A Saga continua....
O que há de tão fascinante na imortalidade? O tempo, algo tão efêmero para o humano. Assim, toda metáfora que nos coloca diante do tempo que é eterno nos fascina.
O que é o vampiro? É aquele que tem o tempo a sua disposição e nesse sentido, nos parece quase um Deus. Ele é lindo, forte, rápido, destemido. E então o que acontece quando a tudo isso soma-se um sentido de bondade, compaixão e ética, altruísmo...e até mesmo amor? É como um Deus encarnado.
Não há como resistir! Nossa humanidade fica muito mais frágil do que já é, muito sem graça, sem sentido. O sentido da vida e da humanidade se perdem. E é muito fácil escolher a imortalidade.
Na saga de Crepúsculo, Lua Nova, Eclispe e Amanhecer (que ainda estou lendo) a personagem romântica escolhe que deseja vampirizar-se para estar eternamente ao lado de seu amado, que a propósito é um vampiro “vegetariano”.
Vegetariano porque ele e sua família decidem alimentar-se apenas de animais selvagens, predadores. Mas o alimento continua sendo a vida. Sim um vampiro que vive em família. Eles não se comem vivos, não competem entre si, eles se apóiam e se fortalecem em suas fraquezas.
Família. Um paradigma simplesmente incrível, mais uma das grandes metáforas destes livros. Eu diria mais que uma metáfora, um tapa na cara mesmo, no que se tornou muitas famílias atualmente.
Ainda assim uma imortalidade que se alimenta da vida esvaída na morte!! Deve ser por isso que o vampiros são tão frios e praticamente indestrutíveis.
A vida é que é quente, pulsante, aconchegante, emocionante, instintiva, intuitiva.
Perder seu grande amor (Lua Nova), por puro altruísmo dele, causa nesta personagem uma dor tão profunda que a vida dela se esvai de todo o sentido emocional e psicológico. Ela se mantém viva apenas no físico. Pressionada por aqueles que a amam, porque vêem que ela está morta em vida, ela procura recomeçar amizades e seu melhor amigo mais tarde transforma-se num lobisomen. Por que? Porque há vampiros por perto e a missão dos lobisomens é exterminá-los. Encrusilhada difícil para ela, amar um vampiro e um lobisomen, dois seres que se excluem mutuamente.
O lobisomen é muito, muito quente. É rápido, vive muito, muito tempo mesmo, é instintivo e pode viver tanto quanto um vampiro. Não é difícil reencontrar alegria de viver ao lado de um ser assim. Sua vitalidade, força e beleza são sedutoras. Sua proteção é um bálsamo.
Mas o que fazer quando o coração já foi quebrado em mil faces e se recusa a curar-se? O que fazer quando este coração fica cego pela dor e só vê a felicidade de uma única ótica.
O medo de sofrer de novo, o medo de não suportar, cega qualquer possibilidade de oportunidade. A felicidade está chamando, estendendo a mão, mostrando claramente toda a sua intensa realidade, mas ela simplesmente não é vista, ela só é admirada como um remendo, um paleativo. Mergulhando na dor, nada fica claro. A dor não é uma ilusão, mas ela cria muitas ilusões, ela limita todo o foco da realidade, ela limita o amor. Será tarde quando o amor pelo lobisomen se mostrar uma realidade???? Encrusilhada para essa personagem....Eclipse...
Quantas são as vezes em nossas vidas em que diante de um sofrimento ou muitos, escolhemos nossos vampiros, nossos frios vampiros, nossos indestrutíveis e protetores vampiros. Escolhemos deixar que o coração pare de bater e o nosso corpo seja tão duro como o aço.
Nosso imenso medo de sofrer, nosso imenso medo da fraqueza em lidar com essa dor, nos faz escolher o abraço frio do vampiro (morte), ao abraço quente do lobisomen (vida).
Abrimos mão da humanidade, da fragilidade e escolhemos uma vida que se alimenta da morte. Morte dos sentimentos, das possibilidades, da alegria espontânea e corajosa, aquela que pode acabar a qualquer momento, aquela que não podemos manipular, persuadir, seduzir, como o "vampiro" sempre pode.
É muito interessante a metáfora do vampiro, pois mesmo sendo um vampiro bom e ético, ele é frio, é duro, quase indestrutível e, sim ele é morto, ele “vive” porque se alimenta da vida. É um amor que vive da morte.
Já a metáfora do lobisome: ele não mata, ele não precisa disso. Ele é quente, aconchegante, emocionante, é fiel, é protetor. É um amor que vive de vida. Ele não é totalmente humano, mas é humano também, ele vivencia da humanidade e se abstém dela por escolha e sempre pode voltar a ela. Um amor que vive da humanidade. E a humanidade é assim, ela é um amor que vive de vida.
Estas são algumas reflexões que podemos fazer ao ler esta linda saga que é Crepúsculo e sua sequência.
E então eu poderia poetizar um pouco....num eu lírico que seria assim...
“Dessa imortalidade que me encanta, o que me assusta é essa eternidade sem limites,
o que quer que seja que venha, será para sempre...
A beleza me fascina. A força, o poder, me seduzem.
Assusta-me é esta morte, que me espreita a cada momento que inexovavelmente preciso “viver”, pois desta imortalidade eu tenho que beber frequentemente...
Então esta imortalidade é mortal, mas só o é na loucura, que não consigo escolher, pois eu sempre bebo, da imortalidade da morte !! E esse paradoxo me apriosa!
Ficou para traz o humano, a fraqueza, o fim.
O amor no sentido mais construtivo.
O amor humano dá a vida, não a tira.
Elegeu-se o amor destrutivo, vaidoso, mortal.
Um amor construído de altruísmo e paixão...
Até quando....”
(Valéria Trindade)