O que é leitura
MARTINS, Maria Helena. O que é leitura. São Paulo: Brasiliense, 2004. (Coleção primeiros passos)
A autora abre a discussão acerca dos limites que possam existir no ato da leitura. A princípio, leitura é vinculada apenas à decodificação de sinais gráficos (letras que formam palavras). Mas o livro amplia as fronteiras do ato de ler. Questiona-se se o ato de ler vai além da escrita.
Apresenta tipos de leituras, não somente de palavra, como também de situações (ler um gesto, um momento, a mão, o olhar de alguém, o tempo, o espaço).
Para Maria Helena, a leitura não se restringe às letras, mas comporta a compreensão da realidade e das nossas interpretações do que acontece ao nosso redor, pois tudo o que é percebido (apresentado objetivamente) influencia nas nossas reações (respostas subjetivas) e esta condição estimulada definirá os textos escritos.
O livro fala que devemos lutar para não nos tornarmos seres alienados e aguçar nossa curiosidade de sermos livres, “... deixar de ler pelos olhos de outrem...”.
Há críticas duríssimas ao sistema de ensino de alfabetização e letramento. O livro traz uma reflexão com relação à falta de humanização do sistema educativo, quando se centraliza o saber e não desenvolve o caráter crítico dos educandos, por parte dos professores.
São apresentados três níveis de leitura que se inter-relacionam: sensorial, emocional e racional. O nível sensorial define-se no primeiro contato que temos com o texto ou situação, utilizando os sentidos (tato, olfato, visão). Estes sentidos fornecem uma percepção instantânea do mundo, provocando prazer ou recusa. O nível emocional nos leva a nossa própria interpretação e revela os sentimentos que sentiríamos se estivéssemos na situação retratada no texto. O nível racional, que é o mais aceito e considerado correto pelos intelectuais, busca a compreensão correta, a interpretação objetiva dentro da situação ou texto em leitura.
A relação leitura/letras é predominante devido à mistificação da pessoa letrada e da informação escrita. Isso resulta em convenções, como no nível de leitura e o objetivo da leitura. Essas convenções distanciam os iletrados da leitura e impedem o educando de desenvolver sua própria forma de aprendizagem e leitura.
O livro sugere a combinação da perspectiva behaviorista-skinneriana com a perspectiva cognitivo-sociológica para a definição de leitura: estimular os educandos a decodificar os sinais linguísticos e observar os resultados (estímulo-resposta) para compreender a realidade.
Também considera a hipótese de produzir nossos próprios textos, como forma de demonstrar o mundo a partir do nosso ponto de vista, tornando-nos independentes dos autores lidos e mais críticos e capazes de analisar o que está a nossa volta