O gato Malhado e a Andorinha Sinhá

Revisando antigas agendas, encontrei o rascunho deste bilhete que deixei na portaria do prédio de uma amiga... Incluo logo após uma resenha deste livro que adoro reler pela beleza poética, pelo primor da escrita da incursão do querido Jorge Amado na literatura Infanto juvenil.

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Querida, relaxe... Tal qual o Gato Malhado seu Adônis deve ter se encantado por uma fêmea, certamente da mesma espécie, ao contrario do Malhado que se apaixonou por uma andorinha .... Não se preocupe, ele voltará com certeza estropiado, arrebentado, mais morto do que vivo mas feliz da vida, com sua libido felina em dia.

Querida, eles, os animais ditos irracionais são “sábios” e por mais “personalidade” que achemos que eles têm ou aparentem mesmo ter, não abrem mão de extravasar seus instintos. Tolos somos nós, os humanos, que sublimamos os nossos com rezas, literatura, chocolate, macarrão...Pense nisso.

Enquanto espera leia (ou releia) este livrinho/livrão delicioso. O gato Malhado e a Andorinha Sinhá é uma linda estória de amor entre diferentes, mas iguais perante o sentimento, perante a atitude de ser e estar aberta às surpresas da vida. Amor inusitado mas amor , enfim.

Beijo e sossega!

MACEIÓ, setembro de 1986

Da Série DO FUNDO DO BAÚ

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O gato Malhado e a andorinha Sinhá

Posfácio de Tatiana Belinky e ilustrações de Carybé

O temperamento do gato malhado não era dos melhores. Sua fama de encrenqueiro era tanta que, quando ele aparecia no parque, todos fugiam: a galinha carijó, o reverendo papagaio, o pato negro, a pata branca, mamãe sabiá, os pombos, os cães. Até as flores se fechavam à sua passagem. Ao descobrir que todos os bichos tinham medo dele, o gato fica arrasado. Mas logo retoma sua indiferença habitual, pois não se importa com os outros.

O que ele não sabia é que havia alguém que não tinha nem um pouco de medo dele: a andorinha Sinhá. Num dia de primavera, o gato percebe que ela foi a única que não fugiu quando ele apareceu. A andorinha justifica sua coragem: ela voa, ele não. Desde aquele dia a amizade entre os dois se aprofunda, e no outono os bichos já vêem o gato com outros olhos, achando que talvez ele não seja tão ruim e perigoso, uma vez que passara toda a primavera e o verão sem aprontar.

Durante esse tempo, até soneto o gato escreveu. E confessou à andorinha: “Se eu não fosse um gato, te pediria para casares comigo…”. Mas o amor entre os dois é proibido, não só porque o gato é visto com desconfiança, mas também porque a andorinha está prometida ao rouxinol.

Com grande lirismo, a história do amor de um gato mau por uma adorável andorinha assume aqui o tom fabular dos contos infanto-juvenis. Além de se transformar em um improvável caso de paixão, a narrativa mostra como duas criaturas bem diferentes podem não apenas conviver em paz como mudar a maneira de ver o mundo.

E TEM MAIS...

O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá por Jorge Amado.

“A história de amor do Gato Malhado e da Andorinha Sinhá eu a escrevi em 1948, em Paris, onde então residia com minha mulher e meu filho João Jorge, quando este completou um ano de idade, presente de aniversário, para que um dia ele a lesse. Colocado junto aos pertences da criança, o texto se perdeu e, somente em 1976, João, bulindo em velhos guardados, o reencontrou, dele tomando finalmente conhecimento.

Nunca pensei em publicá-lo. Mas tendo sido dado a ler a Carybé por João Jorge, o mestre baiano, por gosto e amizade, sobre as páginas datilografadas desenhou as mais belas ilustrações, tão belas que todos as desejam admirar. Diante do que, não tive mais condições para recusar-me à publicação por tantos reclamada: se o texto não paga a pena, em troca não tem preço que possa pagar as aquarelas de Carybé.

O texto é editado como o escrevi em Paris, há quase trinta anos. Se fosse bulir nele, teria de reestruturá-lo por completo, fazendo-o perder sua única qualidade: a de ter sido escrito simplesmente pelo prazer de escrevê-lo, sem nenhuma obrigação de público e de editor.

Londres, agosto de 1976.

Mais curiosidades da obra de Jorge Amado http://www.jorgeamado.com.br/