UMA HISTÓRIA DA VIDA RURAL NO BRASIL
O livro Uma História da Vida Rural no Brasil, de autoria de Mary Del Priore e Renato Venâncio, resgata a história do Brasil com uma narrativa envolvente. Versa sobre a formação da sociedade e do povo brasileiro. Os acontecimentos historiados abrangem a economia colonial com a implantação dos latifúndios destinados à monocultura direcionada para o mercado externo, e o desafio dos pequenos proprietários, roceiros, que se esforçam em solos não ocupados pelas tradicionais lavouras e empreendem cultivos diversificados que abastecem os pequenos povoados e propiciam a criação dos centros urbanos no período colonial.
Um mapeamento amplo da agricultura brasileira desde o século XVI dividida entre a monocultura e o cultivo de subsistência até os dias atuais com o agronegócio e o fortalecimento dos movimentos sociais pela reforma agrária.
A importância da terra no Brasil é interpretada nas diversas fases, desde o relato do cronista Pero Vaz de Caminha por ocasião do descobrimento até a inserção da moderna tecnologia nos campos e a importância de alguns produtos agrícolas para a economia nacional. Muitos são os tópicos que enriquecem a leitura e a compreensão cronológica do passado e de nossa contemporaneidade. A prática agrícola indígena, a existência das monoculturas no Brasil colonial; a formação dos centros urbanos; as pragas que devastavam as plantações, entre elas a temida formiga conhecida na época com “rei do Brasil”; a abolição da escravatura; a inserção dos imigrantes nas propriedades rurais; a valorização do trabalho rural com o implemento do ensino agrícola, as tentativas de planejar a reforma agrária nas diversas constituições, e a força dos movimentos sociais.
As raízes brasileiras são reveladas aos olhos nus dos leitores e fortalecem algumas premissas e descaracterizam os urbanos olhares depreciativos e indiferentes aos personagens do mundo rural, estereótipos tão propagados em obras literárias e em personagens como, por exemplo, o Jeca Tatu de Monteiro Lobato.
Os ciclos do açúcar, do ouro, do cacau e do café concorrem com o percurso dos tropeiros e a pecuária. Descobrimos a origem da carne seca nordestina e do charque gaúcho num Brasil remoto, assim como, identificamos os senhores de engenho e os barões do café. As sombras do mundo rural se projetam nos cenários urbanos, decifram a política nos diversos períodos e ampliam os horizontes dos leitores para campos ainda não desbravados.
O último capítulo, O MST e o Agronegócio, trata do renascimento dos movimentos sociais pela reforma agrária no período pós-1964 e o surgimento do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra com numerosas e crescentes adesões e conclui com um desafio a ser solucionado pela sociedade brasileira: “No campo, sofisticadas máquinas eliminam a necessidade de mão-de-obra. Desta forma, restam poucas alternativas às famílias dos trabalhadores rurais brasileiros, a não ser buscar um pedaço de terra para o próprio sustento. Encontrar uma solução que viabilize esse projeto, ou fornecer uma alternativa a ele, é o desafio das novas gerações.”