O que é mesmo fidelidade?
Lançado em 2005 pela editora Agir, o livro Amor em segredo, de Sonia Rodrigues, traz crônicas autobiográficas que revelam o olhar da escritora, filha do amor e da “infidelidade” de Nelson Rodrigues, sobre abordagens variadas do tema amor e sexo.
Na primeira parte da obra, a mais interessante na minha opinião, Sonia fala de intensidade, armadilhas, amor, infidelidade, fidelidade por obrigação, sobrevivência, cultura de segredos, família, transgressões, perversões. Enfim, discorre sobre a gama de situações que envolvem as relações e o amor entre homem e mulher e família.
A autora também repete quanto a sua vocação para a escrita e logo no segundo texto adianta “é bom sobreviver às histórias, mas o melhor mesmo é ter o que contar”... “Se as pancadas não doessem, não precisaria transformá-las em palavras, em histórias...exorcizo os tigres com a palavra. Às vezes, ganham eles. Outras, ganho eu...quando a gente sobrevive, as recordações ficam divertidas”. Amor em segredo é de leitura rápida, estrutura e linguagem simples, para quem gosta de autobiografia em forma de crônica e devaneio.
Por Solange Pereira Pinto
Trechos do livro:
“Não sei o que é pior. Amar muito e se machucar ou amar certo e não se machucar. Voltando ao meu pai, à minha origem apaixonada: no amor a gente não faz o que quer, faz o que pode.”
“Só isso. Amar quem a gente quer amar, trair quando trais é a única alternativa, contar histórias para sobreviver a elas.”
“Preciso menos de quem me traduza a vida. Mas ainda preciso de companheiros de versão.”
“Eu fui infiel naquela vez e, em todas as poucas vezes em que fui infiel às pessoas que amo, o fui porque minha sobrevivência estava ameaçada.”
“Compreender que, na prática do amor, é impossível seguir modelos. Comprovar que a fidelidade não depende da gente, e simj da pessoa amada. Reconhecer que a fidelidade por obrigação é uma virtude vil. É indigno, é vil ser fiel a quem nos trai, a quem não nos ama como achamos que merecemos ser amados. Por isso, me espanta quando as pessoas acreditam que podem amar mal e ser poupadas. Não são. Essas pessoas se enganam. Por trás, na surdina, as esposas, os maridos, os filhos, os amigos estão se vingando do desamor”.
“Conformada, não aprenderia a quantidade de coisas que aprendi, não freqüentaria ambientes diferenciados dos que freqüentam meus pares, não bateria de frente com a omissão de uns, a truculência de outros, as dificuldades e incoerência de pessoas próximas.”