Urgente é a vida




A vida é urgente. Não se pode deixar escapar nenhum instante de prazer, de alegria, de humor. Sobretudo não se pode perder nenhuma migalha de amor. Esses instantes não vão se repetir da mesma maneira, com a mesma pessoa, no mesmo clima. Se é que se repetirão. Pode ser que sejam os últimos. A vida é urgente porque é finita.
                             A vida é urgente- Alcione Araújo


    Ao me aventurar por uma zapeada na rede, por uma livraria ou um sebo, comumente, sou fisgada por títulos de poemas, de crônicas, de livros e, não raro, tenho tido gratas surpresas. Confesso: tenho um fraco por títulos, porém, apesar do lindo título, o livro URGENTE É A VIDA do autor Alcione Araújo, não veio a mim desse jeito.
    É que por ocasião de minha estada em Curitiba, como hospede da amiga Rita Jankowski e sua linda família, numa conversa antes de dormir, ela me recomendou a leitura da sua crônica “O poeta esconde a poesia sobre a pálpebra”, pois falávamos do quanto é bom um contato de leitor com quem a gente lê e admira.
    Pois bem. Já entre as cobertas, peguei o livro e saboreei o titulo. URGENTE É A VIDA. Sim, eu que vivo devorando-a a cada segundo, sei o quanto é. Ao ler a crônica recomendada não consegui parar de ler e lá fui eu, lendo mais uma e mais outra madrugada afora. Quando o cansaço me venceu, despedi-me do livro com pena, mas voltei a ele na noite seguinte.
    Enquanto passeava em Curitiba, tentei achar outro exemplar do livro. Não consegui, mas minha amiga me presenteou com o dela. Pronto! Livro na bolsa, concluí sua leitura literalmente voando. Asas por dentro, assento de avião e Urgente é a Vida entrou, definitivamente, para minha galeria de livros especiais e não só porque foi o presente de uma pessoa querida.
    O mineiro Alcione Araújo certamente dispensa maiores apresentações. É romancista, dramaturgo, roteirista de cinema e televisão, cronista e ensaísta. Como roteirista já emplacou vários sucessos dentre eles os filmes Nunca fomos tão felizes, Jorge um brasileiro, Policarpo Quaresma e Pátria Amada e a impagável série Malu Mulher. No teatro, sucessos como “Vagas para moças de fino trato”, “A caravana da ilusão”, “Doce deleite” e “Muitos anos de vida”. Premiado em todas as áreas, o seu URGENTE É A VIDA, coletânea das melhores crônicas publicada no jornal Estado de Minas, ganhou o Jabuti de 2005.
    A linguagem precisa, bem articulada e lindamente poética marca cada texto. Embora tenha me passado a impressão de alguém reservado e até tímido, discorre sobre vida, mulheres e o amor como um apaixonado. Ou melhor, com a delicadeza e o encanto de um poeta apaixonado.
    “A mulher tem uma beleza a cada idade, assim como o céu sabe ser belo a cada hora do dia.” (Abraço).
    "O amor é pura subjetividade, passa pelo desejo, não pela razão, passa pela admiração, não pela explicação. Ama-se, deseja-se e isso é tudo.” (O fim do amor romântico).
    “O amor não arranca pedaço. Ao contrário, recompõe corações dilacerados” ( Para quem se enfeitam as mulheres). Lugar comum? Pode ser, mas é absolutamente verdadeiro e só confirma que o autor observa o cotidiano com argúcia e sensibilidade e mais ainda, pleno de poesia e delicadeza, no seu malabarismo com o mundo das palavras.
   “A ignorância é a mãe da barbárie. Onde a educação não é uma conquista, o saber é o ócio e a cultura uma futilidade. Nesta moldura não restam princípios, normas, nem hierarquias de valores. Perde-se o discernimento entre o certo e o errado, o justo e o injusto, o honesto e o desonesto, o ético e o aético, o público e o privado. Como sugeria Dostoievski, se tudo é permitido, o demônio merece seu lugarzinho no céu.”(Corações e Mentes)
    Reflexões lúcidas, contundentes, humor refinado e certa generosidade na observação do humano, do comezinho, da vida que imita a arte ou vice-versa. Assim é crônica de Alcione Araújo, privilégio de seus leitores do Estado de Minas e, certamente de quem mais entrar em contato com qualquer uma de suas produções.
    “Democratizar a educação e a cultura é produzir cidadãos de saber crítico e transformador, aptos a discernir o direito e o dever, o justo e o injusto, o certo e o errado e, ao mesmo tempo, mais sensíveis e humanos. Que verão o outro como um semelhante que pode pensar diferente, mas que tem igual direito à vida e à busca da felicidade. Eis o meu sonho” (Meu sonho).

     E, como não espero menos, este é meu sonho também, meu caro cronista.


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