POLÍGONO DAS SECAS - DIOGO MAINARDI
RESENHA
POLÍGONO DAS SECAS – DIOGO MAINARDI.
RECORD, RIO DE JANEIRO, RJ – 2006
Polígono das secas é uma tentativa pretensiosa de desmitificar o regionalismo modernista com uma descrição do homem nordestino num realismo brutal.
Num enredo fantástico, porque fantasia, o untor purulento (que pode ser intertextualidade da morte, do destino ou do próprio autor) despe a visão romântica que se tem do homem nordestino difundida pela literatura de Graciliano Ramos, Euclides da Cunha e outros. O Romance quer ser desmascarador. Numa tentativa de mostrar o homem no limite da humanidade à beira da bestialidade sem um retorno consolador, porque num polígono da seca não há destino a não ser aquele traçado pelo untor.
É provocativo no sentido de desconstruir os paradigmas da literatura regionalista, mas não consegue desmitificar o personagem nordestino, que apesar do realismo caricatural, não deixa de ser “o forte”.
É desprezível pela sua ferina crítica para quem não dispensa o engodo da fantasia para suportar a vida e imprescindível ao remexer e subverter concepções. Não tem como ignorar aquilo que mexe com nossos princípios e crenças.
Manoel Vitorino (o sertanejo que enterra o filho), Januário Cicco (o vaqueiro mutilado pelos caprichos do latifúndio), Piquet Carneiro (herói negativo metamorfoseado) e Demerval Lobão (miserável que luta para manter a numerosa família) somos nós em nossa miséria humana desencatada, desmitificada. Não posso negar uma paixão por Piquet Carneiro que escancara a nossa animalidade kafkaniana. Esses antagonistas arrastam-nos em busca do untor que dissemina a morte por todo o nordeste na insana ânsia de uma Catarina Rosa. Você conhece uma?