A Divina Comédia

A Divina Comédia é um poema iniciático que apresenta a visão da Igreja
Medieval a respeito da hierarquia nos três mundos da tradição    judaica:
o mundo celeste, o mundo material e o mundo espiritual.    A inspiração
para a composição dessa genial obra,   o poeta  Dante  foi buscar    nas
teses gnósticas, nas tradições pagãs anteriores ao Cristianismo e
principalmente na filosofia de São Tomás de Aquino.
A Divina Comédia é uma obra iniciática de conteúdo altamente esotérico.
Ela  reflete  o  que  de  melhor  foi produzido  pelo pensamento medieval,
tanto   no   campo  da filosofia religiosa, admitida pela Igreja, quanto nas
doutrinas gnósticas, por ela condenada.
Já de   início se  percebe a razão de a Divina Comédia figurar como uma
importante  influência na Maçonaria. Para começar, a obra foi escrita em
três livros,  cada um  dividido  em  trinta  e  três cantos.   Cada 
canto tem aproximadamente 40 a 50 tercetos, com versos isolados no final,
dando um fecho à idéia trabalhada.(1)
Como na Loja Simbólica, são três as estruturas trabalhadas nesse genial
poema: Inferno, Purgatório e Paraíso. No total, o poema todo é composto
por cem cantos.
Tudo  é  simbólico  nesse  grandioso poema.   Entrelaçam-se   tradições
cabalísticas    e     gnósticas,    juntamente    com    filosofia  aristotélica e
escolástica, formando um enredo formidável, que só um grande gênio,
com qualidades de iniciado, poderia produzir.
Inferno,  Purgatório e  Paraíso  são  divididos em nove círculos cada um,
formando  um  total de vinte e sete. Três ao cubo, que forma um número
cabalístico.   Todos   os  versos  finais rimam usando a mesma palavra,
estrela. Aliás, o número 27 é o número maçônico por excelência.Resulta
de uma tríplice multiplicação trinitária (3.3.3). Na Maçonaria do Arco Real
esse  número  simboliza  o  Arco vivo,  formado  pelos  irmãos em união
(egrégora). É a Trindade do céu sendo refletida pela trindade humana.(2)
O genial poema de Dante pode ser interpretado como uma jornada em
busca da luz. Quando o poeta se encontra no meio da vida, ele se vê
numa floresta escura e percebe que está perdido em meio ás trevas.(3)
Ao tentar escapar desse território de trevas, ele vê uma montanha e tenta
subi-la, no que é impedido por três animais: um leopardo, um leão e uma
loba. Simbolismo puro. (4)
Já desanimado com a situação, encontra o espírito de Virgílio, poeta
romano que ele muito admirava. Ele veio a pedido de Beatriz, antigo
amor de Dante. Virgilio estava no Limbo e Beatriz desceu do céu para
tirá-lo de lá com a finalidade de ajudar o poeta a achar o caminho para
a luz.
Virgílio se propõe a guiá-lo pelo centro da terra, passando pelo Inferno,
Purgatório e Paraíso, terminando na Porta do Céu. Durante toda a jornada
Dante é guiado por Virgílio, e este, à medida que vai mostrando a geografia
do mundo subterrâneo, explica também ao poeta quem são as almas que
eles vão encontrando pelo caminho.(5)
Como na iniciação maçônica, representado pelas três viagens. Dante
mistura personagens históricos e lendários, justificando a presença de
cada um naquele lugar, sempre pela ótica da Igreja. Assim, aqueles que
viveram antes da época de Jesus, e portanto não conheceram a “salvação”
do Cristianismo não eram condenados ao inferno porque não tinham culpa
de terem nascido em época errada, mas também não podiam ir para o
paraíso, mesmo sendo dignos, como Sócrates, Platão e Aristóteles,
por exemplo. Virgílio também não era cristão, mas a sua jornada junto com
Dante pelos círculos infernais dá a ele o direito de reivindicar a salvação.
Passam pelos nove círculos do inferno, onde eles encontram
personagens históricos, conhecidos e desconhecidos, sofrendo os
mais terríveis castigos pelos pecados que cometeram em vida.(6)
Contemplam a horrorosa geografia do inferno, com seus monstros, rios
de fogo, cidades horripilantes, demônios, e chega ao centro da terra, onde
habita o rei dos demônios, Lúcifer. (7)
No inferno Dante percebe que as almas que ali estão não tem mais
esperança de redenção.
Saindo do inferno por um caminho subterrâneo, eles passam ao
purgatório, representado por uma altíssima montanha. Ela é tão alta que
seu cume parece tocar o céu.
Na base da montanha está o ante purgatório, lugar onde as almas que não
se arrependeram de seus pecados a tempo, aguardam, com muito
sofrimento, o momento de entrarem no purgatório propriamente dito,
onde poderão pagar os seus pecados e se redimirem.
Atravessando os sete terraços do purgatório, que representam os sete
pecados capitais, Dante e Virgilio chegam, finalmente ao fim dessa
jornada no território onde as almas pagam seus pecados e adquirem a
esperança da redenção.
No último circulo do purgatório Virgilio se despede do poeta e ele passa
a ser guiado por Beatriz. Pelas mãos dela ele é levado para atravessar o
paraíso. (9)
O paraíso de Dante se divide em duas partes: uma parte material e uma
espiritual. A parte material representa o cosmo, segundo o modelo de
Ptolomeu, astrônomo mais acreditado pela Igreja durante o período
medieval. O cosmo ptolomaico é dividido em nove círculos concêntricos,
formado pelos sete planetas místicos, (Mercúrio, Venus, Marte, Júpiter,
Saturno, Sol e Lua) circundados pelos dois círculos que são o das
estrelas fixas e o Primeiro Céu, que é o último círculo da matéria.(10)
É no paraíso terrestre que Dante encontra as pessoas, que em sua
opinião, fizeram obras boas na terra e encontraram mérito para viver
nesse lugar de sabedoria, harmonia e paz, que é o paraíso.
Quando chega ao último círculo do paraíso, que é o céu cristalino,
ele adquire, enfim a iluminação, a Gnosis, e consegue compreender
como o mundo foi feito, o que é o mundo angélico, que são, na verdade,
campos energéticos que giram em volta da Suprema Alma, que é o
Grande Arquiteto do Universo. (11)
Depois de ter a visão da Rosa Mística, ele sente, enfim o Amor Divino,
que é a Suprema Energia que constrói e move o universo. (12)
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Notas
 
1.Analogia com os três graus da Loja Simbólica: Aprendiz, Companheiro e Mestre.

2.Alusão à estrela flamejante, Letra G, que é o símbolo da Rosa Mística, segredo
último e fundamental da Maçonaria. Veja-se a parte final deste grau, intiulado
“O Significado da Estrela”.

3.Semelhante ao iniciando na Maçonaria que é “ um profano que bate à porta
do Templo à procura da Luz”.

4. Esses animais simbolizam a iniciação.

5.  Como o Irmão Experto, que conduz o profano à porta do Templo.

6.Judas e Pilatos são dois desses pecadores, que ali estão, sofrendo os mais
horríveis flagelos.

7. Monstros que assombram o espírito humano.

8. Representação do mundo profano, onde os vícios nos impedem de progredir espiritualmente.

9. Fim da primeira etapa da iniciação, quando o iniciado, finalmente é entregue
ao Venerável para a segunda etapa do ritual.

10. Representado pelo teto do Templo maçônico, onde exatamente essa
conformação é reproduzida.

11. A egregóra, formada pelos Irmãos, onde ele finalmente” recebe” a luz.
Isso mostra que Dante conhecia a Doutrina Secreta, ou pelo menos estava ciente
das doutrinas gnósticas que se referem aos sete céus, os sete anjos planetários,
as sete esferas do universo onde a vida se manifesta. O que nos filósofos
gnósticos foi taxado como heresia, em Dante foi considerado genialidade.

12. O segredo do grau 33.
João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 10/03/2010
Reeditado em 07/04/2010
Código do texto: T2131308
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