinho.
Na verdade, é preciso uma grande dose de coragem, de amor próprio e de firmeza de caráter para assumir uma postura de verdadeira humildade, pois isso implica em reconhecer que pouco sabemos e mesmo esse pouco pode não ser verdadeiro.
Humildade não é fraqueza, nem pressupõe ausência de recursos psicológicos para enfrentar os confrontos a que somos submetidos todos os dias. Ao contrário, para sermos humildes de verdade precisamos ser muito fortes, pois a cada momento, somos obrigados a nos confrontar com o maior de nossos adversários: nós mesmos.
(CONTINUA)
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