Sobre Girândolas - Uma breve resenha
Sobre Girândolas – uma breve resenha
Há um algo aqui no meu Pará que se abre em cores ao nosso imaginar, faz os outubros colorirem, diferindo...
Chamam-se Brinquedos de Miriti, populares no Círio de Nazaré, uma arte entalhada que alegra o nosso povo, um Círio particular pelas ruas de Belém, levando a obra e o legado do artesão mais perto da fé na Virgem Mãe.
Com os brinqueteiros, vem as Girândolas, onde os brinquedos são dependurados, e caminha o vendedor meio ao oceano de gente, no Círio ou Trasladação como seu mar de encantamento. Um cortejo de sonhos meio ao Círio de fé. Um Rio de imaginação desaguando meio ao mar de esperanças.
No decorrer desse clima, nesse entremeio surge uma Obra Literária chamada GIRÂNDOLAS, original desta terra, das entranhas de um escritor chamado Daniel da Rocha Leite, “de coração” filho de Abaetetuba, um digamos pólo da confecção, feitura dos brinquedos de Miriti, nascente da Arte ribeirinha com os braços de uma palmeira também conhecida como Buriti, ou isopor da Amazônia.
Daniel com seu primeiro romance, constrói ,tece uma história de amor, entrecortada por delicados sentimentos que permeiam a insondável alma humana, entremeando a obra com um vasto esclarecimento sobre a cultura desta terra, seu povo, lendas, tradições. Ele, o autor, pinta para nós telas de pura beleza Amazônica, e faz poesia, prosa poética que se destaca pela obra inteira. Um romance repleto de Poesia. Intenso quando refere às dificuldades, injustiças sociais que ocorrem aqui, como as grilagens de terra, a ofensa e o constrangimento sofrido pelo povo caboclo destas bandas ou quando conta a história da menina de Abaeté, presa injustificadamente em cela com detentos, violada. Nessa área do romance, a cena é cinza, emudecida com a nossa vergonha e indignação. Toda a realidade ribeirinha, num fazer poético e humano do autor é escrita nessa obra. Desde as rezas das benzedeiras, as parteiras da floresta, mitos como a Cobra boiúna, e a crueza dos escalpelamentos sofridos por mulheres nos motores dos barcos dos rios daqui. Tudo é rico, bem traçado, costurado com a sensibilidade e o conhecimento nativo do escritor.
GIRÂNDOLAS do Tobias e Maria, Lourdes, Dona Constança, Velho Tibúrcio, Dona Zefa, Dona Filomena fazem nossa imaginação passear no nosso mais profundo rio, as águas dos nossos sentimentos, mágoas, crenças e arrependimentos. Correm córregos, barquinhos quer vermelhos ou amarelos de muita fé e alento a cada acontecimento, e no infindo sofrer de Tobias, no seu escrever a própria culpa com o fito de obter o perdão, nós nos encontramos, bem como somos cegos aprendendo a tatear melhor o mundo com a mais humana Maria. Move, gira Girândolas e encharca de afeto nossos corações. É de fato uma linda obra.
Ao mesmo tempo em que é densa e real nas agruras tem um tom de fortes e indissolúveis afetos. Leveza.
Para se ler e conhecer. Apreciar. Sonhar, imaginar, para nós Amazônidas, Parauaras uma lição de querer bem o seu rincão, de respeitar o seu legado, de amor pelo seu chão.
Girândolas conquistou o Prêmio Samuel Wallace Mac-Dowell da Academia Paraense de Letras que possibilitou a publicação da obra.
Daniel Leite é um arrebatador de prêmios nato, e possui outras três obras também premiadas que são: Águas Imaginárias - Contos, Casa de farinha e outros mundos - Literatura Infanto Juvenil e Invisibilidades - Contos.
Certamente ao findar a leitura de Girândolas, há que se concluir concordar como autor:
“Amar, ainda, é um verbo possível”.