O LIVRO

1 – CITAÇÃO DA OBRA:

CARRIÈRE, Jean-Marie. O livro do Deuteronômio: escolher a vida. São Paulo: Loyola, 2005. p. 105-116.

2 – RESUMO:

É de suma importância afirmar que o livro do Deuteronômio representa um dos livros mais importantes, no que se refere a temas como lei ou aliança. Esta remete a idéia de uma relação que é inserida num determinado ritual. Mais ainda, é apresentada como uma renovação da aliança. Na verdade todos estes estão resumidos em duas liberdades que são comprometidas uma com a outra, de forma simultânea.

No mesmo livro do Deuteronômio, existem seis capítulos em que estão agrupadas as idéias da noção de aliança. Capítulos estes que começa no 26 e vai até o 31.

Só o tema da aliança, por exemplo, é entendida não apenas como uma relação com o povo de determinado território ou lugar, e sim um compromisso que se deve ter com variados tipos de pessoas.Neste sentido, não há uma nova aliança, mas sim uma segunda aliança que busca dar as pessoas consolação advinda de Deus e a prática de sua vontade em meio aos homens.

Segundo o relato apresentado pelo mesmo livro Bíblico acima apresentado, no momento em que o povo entra na terra prometida, há a existência de uma segunda aliança. Basta ver no Dt 28, 69 que se perceberá a diferença entre a aliança concluída no Horeb-Sinai e a da terra de Moab.

Estas mesmas passagens mostram como a experiência da aliança foi transmitida, tanto em forma oral quando escrita. Mesmo que Deuteronômio ressalte a existência e a importância da segunda aliança, o ponto de referência prevalece na primeira aliança e do Horeb-Sinai.

Uma vez que aliança não deve ser entendida, apenas, como uma prática da vontade de Deus, e sim como a exteriorização da pratica do bem e da prosperidade ai povo escolhido por Deus.

De fato que existe um personagem portador do merecimento de ser lembrado como aquele que “liderou” a aliança. Este é Moises. Este quer recuperar a aliança que o povo de Israel outrora perdeu.

As relações existentes entre as alianças estão no livro de Dt 26, 5-10, que explicitam a experiência da aliança. E ainda há duas coisas que apresentam as duas alianças, que é o começo da palavra YHWH e a recomendação de guardar os mandamentos. Só esta última é repetida duas vezes.

A reciprocidade da formação esta na troca de palavras e de declarações. É uma espécie de juramento que tem como principio a promessa da observância dos mandamentos e de tantos outros meios que possam favorecer a vivência do povo. É semelhante a um casamento, onde um jura fidelidade ao outro: uma reciprocidade propriamente dita. Caso não haja um compromisso entre ambas as partes, não se pode falar em aliança, e sim em desregramento perante a população.

O primeiro lugar da experiência é a liberdade de entrega de um ao outro. É através da liberdade de viver as leis ou os decálogos que haverá uma justa liberdade de escolha sobre a observância e a fidelidade frente a tal relação.

Sem dúvida alguma que o autor do livro do Deuteronômio não cansa de frisar que o fundamental da experiência da aliança é observar e guardar os mandamentos. Óbvio que não somente é necessário observar as leis, mas sim em procurar vivenciá-las a cada dia, de forma livre e voluntária.

Com toda a certeza que se não houver uma reciprocidade entre a troca de formulações de palavras e variadas declarações, não tem como existir aliança entre os povos e, mais anda, com o próprio Deus.

Já no capítulo 27 do mesmo livro Bíblico, a aliança ganha uma conotação de um ritual enquanto se trata na leitura e da vigoração da lei. O aspecto do sacrifício ganha atenção maior na lei, pelo fato de que ele representa uma aliança com o povo de Deus.

Sem dúvida alguma que é o sacrifício o aspecto mais relevante para a vida cristã daquele período. É um ritual em que a pessoa se doa a comunidade de a tal ponto de realizar tarefas não tão comuns. É o sacrifício o ponto chave da relação entre o cristão com a comunidade em que pertence e, principalmente, com o Deus criador.

Vale ressaltar que o sentido real da aliança e do cumprimento da lei não reside no fato, exclusivamente, de cumprir por cumprir, mas de entender o verdadeiro motivo de realizar tal ação. Se tivesse o objetivo de somente cumprir as leis, então deixaria de ter valor cristão e seria, meramente, uma lei dos homens sem qualquer interferência divina na vida humana e suas respectivas relações.

Há duas coisas importantes que podem e devem ser vistas no decálogo: a primeira se trata da leitura pública de suas leis; e a segunda é a forma destas mesmas leis serem uma forma de maldições. Tudo aquilo que é lido advém do livro Torah. Não se quer só descrever o ritual da aliança frente aos variados episódios do Sinai, mas quer criar um laço com a concretização e real prática desta mesma aliança.

A aliança é, antes de qualquer coisa, um contínuo escutar e, a partir daí, uma resposta ao que se ouviu. Se não houver um eco da lei que seja representado por obras, então a aliança perde o seu sentido original e essencial.

Esta ação se tornou o alicerce da celebração em Israel. A lei se torna uma das coisas que devem ser vivenciadas e ouvidas a cada dia pelos israelitas. É a missão de todo israelita de cumprir com os preceitos contidos no decálogo.

A resposta do povo frente as leis lidas publicamente será uma espécie de juramente ao que se ouviu. Se torna, assim, inadmissível fazer um juramento sem o exercício do mesmo. É indispensável que o povo ouça e jure cumprir o que a lei exija que ele mesmo faça, do contrário a lei não tem serventia para a sociedade daquele tempo.

Desta forma, a aliança se torna uma possibilidade de abertura para o ato de escutar e, possivelmente, de sua prática. É, sem dúvida, uma forma de novo na experiência da aliança. Um juramento, naquela época, era uma coisa sagrada e de importante prática.

Como já fora dito anteriormente, não basta jurar porque faz parte da tradição e exercer tal juramento por mera conveniência social e tradicional: é de suma importância entender perfeitamente o que se esta fazendo e faze-lo de forma livre e espontânea. Do contrário, não há sentido algum falar de aliança sem o verdadeiro exercício da liberdade para a ação de tal prática.

Ter a plena voluntariedade em aceitar e entender a aliança é indispensável para que ela atue na vida da comunidade sofredora. No livro do Deuteronômio é fácil identificar que a relação em que o povo deveria estar submetido estava, intrinsecamente, ligada ao ritual em que este mesmo povo deveria cumprir. Para que fosse cumprido e feito tal ritual, era preciso que houvesse um breve tratado de como realizar determinado ritual. Isto resulta, sem dúvida alguma, na aliança prometida por Moises e tantas outras passagens Bíblicas.

Um tratado remonta a idéia desta mesma aliança que se inspira na prática política dos tratados. As bênçãos e as maldições apresentadas no capítulo 28 do Deuteronômio apresentam uma aliança semelhante a do tratado da aliança. Isto porque esta mesma aliança ganha uma característica jurídica.

Óbvio que o tratado da aliança não quer ser igual a um conjunto de leis jurídicas formuladas pelos homens, mas é seguindo o seu estilo que a aliança vai e desenvolvendo em seu curso de vida.

Esta, a aliança, se torna algo escrito em forma de leis que devem ser observadas e cumpridas pelo povo, para que desta forma haja a real prática das promessas de Deus em meio a sociedade daquele período.

É uma aliança porque ela esta comprometida com o povo. Certamente que o autor do Deuteronômio ressalta que o fato do Sinai foi um momento constituinte de Israel como povo. Este, o povo, faz uso de sua liberdade no momento em que decide se comprometer com a aliança. Ou seja, aceita, de forma livre, cumprir com os preceitos e normas da aliança.

Deus não quer que seu povo sofra ou que viva de forma desordenada, o contrário ele não seria um Deus bom e preocupado com seus filhos. Por esta razão que ele fez uma aliança, a fim de beneficiar seus filhos a pratica do bem e da concórdia uns com os outros.

Uma vez que se infiltra na aliança, existem duas possibilidades que podem resultar deste mesmo ato: um é a felicidade e o outro é a infelicidade. De certo que não há como prever qual será p destino daquela determinada pessoa que cumpriu ou não com os preceitos da aliança.

Fato é que a pessoa faz uso da liberdade para escolher qual será o caminho que quer seguir. Não tem o porque haver uma “imposição’ que obrigue a pessoa a fazer tal ação que não seja da própria vontade. Apenas uma coisa é digna de ser mostrada: de que seja qual for a escolha que a pessoa fizer, haverá sempre uma conseqüência, seja ela boa ou não.

No capítulo 28 do Deuteronômio são apresentadas duas partes distintas dos níveis de história. Uma é a parte simétrica que fica entre bênçãos e maldições, das condições habituais da vida do povo. A outra parte é denominada como não-simétrica que denota dos acontecimentos que pesam sobre as condições humanas de um povo, como: opressão, a insegurança, as deportações. Situações estas que são ocorrentes frente a má falta de consciência do comprometimento com a aliança em que cada pessoa deveria estar preocupada em cumprir. Caso a pessoa não a cumpra, então as conseqüências são danosas e inesperadas.

Claro que a pessoa pode ou não escolher fazer parte da aliança. Mas se optar em não ouvi-la e nem colocá-la em prática as leis exigidas pela aliança, os resultados sobre esta pessoa será “danoso”

Tendo este ponto de vista que esta expresso em Dt 18 se faz preciso que haja um maior ponto de vista, tendo como consideração que o livro de Deuteronômio trata da questão da liberdade, da saída da escravidão, estrutura quase todo o seu livro.

Ainda em Deuteronômio a experiência da aliança é vista numa ótica de livre escolha. Após ter tirada da servidão o povo e, após isto, ter construída uma aliança do Sinai, relação esta que a liberdade estava, até então, num estágio de possibilidade de acontecer, Israel mostrou, ao longo de sua história, a sua incapacidade e impossibilidade de se manter nesta liberdade.

Eis ai uma aproximação entre Deuteronômio e o profeta Jeremias. A partir deste resultado é preciso pensar a forma da Aliança. Justamente isto que em Dt 29-30 irá fazer.

Uma aliança para ser bem sucedida e realizada é preciso que seja em vista de um bem. No caso de Deuteronômio, a aliança é sinônimo de viva harmonia e plena concórdia entre os membros da comunidade e, principalmente, com Deus.

Nestes capítulos acima citados, se percebe, de forma nem clara, a ânsia que o autor possui de renovação da aliança, em todos os seus aspectos. Estas leituras começam com uma breve lembrança daquilo que YHWH realizou nas ações do Egito.

Refere-se, ainda, sobre a passagem do sinônimo dimensional da aliança, que é mais política pelo fato de ser engendrada na vida social e posta como conhecimento para o povo de todas as classes sociais.

Mas, agora, ela possui uma dimensão mais ética. Se é uma aliança divina e com o intuito de gerar o bem dentre os homens, então é necessário que os resultados da leis sejam ressoados na moral da relação entre as pessoas, ou seja, que seja refletida em forma de uma ética.

Mas, juntamente com esta ética esta um pequeno e grave problema: o mal uso que muitos fazem desta mesma. Se uma pessoa não sabe utilizar bem a sua liberdade, então não há como ela vigorar a aliança em meio aos homens. E ainda, não há como ter um futuro repleto das iniciativas de Jesus vigoradas na terra.

Thiago Marques Lopes
Enviado por Thiago Marques Lopes em 16/02/2010
Código do texto: T2090014