A Máquina Fantástica/A Invenção de Morel-Adolfo Bioy Casares
Sinopse:
Foragido venezuelano em fuga por um
crime que não cometeu, com a ajuda
de um amigo italiano, consegue um
bote e vai parar numa misteriosa ilha
remota e misteriosa onde em 1924 um
milionário excêntrico construiu uma ca-
pela, um hotel-museu e uma piscina, hoje
abandonados e decrépitos. Se instala no
hotel até a chegada de estranhos visitantes
e, achando serem seus captores, foge para a
parte baixa, pantanosa da ilha, e em meio a marés
perigosas e inconstantes, correndo risco de ser
levado pelas águas de madrugada e se alimen-
tando de bulbos e raízes, observa os habitantes,
dentre eles um estranho homem de nome Morel
e uma mulher de aparência cigana por quem se
apaixona perdidamente e se torna o seu centro
de atenção, mesmo que ela e todos os intrusos
o ignorem completamente, como se ele não
existisse.
Crítica:
Lêr A Máquina Fantástica pela primeira vez (ou
pela segunda, já que poucos livros me gritaram
durante a leitura para serem relidos, coisa que fiz
imediatamente após o virar da última página) é
como andar num terreno pantanoso, labiríntico,
crepuscular onde não se sabe onde está indo,
onde a ambiguidade é uma constante e apesar
dos perigos, ficamos meio que hipnotizados
e maravilhados pelo mistério e beleza enig-
mática da paisagem durante nossa jornada.
Tendo como modelos básicos os romances
de sobrevivência e aventura estilo Robson
Crusoé, Casares, com a habilidade de um veterano
artesão (escreveu este livro com apenas 26 anos),
nos oferece uma fábula Kafkeana-existencialista sobre o drama
e os efeitos do isolamento físico e espiritual, sobre o
"se sentir só, `ínvisível´ em meio a milhões" e sobretudo,
sobre um amor idealizado e metafísico, uma paixão
avassaladora por uma não-pessoa.
Há livros que nos provocam epifanias geralmente nas
páginas finais, esse me provocou a cada parágrafo:
"Hoje, nesta ilha, aconteceu um milagre: o verão
adiantou-se" assim começa e vai num crescendo de
pathos, beleza e poesia até a última linha.
Alguns consideram a Máquina Fantástica como o
melhor livro de FC já escrito por um latino americano.
Eu o coloco entre os melhores livros do século XX.
Uma mágica que não se repete.
Cotação: ***** de *****