Re(cantos) de Mim
Parte II
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II - Virtudes:
Intertextualidade:
I - Referências à Literatura Árabe
pág. 54 - Sete Véus
Ali Babás encenam
Véus coloridos
Sobre teu corpo
Incensos desfilam
Serpentinas:
tesouros borbulham
fagulhas na hora
do brinde.
aurora em violinos
Fogo fátuo
abre-te sézamo
pág. 55 - Tenda
Tua boca,
Dançarina das mil e
uma noites,
refúgio nas madrugadas
insones
caminho crepuscular
cristalina sepultura
II - Referências à Literatura Grega
pág. 17 - Arrastão
Em caramujos
Ouço maremotos
Gigantes em desespero
Levanta-se Poseidon
Oceano em fuga
pág. 26 - Orgias e Maremotos
Conchas agarradas
À beira-mar
orgia cintilante no
corpo do horizonte
O céu entorpecido
mistura embriagante
De luas e marés
Respira ofegante
Nos braços de Poseidon
pág. 50 - Lendas
Depois do azul
descobri o lilás,
que chegou
cobrindo-me
de hortências
Sonhei com o amor,
namorei o vento
e voei sobre o rio
Acordei nos braços
do sol,
dourada e com asas
Magia cintilante
Pífaros
em noites gregas
Figuras de Linguagem:
I - Aliteração
pág. 91 - Serenata ao Sol
Sereia salgada
sentada ao sol
suave e serena
sonora semente
semi-nua e sagrada
só serenata
Serenata ao Sol (título)
Sereia salgada
sentada ao sol
suave e serena
sonora semente
semi-nua e sagrada
só serenata
pág. 108 - Óleo sobre ela
(Analisado mais abaixo, em "Visão Geral da Obra")
II - Elipse
pág. 90 - O Olimpo
será cinzas
as meretrizes, donzelas.
Quer dizer, "e as meretrizes serão donzelas."
pág. 99 - onde a neblina é sol
e as flores diamantes.
Quer dizer, "e as flores são diamantes."
Observe-se ainda, na construção frasal abaixo,
O céu de seus olhos
cobriu-me
de azul
que o verso "O céu de seus olhos", já quase um lugar-comum, recupera o justo prestígio, em função dos versos seguintes: "cobriu-me / de azul".
Solução impecável.
pág. 107 - eu cometo semibreves
você, claves de sol
Quer dizer, "você comete claves de sol".
III - Polissíndeto
pág. 96 - sopra / sopra / sopro
IV - Prosopopéia ou personificação:
pág. 33 - a lua geme
pág. 37 - Por do sol angustiado
pág. 103 - os girassois estavam mudos e não
cantariam mais para o sol
V - Sinestesia:
pág. 33 vozes escritas
37 Luzes fatigadas no lençol
42 Finas luzes
76 vestido bordado em sândalo
78 cor doce
80 sabor azulado
83 dança perfumada
Sapatilhas florais
A voz dos campos
Brado colorido
93 deserto amarelo
Sombras áridas
Olhos cambaleantes
Gravetos guturais
84 frascos cegos
94 fatigadas folhas
95 noite jovem
100 voo cintilante
104 luz tímida
abajur do tempo
105 trinados dourados
verdes vozes
109 fina brisa
110 pitadas de afeto
E mais que sinestesia: à página 33, um título
inspirado: Luas Novas: Um Certo Linguajar de Plumas
Do Tributo à Ecologia
(Re)cantos de Mim focaliza sem dúvida a natureza: mar, terra, sol, chuva, orvalho, plantas, flores, bichos, campos...
Abre e fecha estrofes com o mar, o vento, a selva, a relva, com as águas do Gênesis.
Há epifanias, deslumbramentos perante a Vida, a Natureza, o Cosmos? - Há.
Há todavia verdadeiros lamentos pessoais, elegíacos, tensos, fundados no nosso desprezo pelo planeta: é quando o coração da srª Lu perde a alegria de viver.
E às vezes conclui versos ou estrofes invocando Deus: quem O sente e Nele crê, sequer necessita ver (presenciar) toda a tragédia ecológica, para agir em defesa do meio-ambiente.
Pungentes tais elegias, tão densas e profundas --- uma fascinante acusação íntima contra o descaso humano ante o nosso habitat.
Realmene bons:
pág. 29 – Luminária
30 – Retalhos de Prata
33 – Luas Novas: Um Certo Linguajar de Plumas
34 – Cartão Postal
40 – Cynthia
44 – Mensagem
51 – Noites e Pérolas
52 – Névoa
61 – Noites Ébrias
87 – Nave Mãe
93 – Templos de Areia
99 – Corações, marés e flores
103 – Canção para Lauzídia
Visão Geral da Obra
Nos oito segmentos do livro, a srª Lu condensa e mescla vivências, sonhos, fantasias e experiências, tendo por temas:
O Mar (“Pérolas de Maresia”)
O Céu (“Lágrimas de Prata”)
A Terra (“Vitrais”).
Só que atravessam essas 112 páginas, de forma irrefreável, incontida, imponderável, desconcertante, mística, muitas árvores e nuvens, asas e esferas, bosques e neblinas, campos e relâmpagos, distâncias e arredores, longínquas reminiscências, luas e primaveras, marés e vendavais, momentos e Eternidade, outonos e sementes, pétalas e ocasos, saudades e estrelas, sóis e despedidas, ternura e madrigais; e tardes, chuvas, noites, horizontes --- tudo envolto em névoas impenetráveis.
Senão vejamos:
Segredos
Tenho um refúgio
onde me entrego
às flores
nascidas no céu
finos corpos
de mel
São como estrelas
embalando jardins
O estranhamento tem início com “flores / nascidas no céu”, já que na verdade elas nascem, quando muito, na terra. E prossegue com “estrelas / embalando jardins”: se nasceram no céu, são astros. E a escritora as antroporfiza, atibuindo-lhes características de mães, que embalam filhos.
Afinal, o que é o estranhamento? – A surpresa estilística, com fins beletristas; ou qualquer solução verbal inovadora e inusitada. Faz-nos perceber conceitos e situações inesperadas, espantando nossa rotina de leitura e forçando a reinterpretação de um texto, numa operação mental que leva o ser humano a sentir sua essência sem o torpor cotidiano, mecânico quase, dos dias. Um acordamento súbito e divinizante.
Apropriamo-nos das palavras de Luiz Ruffato, escritor e crítico: é o “desvio do senso comum”.
O estranhamento surge a partir das figuras de linguagem (comparação, metáfora, metonímia, antítese...), que outorgam ao texto um encanto incomum.
Transcrevemos outro poema, minúsculo e singelo --- verdadeira confissão frágil:
Mão no queixo
Tu alinhavas meu corpo
a lua acende crateras...
A virgem coleciona esperanças.
Quanto aos dois primeiros versos, que parecem incongruentes, fazem sentido, pois alinhavar significa preparar, delinear, esboçar.
Logo, enquanto a luz da lua propicia o ambiente ideal ao romance, às carícias mais íntimas, estas permanecem todavia somente esboçadas, tentadas, iniciadas.
Daí o verso expectante, meio desesperançado:
A virgem coleciona esperanças.
Ora, esperanças (sabemo-lo dolorosamente) são pré-saudades. Numa leitura mais ousada, salientamos o aspecto erótico, sensual que emana do verso:
a lua acende crateras...
no contexto do poema: a “lua” é Lu, que se incendeia quando tocada, provocada...
Pois caso bem se repare, ela dá diferentes nuances, variados vieses aos seus textos, cumulando-os de sadia conotação.
E mais um poema, jóia sensível:
Óleo sobre ela
(Canto I)
Tua face é
Pintura e restauração
Na presença etérea dos tempos
mistérios continuam ocultos
Quando as cinzas chegarem,
o infinito será eterno,
cristalina essência se fundirá
em lunares esferas
Como virtude há, nele, a figura de som chamada aliteração (repetição reiterada dos mesmos fonemas consonantais, objetivando um efeito que maravilhe, que pasme, que estupefaça o leitor), constante nos seguintes vocábulos:
tela e canto (título)
tua, pintura, restauração, etérea, tempos, mistérios, continuam, ocultos (primeira estrofe).
infinito, eterno, cristalina (segunda estrofe)
A aliteração intensifica o ritmo dos versos e da prosa poética, concedendo-lhes ainda um clima de encantamento.
Da Relação Forma-conteúdo
Ora, o meu negócio é textos, idéias, beleza gráfica. Há neste livro grandezas e misérias explícitas, sob ânsia de forma literária.
Dito em outras palavras, mais reais talvez, posto que ainda metáforas: nele convivem e se tocam estrelas do pensamento e sarjetas léxicas, gramaticais. Lixo divino.
De estrutura libertária, sem ornatos extras, suas composições se firmam pela leveza vocabular e temática, pela tenra musicalidade, concordes com as expectativas dos locutários.
Uma escritura cuja subjetividade se reconstroi continuamente, ponderando de mil formas diferentes os mesmos temas fundamentais: a Natureza, o Céu, o Mar, o Homem, o Destino – e tudo que neles há, de angélico, satânico, grotesco, sublime ou imponderável.
Além do contínuo desencanto, das emoções tão necessárias, sobressaem as projeções coletivas oriundas de um eu lírico rebelde, inconformado com as injustiças humanas.
Não posso dizer seja este livro o mais poético da srª Lu, pois o conjunto de suas publicações me desmentiria. Possui porém ele uma capacidade de evocação impressionante, uma espontaneidade tão doce, um conjunto de emoções bem elaborado, em forma e conteúdo.
Evoca as reminiscências adolescentes da personagem, dando valor às coisas e fatos positivos, alegres, dignos de perene lembrança.
Foi uma honra analisá-lo, pois que constituído da mais genuína arte poética. Atingiu ele o mais grandioso objetivo literário: comover, fascinar, fazer relembrar, refletir sobre o nosso passado e fazer com que o questionemos e o comparemos com o presente --- levantando nossa fronte para o futuro.
Tenho plena consciência da fraca resenha que fiz. Aceito críticas e sugestões, que agradeço.
Do Bailado Cósmico
Computemos ainda as noções profundas e cortantes de filosofia, razão, conhecimento, holística e metafísica que ela expõe --- sua leitura crítica de mundo, ou: a vida respondendo à Vida.
Não custa lembrar que a autora, hoje uma mulher-feita, rabiscou esses poemas menina ainda, olvidando-os
numa gaveta antiga.
E, ao trazê-los a lume, certamente os modificou, despetrificando conceitos, dinamizando-os e modernizando-os. E atualizando recursos e experimentos estéticos. (Afinal, o Universo é puro movimento...)
Referências Bibliográficas
CALMON, Andréa. Guia da Reforma Ortográfica. SP, On Line Editora, 2009.
CEREJA, William Roberto e MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português – Linguagens (Literatura, Produção de Texto e Gramática). Vol. I, p. 57-63. 5ª ed. SP, Atual Editora, 2005.
COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. RJ, Ed. Vozes, 2008.
Hollanda, Aurélio Buarque de. Dicionário Aurélio Eletrônico.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss Eletrônico.
NICOLA, José de. Língua, Literatura e Redação. Vol. I, p. 266-269. SP, Editora Scipione, 1999.
Para Entender o Mundo Árabe - Revista EntreLivros nº 3, Ano I (2008)
TERRA, Ernani. Minigramática (supervisão de José de Nicola). P. 465-474. SP, Scipione, 2002.
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Resenha iniciada em 11/07/2009.
Metas pretendidas:
Modificações: 100
Consultas a dicionários: 500
Tempo: 24:00h.
Metas efetivadas:
Modificações: 234
Consultas a dicionários: 1.520
Tempo gasto até 08/02/2010: 68:00h.
Parte II
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II - Virtudes:
Intertextualidade:
I - Referências à Literatura Árabe
pág. 54 - Sete Véus
Ali Babás encenam
Véus coloridos
Sobre teu corpo
Incensos desfilam
Serpentinas:
tesouros borbulham
fagulhas na hora
do brinde.
aurora em violinos
Fogo fátuo
abre-te sézamo
pág. 55 - Tenda
Tua boca,
Dançarina das mil e
uma noites,
refúgio nas madrugadas
insones
caminho crepuscular
cristalina sepultura
II - Referências à Literatura Grega
pág. 17 - Arrastão
Em caramujos
Ouço maremotos
Gigantes em desespero
Levanta-se Poseidon
Oceano em fuga
pág. 26 - Orgias e Maremotos
Conchas agarradas
À beira-mar
orgia cintilante no
corpo do horizonte
O céu entorpecido
mistura embriagante
De luas e marés
Respira ofegante
Nos braços de Poseidon
pág. 50 - Lendas
Depois do azul
descobri o lilás,
que chegou
cobrindo-me
de hortências
Sonhei com o amor,
namorei o vento
e voei sobre o rio
Acordei nos braços
do sol,
dourada e com asas
Magia cintilante
Pífaros
em noites gregas
Figuras de Linguagem:
I - Aliteração
pág. 91 - Serenata ao Sol
Sereia salgada
sentada ao sol
suave e serena
sonora semente
semi-nua e sagrada
só serenata
Serenata ao Sol (título)
Sereia salgada
sentada ao sol
suave e serena
sonora semente
semi-nua e sagrada
só serenata
pág. 108 - Óleo sobre ela
(Analisado mais abaixo, em "Visão Geral da Obra")
II - Elipse
pág. 90 - O Olimpo
será cinzas
as meretrizes, donzelas.
Quer dizer, "e as meretrizes serão donzelas."
pág. 99 - onde a neblina é sol
e as flores diamantes.
Quer dizer, "e as flores são diamantes."
Observe-se ainda, na construção frasal abaixo,
O céu de seus olhos
cobriu-me
de azul
que o verso "O céu de seus olhos", já quase um lugar-comum, recupera o justo prestígio, em função dos versos seguintes: "cobriu-me / de azul".
Solução impecável.
pág. 107 - eu cometo semibreves
você, claves de sol
Quer dizer, "você comete claves de sol".
III - Polissíndeto
pág. 96 - sopra / sopra / sopro
IV - Prosopopéia ou personificação:
pág. 33 - a lua geme
pág. 37 - Por do sol angustiado
pág. 103 - os girassois estavam mudos e não
cantariam mais para o sol
V - Sinestesia:
pág. 33 vozes escritas
37 Luzes fatigadas no lençol
42 Finas luzes
76 vestido bordado em sândalo
78 cor doce
80 sabor azulado
83 dança perfumada
Sapatilhas florais
A voz dos campos
Brado colorido
93 deserto amarelo
Sombras áridas
Olhos cambaleantes
Gravetos guturais
84 frascos cegos
94 fatigadas folhas
95 noite jovem
100 voo cintilante
104 luz tímida
abajur do tempo
105 trinados dourados
verdes vozes
109 fina brisa
110 pitadas de afeto
E mais que sinestesia: à página 33, um título
inspirado: Luas Novas: Um Certo Linguajar de Plumas
Do Tributo à Ecologia
(Re)cantos de Mim focaliza sem dúvida a natureza: mar, terra, sol, chuva, orvalho, plantas, flores, bichos, campos...
Abre e fecha estrofes com o mar, o vento, a selva, a relva, com as águas do Gênesis.
Há epifanias, deslumbramentos perante a Vida, a Natureza, o Cosmos? - Há.
Há todavia verdadeiros lamentos pessoais, elegíacos, tensos, fundados no nosso desprezo pelo planeta: é quando o coração da srª Lu perde a alegria de viver.
E às vezes conclui versos ou estrofes invocando Deus: quem O sente e Nele crê, sequer necessita ver (presenciar) toda a tragédia ecológica, para agir em defesa do meio-ambiente.
Pungentes tais elegias, tão densas e profundas --- uma fascinante acusação íntima contra o descaso humano ante o nosso habitat.
Realmene bons:
pág. 29 – Luminária
30 – Retalhos de Prata
33 – Luas Novas: Um Certo Linguajar de Plumas
34 – Cartão Postal
40 – Cynthia
44 – Mensagem
51 – Noites e Pérolas
52 – Névoa
61 – Noites Ébrias
87 – Nave Mãe
93 – Templos de Areia
99 – Corações, marés e flores
103 – Canção para Lauzídia
Visão Geral da Obra
Nos oito segmentos do livro, a srª Lu condensa e mescla vivências, sonhos, fantasias e experiências, tendo por temas:
O Mar (“Pérolas de Maresia”)
O Céu (“Lágrimas de Prata”)
A Terra (“Vitrais”).
Só que atravessam essas 112 páginas, de forma irrefreável, incontida, imponderável, desconcertante, mística, muitas árvores e nuvens, asas e esferas, bosques e neblinas, campos e relâmpagos, distâncias e arredores, longínquas reminiscências, luas e primaveras, marés e vendavais, momentos e Eternidade, outonos e sementes, pétalas e ocasos, saudades e estrelas, sóis e despedidas, ternura e madrigais; e tardes, chuvas, noites, horizontes --- tudo envolto em névoas impenetráveis.
Senão vejamos:
Segredos
Tenho um refúgio
onde me entrego
às flores
nascidas no céu
finos corpos
de mel
São como estrelas
embalando jardins
O estranhamento tem início com “flores / nascidas no céu”, já que na verdade elas nascem, quando muito, na terra. E prossegue com “estrelas / embalando jardins”: se nasceram no céu, são astros. E a escritora as antroporfiza, atibuindo-lhes características de mães, que embalam filhos.
Afinal, o que é o estranhamento? – A surpresa estilística, com fins beletristas; ou qualquer solução verbal inovadora e inusitada. Faz-nos perceber conceitos e situações inesperadas, espantando nossa rotina de leitura e forçando a reinterpretação de um texto, numa operação mental que leva o ser humano a sentir sua essência sem o torpor cotidiano, mecânico quase, dos dias. Um acordamento súbito e divinizante.
Apropriamo-nos das palavras de Luiz Ruffato, escritor e crítico: é o “desvio do senso comum”.
O estranhamento surge a partir das figuras de linguagem (comparação, metáfora, metonímia, antítese...), que outorgam ao texto um encanto incomum.
Transcrevemos outro poema, minúsculo e singelo --- verdadeira confissão frágil:
Mão no queixo
Tu alinhavas meu corpo
a lua acende crateras...
A virgem coleciona esperanças.
Quanto aos dois primeiros versos, que parecem incongruentes, fazem sentido, pois alinhavar significa preparar, delinear, esboçar.
Logo, enquanto a luz da lua propicia o ambiente ideal ao romance, às carícias mais íntimas, estas permanecem todavia somente esboçadas, tentadas, iniciadas.
Daí o verso expectante, meio desesperançado:
A virgem coleciona esperanças.
Ora, esperanças (sabemo-lo dolorosamente) são pré-saudades. Numa leitura mais ousada, salientamos o aspecto erótico, sensual que emana do verso:
a lua acende crateras...
no contexto do poema: a “lua” é Lu, que se incendeia quando tocada, provocada...
Pois caso bem se repare, ela dá diferentes nuances, variados vieses aos seus textos, cumulando-os de sadia conotação.
E mais um poema, jóia sensível:
Óleo sobre ela
(Canto I)
Tua face é
Pintura e restauração
Na presença etérea dos tempos
mistérios continuam ocultos
Quando as cinzas chegarem,
o infinito será eterno,
cristalina essência se fundirá
em lunares esferas
Como virtude há, nele, a figura de som chamada aliteração (repetição reiterada dos mesmos fonemas consonantais, objetivando um efeito que maravilhe, que pasme, que estupefaça o leitor), constante nos seguintes vocábulos:
tela e canto (título)
tua, pintura, restauração, etérea, tempos, mistérios, continuam, ocultos (primeira estrofe).
infinito, eterno, cristalina (segunda estrofe)
A aliteração intensifica o ritmo dos versos e da prosa poética, concedendo-lhes ainda um clima de encantamento.
Da Relação Forma-conteúdo
Ora, o meu negócio é textos, idéias, beleza gráfica. Há neste livro grandezas e misérias explícitas, sob ânsia de forma literária.
Dito em outras palavras, mais reais talvez, posto que ainda metáforas: nele convivem e se tocam estrelas do pensamento e sarjetas léxicas, gramaticais. Lixo divino.
De estrutura libertária, sem ornatos extras, suas composições se firmam pela leveza vocabular e temática, pela tenra musicalidade, concordes com as expectativas dos locutários.
Uma escritura cuja subjetividade se reconstroi continuamente, ponderando de mil formas diferentes os mesmos temas fundamentais: a Natureza, o Céu, o Mar, o Homem, o Destino – e tudo que neles há, de angélico, satânico, grotesco, sublime ou imponderável.
Além do contínuo desencanto, das emoções tão necessárias, sobressaem as projeções coletivas oriundas de um eu lírico rebelde, inconformado com as injustiças humanas.
Não posso dizer seja este livro o mais poético da srª Lu, pois o conjunto de suas publicações me desmentiria. Possui porém ele uma capacidade de evocação impressionante, uma espontaneidade tão doce, um conjunto de emoções bem elaborado, em forma e conteúdo.
Evoca as reminiscências adolescentes da personagem, dando valor às coisas e fatos positivos, alegres, dignos de perene lembrança.
Foi uma honra analisá-lo, pois que constituído da mais genuína arte poética. Atingiu ele o mais grandioso objetivo literário: comover, fascinar, fazer relembrar, refletir sobre o nosso passado e fazer com que o questionemos e o comparemos com o presente --- levantando nossa fronte para o futuro.
Tenho plena consciência da fraca resenha que fiz. Aceito críticas e sugestões, que agradeço.
Do Bailado Cósmico
Computemos ainda as noções profundas e cortantes de filosofia, razão, conhecimento, holística e metafísica que ela expõe --- sua leitura crítica de mundo, ou: a vida respondendo à Vida.
Não custa lembrar que a autora, hoje uma mulher-feita, rabiscou esses poemas menina ainda, olvidando-os
numa gaveta antiga.
E, ao trazê-los a lume, certamente os modificou, despetrificando conceitos, dinamizando-os e modernizando-os. E atualizando recursos e experimentos estéticos. (Afinal, o Universo é puro movimento...)
Referências Bibliográficas
CALMON, Andréa. Guia da Reforma Ortográfica. SP, On Line Editora, 2009.
CEREJA, William Roberto e MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português – Linguagens (Literatura, Produção de Texto e Gramática). Vol. I, p. 57-63. 5ª ed. SP, Atual Editora, 2005.
COUTINHO, Afrânio. Notas de teoria literária. RJ, Ed. Vozes, 2008.
Hollanda, Aurélio Buarque de. Dicionário Aurélio Eletrônico.
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss Eletrônico.
NICOLA, José de. Língua, Literatura e Redação. Vol. I, p. 266-269. SP, Editora Scipione, 1999.
Para Entender o Mundo Árabe - Revista EntreLivros nº 3, Ano I (2008)
TERRA, Ernani. Minigramática (supervisão de José de Nicola). P. 465-474. SP, Scipione, 2002.
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Resenha iniciada em 11/07/2009.
Metas pretendidas:
Modificações: 100
Consultas a dicionários: 500
Tempo: 24:00h.
Metas efetivadas:
Modificações: 234
Consultas a dicionários: 1.520
Tempo gasto até 08/02/2010: 68:00h.