CONCEITOS SOBRE CLASSICOS REALISTAS

No romance, O CORTIÇO seu Autor Aluisio Azevedo trabalha um enredo em função de pessoas dentro da coletividade. É o próprio Cortiço que se narra em movimentos dessa coletividade: As lavadeiras a tagarelar junto às tinas de água, as crianças, que ao mesmo tempo, agarram-lhes a saia; e seus tipos a transparecer pelas fisionomias brutas que o próprio trabalho as relegam.

Tipos físicos e estéticos muito característicos pintam-se nesse painel naturalista: A mulher sensual, Rita baiana; o português-colono analfabeto, Jerônimo que vem tentar a vida no Brasil como cavouqueiro das minas de cascalho; o ferreiro mulato capoeira, Bruno, tipo encrenqueiro que forma junto com Jerônimo um triangulo amoroso com a mulata sensual Rita Baiana. Todos inseridos num mesmo ambiente de onde emanam outros tipos característicos-esteticos quase patológicos do estado de semi-miséria a que são julgados: a portuguesa Leandra, alcunhada “Machona” pelas suas características femininas transformadas para masculinas pela brutalidade do trabalho ante a necessidade da sobrevivência; Paula, a cabocla mandingueira; Pombinha, a menina pura do cortiço, única alfabetizada que redige cartas para os moradores da estalagem; o policial Alexandre e sua esposa obesa, Augusta e uma quantidade de filhos que infestam o cortiço; o lavadeiro afeminado Albino, tipo de personagem andrógino, comum no naturalismo.

Dentre todas essas personagens destaca-se com relevância a figura de João Romão que enriquece a custa da exploração dos moradores da estalagem, quer seja nos alugueis dos barracos como das tinas em que as lavadeiras trabalham, quer no comercio que exige monopólio.

Outra figura importante do cortiço é o Miranda, tipo burguês-capitalista que é vizinho da estalagem, tem por esposa uma mulher adultera que se envolve com o sobrinho do marido, um agregado estudante.

Miranda E João Romão se antagonizam, e enquanto o cortiço ferve, a mansão do Miranda cria “muros altos”; o burguês-capitalista ascende socialmente causando inveja ao antagonista.

Em O CORTIÇO as cenas de sensualidade e violência apresentam-se de forma bruta, cruenta, apresentando de forma ágil o movimento de coletividade em que todos parecem se envolver como uma só personagem.

Em MEMORIAS POSTUMAS DE BRÁS CUBAS de Machado de Assis um autor-defunto é o próprio narrador de suas memórias, e como defunto ele se encontra destituído de senso comum e desse modo pode ele passar-nos o painel da media burguesia carioca no século XIX, mostrando seus falsos valores alicerçados na hipocrisia pelas convenções estéticas acentuadas no comportamento Brás Cubas com Marcela, esse a desprezando por ser ela aleijada. Brás Cubas é o tipo arquétipo do solteirão de certa vida airada, sovina, que cresceu na vida a custo de pouco trabalho e certa malandragem.

O Romance de Machado de Assis, MEMORIAS POSTUMAS DE BRAS CUBAS assim como MEMORIAS DE UM SARGENTO DE MILICIAS, de Manuel Antonio de Almeida enfatiza um Rio de Janeiro desde o começo do século XIX na sua formação com a chegada da família imperial estabilizando neste Rio de Janeiro a capital do Brasil, transformando-se culturalmente e urbanamente.

Tal como Brás Cubas menino, o pequeno Leonardo – futuro sargento de milícias – são crianças peraltas cujas vontades são todas satisfeitas nos requintes de seus caprichos. E ambos crescem num Rio em ascensão cultural, o Rio de 1820.

Brás Cubas embora tenha vida mais folgada não se difere da personagem Leonardo, que é filho de uma relação quase indigna do sargento de milícias Leonardo com uma portuguesa pobre, e ambos têm certa característica debochada, malandra, o que pinta o mural do arquétipo carioca nas décadas vindouras.

Em MEMORIAS DE UM SARGENTO DE MILICIAS fica bem mais acentuada a tese de que o pobre para sobreviver tem que ser pícaro, servindo ora a um senhor, ora a outro ( acender uma vela para Deus e outra para o diabo), e provando com o sal da necessidade a comida do poderoso; ou seja, o famoso “jeitinho brasileiro” já vem daí em nossas letras clássicas.

Em O CORTIÇO o fato histórico relacionado à obra é a transformação urbana pelo qual passa a capital com o crescimento urbano, e principalmente dos arrabaldes.

Outro fato marcante do Realismo-naturalismo nas três obras é a relação das criaturas ao nível animal (zoomorfia) dentro de uma personalização anti-romantica, tanto a sensualidade como a brutalidade do trabalho, a avareza ou próprio comportamento tentando se socializar pode concluir nessa caracterização do homem com o animal: Em MEMORIAS POSTUMAS DE BRAS CUBAS, um flagrante de dois cães brigando na rua a disputar um osso pode se converter homens disputando um espaço físico e social, uma carreira num meio da sociedade; a própria caracterização de personagens descritos com burros de carga de tanto trabalho em O CORTIÇO, ou seres femininos masculinizados pelo trabalho, ou em que a sensualidade lembrem ancas de animais arremetem ao estilo naturalista, que em parte reforçam as teses evolucionistas já pesquisadas e aprofundadas em meados do século XIX.

Rodney Aragão