"Re(cantos) de Mim", de Lu Cavichioli 
                                                    Parte I


                                        Sobre a Escritora    Sobre a
     A segunda orelha nos informa ser ela paulistana,  ficcionista, poetisa e esteticista, tendo 
já participado de três antologias:
Forja da Liberdade (contos) (“Almas Gêmeas”) 
Árvore da Vida (contos) (“O Conto do Relógio”)
Livro de Família (crônicas) (“O sono da bailarina”)
         
     Escreve no Recanto das Letras (
lucavichioli )
e administra três
blogs:
http://escritosnamemoria.blogspot.com
http://retratosemdegrade.blogspot.com



            
Divisões.  Projeto gráfico.
     
Divide-se o livro em Prefácio, Introdução e oito Partes.  Tanto capa, como papel, projeto gráfico, editoração e impressão ótimas.  
     A capa – um banco vazio entre jasmins, no relvado imenso, diante do mar infinito – nos passa a ideia de amplidão, paz e grandeza.



             
Houve revisão?! ?!  Houve
     Poemas repetidos:
página 50:
Lendas, e o mesmo, como Mitos, na pág. 57

página 50:
Palavras Vazias, que já se encontra inteiro na pág. 53

página 62:
Preenchendo Lacunas (abaixo de Sete Cadeados): este nem consta do índice. 



                  
Ilustrações musicais   
     Quanto às sete ilustrações da srtª Cynthia Cavichioli, bailarínicas, férteis, tocantes, lembram o mais aflito Beethoven e o mais meigo Vivaldi. Pura leveza e majestade --- lirismo gráfico, balé sem passos, ternura em expansão.


 
  
De orelhas, prefácio, demasias e do bem-vindo laconismo
de
A primeira orelha simplesmente parafraseia o conteúdo do livro, citando até alguns versos e/ou mesclando-os com palavras e expressões semelhantes.  Tudo dentro do figurino, do molde clássico que se espera de um orelhista: louvar ao máximo a obra, discorrendo amenamente sobre ela, promovendo-a, adornando-a, ataviando-a, ornamentando-a enfim, seja tal obra vazia de valores ou deles resplendente.
  
     No caso do
Re(cantos), a srª Madalena Barranco anunciou, com justa razão e autêntico alumbramento, perenes verdades artísticas, tal o valor sólido, maciço  da obra.  Parabéns.
  
     No Prefácio, o sr. Marcelino Costa, indeciso entre inúmeros poemas (também eu ficaria), seleciona alguns e sobre eles discorre, procurando proporcionar uma visão de conjunto.  Consegue, mercê de sua sinceridade e conhecimento seguro do ofício.
 
     Refere-se ainda à atuação cultural da jovem, nos mundos real e virtual da Literatura.
  
     A expressão “ela fez de muitos sites a morada eterna de alguns de seus textos”, evidente exagero generoso, coloca a poetisa no Parnaso dos Parnasos.  (Mais moderação, sr. Marcelino, que a jovem ainda ensaia seus talvez terceiros passos...)
 
     A magnificência do lavor artesanal e a precisão das informações torna opulento, no entanto, o seu prefácio, tão breve quão despretensioso.  O admirável capricho estilístico, sem a menor afetação ou superficialidade, a par dos insofismáveis argumentos críticos, tornam-no um prefácio dignificador.

 

       
D      a  Da Introdução    (Lu)
       Começa com “gavetas empoeiradas do esquecimento” e termina com “última missão”, passando por “poeta aprisionada”, “povoando de estrelas os olhos dos leitores” com “histórias de orvalhos e pássaros” e outras mordomias líricas.  Sim, senti-me um legítimo marajá (‘grande rei’, em sânscrito, como doutrina o Dr. Aurélio).
  
     A introdução consiste, a rigor, de límpida e altissonante prosa poética, seguindo uma lógica temática (por assunto).  Beleza incomentável. 
     Lu: gloriosos cânticos enluarados...




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      m,      I - Deficiências (imperfeições):

          Vícios de linguagem: 
     
a) Barbarismos:
pág. 54 - abre-te sézamo 
         Transcrevo o poema, visando a dissipar quaisquer dúvidas:
                
Sete Véus
          Ali Babás encenam
          Véus coloridos
          Sobre teu corpo
          Incensos desfilam
          Serpentinas:
 
          tesouros borbulham
          fagulhas na hora
          do brinde.
          aurora em violinos
          Fogo fátuo
 
          Abre-te sézamo.

            Valho-me de um  venerando mestre do próprio Recanto das Letras, 
FERNANDO KITZINGER DANNEMANN, contador de histórias, que narra o seguinte:
         “A palavra “sésamo” vem do latim “sesamum”, nome de uma planta herbácea que não é outra senão o nosso conhecido gergelim, cujos frutos contêm as mesmas sementinhas que os padeiros de hoje espalham sobre determinados tipos de pão.”
         Mais diz ele:
        
“A locução “Abre-te sésamo!” era pronunciada para abrir a caverna de Ali Babá e os quarenta ladrões, numa das histórias de As Mil e Uma Noites, um das obras mais famosas da literatura oriental.”
(
EXPRESSÕES POPULARES - ABRE-TE, SÉSAMO!)


pág. 55 -
Fluídos Secretos
     Empregado aí como substantivo, não possui portanto acento.  Se verbo fosse , seria o gerúndio do verbo fluir: fluído.  
     (Cf. caído, de cair; saído, de sair; e atribuído, de atribuir.)
     Logo, o correto é:
Fluidos Secretos.


pág. 91 -
semi-nua: é seminua 

pág. 111 –
colibriu: é colibri



    
b)Solecismos:
pág. 42 - Arabescos
                 Sob a garoa fina
                 Vejo a cidade
                 Que banha-se em gotas...
O certo é: Que se banha em gotas...

     Veja-se TERRA (2002, p. 473):
     “Não espere-me, porque eu não irei. (em vez de não me espere; desvio na sintaxe de colocação pronominal)”

 
pág. 61 –
Noites Ébrias
                   
Ele apoderava-se de mim
                    como os rios,
                    na primavera.  
O certo é:
Ele se apoderava de mim



     c) Erros de acentuação:
pág. 37: 
Luzes fatigadas no lençol
                  Por do sol angustiado

     O termo
Por do sol se encontra conforme com a ortografia ora vigente (sem hífen); faltou-lhe, porém, o acento circunflexo: Pôr.
     Já à página 65, acha-se grafado corretamente, no título do poema:
       
Eu quero ver o pôr do sol.

 
pág. 84 -
refôlho: é refolho (“folho sobre folho (tira de fazenda pregueada ou franzida); prega, dobra” - Aurélio).



     
d) Erros de pontuação (vírgula):
pág. 77:
Encontrar você,
                 fez de mim         
O certo é:
Encontrar você
                     fez de mim 

         
pág. 90:
se por sorte
                  a deusa, acordar 
O certo é:
se por sorte
                     a deusa acordar
 
      Melíflua Lu: as vírgulas mal colocadas obscurecem a translucidez das mensagens.
      


      
e) Erros de concordância verbal: 
pág. 26 – Aquarelando a paz
                    Gaivotas de branco 
                    Vem pintar de paz
                    A maresia, que enfim,
                    descansa 
                    No berço azul
                    Da eternidade     
 
Coteje-se as duas formas:
     A gaivota vem.
     As gaivotas vêm.


pág. 103 - 
Canção para Lauzídia
                         (...)
                         na face atingida pela dor
                         Vê-se agora - estrelas

Ficaria:  Veem-se agora estrelas.



      f) Erros de regência verbal: 
pág. 26:
Membranas amarelas
                  Esfarelam em 
                  Pétalas salgadas.
 
     O verbo esfarelar, aí, é pronominal: esfarelar-se (como esboroar-se, esfarinhar-se etc.).  Façamos a pergunta de praxe:
     As Membranas amarelas se esfarelam em quê?
     – Em pétalas salgadas.


pág. 55 - 
Sete Véus
          Ali Babás encenam
          Véus coloridos
          Sobre teu corpo
          Incensos desfilam
          Serpentinas:
 
          tesouros borbulham
          fagulhas na hora
          do brinde.
          aurora em violinos
          Fogo fátuo
 
          Abre-te sézamo.
 
     Em
“Incensos desfilam / Serpentinas”, parece-me faltar uma preposição essencial, ficando assim: “Incensos desfilam em / Serpentinas”.
     E em
“tesouros borbulham / fagulhas”, idem: “tesouros borbulham em / fagulhas”.

 
pág. 62 - 
Sete Cadeados
         
      Tem no rosto
               mistério sorriso

               Nos olhos,
               o castanho mergulhado     
               em tons esverdeados.

               A boca
               transpira rosas vermelhas.
               As mãos, muros infinitos
               corpo & pele     
               expondo-se
               em nuances do ocaso.

               na voz fatigada
               células
               eu conheço todas,
               mas não as penetro.
               Na mente?
               Sete cadeados.
               pensamentos 
               soterrados em neurônios.

     Em "pensamentos / soterrados em neurônios", a preposição "em" é inadequada, pois que não encontra respaldo nem no Aurélio nem no Houaiss.
  

     Só que não é tão simples assim.  Vejamos porque:
     Como existe, há milênios, a figura da "licença poética", nela se encaixa (e muito bem!) o "em" - prova de plena criatividade.  Ademais, a poetisa já vinha construindo orações com "em":
          
mergulhado 
            em tons esverdeados.

         expondo-se 
           em nuances do ocaso.    

           pensamentos
           soterrados em neurônios.

     Lu apenas completou a sequência lógica mental com os dois versos em questão; creio eu, de forma semanticamente legítima, válida na língua, exercendo um direito de usuária do idioma - alargando assim o significado do verbo soterrar, que a partir de hoje, além de ser transitivo direto e pronominal, é também transitivo indireto (carente portanto de preposição).
     É assim que a língua funciona e progride: com 
ousadia lexical.


pág. 109 – 
Porcelana
               Tua voz entoa
               Fina brisa     
               Em campos rosados
               Delicados passos
               Trazem tua figura     
               Deslizando sapatilhas
               Bailarina menina     
               Campos, rouxinóis                         
               Camélias & orvalho     
               Na florada – realçam           
               Silhueta dançarina
 
     Examinando o trabalho acima, sugiro duas modificações:
     1 - É
Deslizando em sapatilhas, salvo engano, pois o verbo deslizar se situa, aí, como transitivo indireto (pede portanto, como complemento, um objeto indireto – em sapatilhas, e não sapatilhas).

     2 - E ao verso final faltou um pronome possessivo:
Tua silhueta dançarina.  Ficará então completo e harmônico o poema, se comparado com os primeiro e quinto versos:
          Tua voz entoa
          (...)
          Trazem tua figura.

     
Porcelana semelha um signo místico que transita e se desenvolve candidamente poema afora, qual senha que abre portais encantados.
     Por conseguinte, nada de  alusões banais minhas, como:
delicada porcelana, tenro título, gracinha de título etc. 

 

     
g) Obscuridade nos enunciados:
          
I - devido à omissão de artigos:
pág. 88 – artigo “o”:
        
Vim através de ti
          Vim nu ---     
          em mares
          amnióticos de amor
          Sorvendo o néctar               
          placentário          
          de tuas células     
          (per)correndo frenético                         
          útero “rompido”
          em janelas vermelhas     
          Viagem 
 
     Os verbos (Vim, Sorvendo e (per)correndo), todos expressando movimento, atribuem ao eu poético a maior dinamicidade.  O adjetivo “frenético” completa essa agitação, favorecendo-nos na pergunta:  Vim (per)correndo “frenético” o quê? 
     Resposta incontestável:  O útero “rompido”.
  

pág. 90 – artigo “os”:
               
E se ela acordar?
                Devemos nos esconder
               sob olhares malévolos dos
                relâmpagos zombeteiros?
               (primeira estrofe de
Corpo de Pedra em alma)

     A pergunta, ao ser feita, contemplaria a seguinte estrutura frasal:
     Devemos nos esconder sob os olhares malévolos de quem?
     (E não
“sob olhares malévolos”).


pág. 108 – Em
Óleo sobre tela (transcrito mais abaixo), os dois últimos  versos da estrofe:
         
Quando as cinzas chegarem,
           o infinito será eterno,
           cristalina essência se fundirá
           em lunares esferas     

clamam por outra solução vocabular, mais 
viável, racional e sem sombras de estilo:
           
e tua cristalina essência se fundirá
             em lunares esferas

     Esse poema, não obstante os evidentes dotes estilísticos, projeta-se confuso, truncado, parcialmente incoerente, carente de umas dez releituras e cinco reescrituras.



          II - devido à redação confusa:
pág. 77 -
Biscoito Chinês(primeira estrofe):  
                 Encontrar você,
                 fez de mim
                 no olhar do dragão
                 o carnaval chinês.


 pág. 84 –
Turbilhão
               Nesta manhã,
               O sol veio trazer     
               Cheiros e memórias
               Repousando em frascos
               Descoloridos ecegos        
               Sonhos esquecidos 
               No refolho da página
               Epílogo dos inocentes


                                        Fim da Parte I
Jô do Recanto das Letras
Enviado por Jô do Recanto das Letras em 20/01/2010
Reeditado em 01/03/2010
Código do texto: T2039751
Classificação de conteúdo: seguro