O Código da Vinci: Fato ou Ficção?
O livro escrito por Dan Brown já foi traduzido para mais de 20 línguas em mais de 40 países e já vendeu mais de 40 milhões de exemplares. Agora foi transformado em filme, dirigido por Ron Howard, e tem como ator principal é Tom Hanks, estreou no Brasil na última sexta-feira, dia 19/06. A produção custou US$ 125 milhões. Neste artigo vamos abordar os principais pontos abordados pelo autor do best-seller e que tem causado tanto impacto nos leitores.
Resumo
A história começa com o assassinato de Jacques Saunière, curador do Museu do Louvre em Paris e Grão-mestre de uma sociedade secreta chamada Priorado de Sião, guardiã do “Santo Graal”.
Segundo o romance o Santo Graal não é o cálice onde Jesus tomou o vinho na ceia, mas Maria Madalena. O grande segredo protegido pelo Priorado de Sião corresponde ao corpo de Maria Madalena e um conjunto de documentos que comprovam que ela foi casada com Jesus e teve uma filha com ele chamada Sarah. Somente quatro membros da sociedade secreta sabiam a exata localização do Graal. Esses guardiões são assassinados, inclusive o curador do museu, por um monge de ma sociedade católica chamada Opus Dei que não tem interesse que a verdade sobre Jesus seja divulgada para o mundo.
Os descendentes de Jesus, segundo o livro, deram origem à dinastia dos merovíngios, os quais são os legítimos herdeiros do trono da França.
Antes de morrer Jacques Saunière, sabendo que os outros guardiões haviam sido assassinados, deixa uma mensagem em forma de anagramas para sua neta, revelando o segredo do Graal, a fim que a verdade não morra com ele. A partir daí desenrola-se toda a trama.
Em sua obra, Dan Brown Nega a divindade e a ressurreição de Cristo e a Inspiração das Escrituras, declarando que tudo que aprendemos não passa de mentira. A igreja de forma proposital tem feito tudo para encobrir a verdade acerca do relacionamento de Jesus com Maria Madalena, pois caso esta viesse à tona seria o fim do cristianismo.
Os enganos:
Podemos perceber que Código Da Vinci contém muitos erros dos quais destacamos:
O Priorado de Sião:
O Priorado de Sião é apresentado como uma sociedade secreta fundada em 1099 por Godofredo de Buillon, rei da França. Em 1975, a Biblioteca Nacional de Paris, descobriu os pergaminhos conhecidos como “Os Dossiês Secretos”, que identificavam vários supostos membros da sociedade dentre os quais constam Isaac Newton, Victor Hugo e Leonardo da Vinci.
Os fatos, porém, são diferentes. O priorado de Sião foi fundado oficialmente por Pierre Plantard em 1956, na França. O pedido de autorização de constituição foi protocolado na Subprefeitura de Polícia de Saint-Julien-em-Genevois. A sede localizava-se na própria residência de Plantard. Foi esse senhor quem começou a divulgar a mentira de que sua sociedade remontava a idade média e que tinha em seu rol de grãos-mestres figuras notáveis como Leonardo da Vinci.
Godofredo Buillon, que nunca foi rei da França, e nem o fundador da referida sociedade, mas o criador da Abadia de Sião, a qual foi dissolvida pelo Rei francês Luis XIII em 1619 e nada tem a ver com o Priorado de Sião.
O próprio Plantard, em 1993, admitiu diante do Juiz Thiery-Jean Pierre, por ocasião do processo de investigação da morte de Roger Patrice Pelat, que havia criado a sociedade secreta com o intuito de se legitimar como herdeiro do trono francês, por ser supostamente descendente da dinastia merovíngia. Ele também confessou que forjou os Dossiês Secretos e os plantou na Biblioteca Nacional de Paris. Portanto aquilo que Dan Brown considera fato é uma grande fraude já desmascarada pela justiça.
Manuscritos do Mar Morto.
O livro declara que os manuscritos do Mar Morto foram encontrados na década de 50 e que trazem toda história sobre o Jesus e Maria Madalena; e que o Vaticano tentou evitar que os mesmos fossem divulgados (p. 251).
Na verdade os referidos documentos foram descobertos no ano de 1947 e amplamente divulgados e estudados por especialistas de vários credos religiosos, encontrando-se atualmente em Israel. Os estudos acerca desses manuscritos revelam que seu conteúdo corresponde a fragmentos de quase todos os livros do AT (menos Ester) e o livro de Isaías; bem como regras da comunidade dos essênios. Não há qualquer menção a Jesus e a Maria Madalena. Vale ressaltar que os manuscritos de Qumram, como também são conhecidos, corroboram a autenticidade dos escritos veterotestamentários.
Os manuscritos de Nag Hammadi , mencionados no livro, foram encontrados no Egito em 1945, chamados Manuscritos de Nag Hammadi. Tratam-se de 46 livros apócrifos, escritos em copta e em forma de códex, dentre os quais se encontram “O Evangelho de Tomé”, “O Evangelho de Maria” e “O Evangelho de Filipe”, estes últimos serviram de base para a obra de Dan Brown. Ao contrário do que é dito eles não falam que Jesus era casado com Maria Madalena.
3. Os evangelhos.
Segundo o romance mais de 80 evangelhos foram estudados para compor o NT (p.248). Esse número está exagerado. Na verdade são cerca de 20 evangelhos.
O cânon do Novo Testamento.
O romance também declara que todo o canôn do Novo Testamento foi decidido no concílio de Nicéia.
Mas antes desse concílio muitos escritos dos pais da igreja como os de Orígenes e o Cânon de Muratori (c.180 d.C) trazem listas do canôn do Novo Testamento, apesar de algumas diferenças.
O processo de formação do cânon neotestamentário foi um longo processo que se iniciou nos primeiros séculos do Cristianismo e terminou muito depois da morte de Constantino não tendo este participado diretamente do processo. O máximo que ele fez foi, no ano 331 d.C, pedir que Eusébio providenciasse 50 cópias da Bíblia cristã para serem distribuídas com as igrejas construídas em sua cidade imperial, Constantinopla.
Os descendentes de Jesus e Maria Madalena
Segundo o livro Jesus foi casado com Maria Madalena e a escolheu para ser líder da igreja cristã. Isso despertou raiva nos apóstolos, e principalmente em Pedro, que desencadearam uma perseguição obrigando-a a fugir, com a filha que teve com Cristo (Sarah), para a Galia (França). Daí originam-se os merovíngios que foram os fundadores da cidade de Paris.
Não há nenhuma fundamentação histórica para essas declarações. O autor baseia-se no evangelho apócrifo de Maria e de Filipe. Quanto a Paris, esta cidade já existia muito tampo antes de Jesus. Foi fundada por uma tribo gaulesa chamada parisi. Os merovíngios fizeram de Paris a capital da França em 508 d.C.
O romance declara ainda que Maria Madalena era descendente da tribo de Benjamim, possuindo sangue real e que o evangelho de Filipe descreve Maria como companheira de Jesus. A palavra companheira em aramaico indica esposa. No entanto, não existe nenhuma base histórica em nenhum registro, nem mesmos nos documentos de Nag Hammadi, com informações sobre a genealogia de Maria Madalena de modo que possa ser determinado que a mesma pertence à tribo de Benjamim. Ademais o Evangelho de Filipe foi escrito em copta, uma antiga língua egípcia, e não em aramaico; e palavra que aparece no livro para companheira significa amiga, camarada e não tem o mesmo sentido que esposa.
Quando o autor cita esse evangelho para dizer que Jesus costumava beijar Maria Madalena na boca, ele esquece de informar aos leitores que essa parte corresponde a uma das muitas outras que estão danificadas e com falhas no original. Veja como este texto aparece no manuscrito:
“E a companheira do [falha] Maria Madalena [falha] mais do que [falha] os discípulos [falha] beijá-la [falha] em seu/sua [falha].”
Caça às bruxas
Dan Brown declara que durante 300 anos a igreja queimou na fogueira cinco milhões de mulheres (p.135). Esse número é muito exagerado. As informações mais precisas falam que foram ente 30 e 50 mil homens e mulheres entre os anos de 1400 e 1800. No filme o número muda para 50 mil, mas continua errado, pois desse total, cerca de 25% eram homens.
Opus Dei
Segundo o romance o Opus Dei é uma prelazia do Vaticano. Durante a trama um monge do Opus Dei, Silas, comete vários assassinatos com o objetivo de encontrar a pedra-chave que levaria ao Santo Graal. A intenção do líder do Opus Dei (Aringarosa) era destruir as evidências de que Maria Madalena havia se casado com Jesus e tido uma filha com Ele e se, necessário eliminar os descentes ainda vivos.
Mais uma vez há dois erros que precisam ser corrigidos. O Opus Dei é uma prelazia pessoal da Igreja Católica, aprovada pelo Papa João Paulo II, e não uma prelazia do Vaticano. Essa ordem não possui monges, mas apenas Padres e leigos.
A pirâmide de vidro do Louvre
O autor afirma que essa pirâmide é composta por 666 losangos de vidro, quando na verdade são 673.
A Virgem dos Rochedos (Madona das Rochas)
Trata-se de uma obra de Leonardo da Vinci, produzida entre 1483 e 1486 a pedido dos Padres da Confraria de Imaculada Conceição, e não das freiras como consta no livro (p. 148). Ali também encontramos a informação de a tela mede 150 cm. Pesquisa no site oficial do museu do Louvre revela, no entanto, que a obra mede 199x122 (www.louvre.fr/anglais/collec/peit/0777/peint-f.html).
Ademais o romancista interpreta a obra de da Vinci de forma equivocada. Segundo ele Maria está segurando Jesus. Ao seu lado o anjo Uriel com um menino que seria João Batista. João estaria abençoando Jesus, que se mostra submisso. Maria está com a mão estendida sobre João em um gesto ameaçador. Seus dedos parecem garras segurando uma cabeça invisível que é cortada pelo anjo Uriel (p. 148-149).
A opinião dos especialistas é bem diferente. Primeiro, a criança que Maria segura no colo é João Batista e a que está ao lado de Uriel é que é Jesus. Nesse caso é Jesus quem abençoa João Batista. E a mão de Maria está sobre Jesus, não em atitude de ameaça, mas como proteção. Uriel aponta para João, pois é seu anjo da guarda.
A última ceia
Pesquisando um pouco sobre essa obra, aprendemos que não se trata de um afresco, como declara o livro na p. 252, mas de uma pintura mural com técnica de óleo e têmpera sobre gesso. O afresco é outra técnica que não foi utilizada por da Vinci nessa ocasião.
Na página 253, Sr. Leigh Teabing explica que a figura que aparece à direita de Jesus não é João, mas Maria Madalena. E que a ausência do cálice na cena indica que ela mesma é o Santo Graal. Especialistas em artes explicam que a obra em referência não retrata a instituição da ceia. Por isso não aparece o cálice. O que da Vinci queria retratar era o momento que Jesus dizia aos apóstolos que um deles seria o traidor. Portando a obra foi baseada em Jo 13.21-24.
Quando ao aspecto feminino com que João foi retratado na obra, estudiosos afirma isso era um recurso comum da arte renascentista e visada retratar o personagem de forma mais pura e santa. Se observarmos a obra veremos que outros personagens tem aspectos femininos.
O Tetragrama YHWH
Nas páginas 328-329 o livro de Dan Brown apresenta a informação de que o nome bíblico de Deus deriva do nome Jeová; e que é a união entre o masculino Jah e o feminino pré-hebraico de Eva, Havah. Também declara que no templo de Salomão o Santo dos Santos abrigava Deus e sua consorte feminina, Shekinah. Que no culto, os sacerdotes praticavam sexo cerimonial para poderem experimentar o divino.
Mas o nome YHWH não deriva de Jeová, mas o contrário. Jeová é que é uma adaptação de IHWH (consoantes) com as vogais da palavra Adonai.
Primeiramente a palavra shekinah não aparece no AT. É um termo hebraico para designar a manifestação da glória de Deus. Em segundo lugar, em nenhum momento na Bíblia fala de uma consorte feminina de Deus.
Fonte: http://www.valedebencaofortaleza.com.br/sistema/noticia.php?code=17