A GLOBALIZAÇÃO NAS NOSSAS VIDAS

Você pode até não gostar de política ou de economia e nem mesmo se importar com o que acontece com o meio ambiente do planeta.

As pessoas podem ficar cada uma no seu canto, acreditando que uma guerra no Afeganistão, nos Balcãs ou no Iraque não vai, de forma alguma, afetar as suas vidas.

Nós podemos achar normal que aproximadamente 40 milhões de brasileiros passem fome e outros tantos estejam desempregados por conta da falta de políticas públicas para esses setores ou por conta das bruscas mudanças no sistema econômico-financeiro mundial.

Você também pode achar normal que a classe média brasileira tenha se tornado cada vez mais idiota em meio a uma selva de consumo e desperdício de bens e alimentos.

Você pode preferir tomar o rumo do shopping center em busca de uma calça nova, de marca, e até achar normal viver numa sociedade em que aparecer é muito mais importante do que outras tantas coisas.

Falta, no entanto, começar a perceber que nós, o Brasil e o mundo estão mudando, mudando a cada dia, a cada hora.

Mudando como? Por quê? Por conta de quem ou de que?

A globalização pode ser uma das respostas – ou a resposta.

No livro “Mundo em Descontrole: o que a globalização está fazendo de nós” (2000), o sociólogo inglês Anthony Giddens aborda justamente o processo de globalização, a sua abrangência, os seus efeitos e implicações em todos os setores e em todo o mundo. Ele explica os efeitos das mudanças no nosso dia-a-dia e procura captar o pensamento de quem vive e está envolvido na (com a) globalização.

Giddens mesmo afirma que não há como fugir, pois “a globalização não é um acidente em nossas vidas hoje. É uma mudança de nossas próprias circunstâncias de vida. É o modo como vivemos agora”.

Você pode até pensar que o tema está superado e já sabe tudo sobre ele. Errou, porque as palestras do sociólogo inglês continuam atuais.

O livro foi produzido a partir de uma série de palestras sobre globalização, proferidas por Anthony Giddens, há dez anos (1999), em Hong Kong, Washington e Londres. O trabalho foi dividido em cinco blocos: globalização, democracia, tradição, risco e família.

No plano mais geral, o autor aborda as incertezas criadas pela formação dos blocos de países e a unificação dos mercados; faz também um exercício de futurologia, mostrando algumas modificações que já estão à mostra no nosso cotidiano.

Cresce o “monstro”

Apesar de a origem da globalização ser o final do século XIX, o que podemos deduzir com uma leitura mais atenta e crítica de “Mundo em Descontrole: o que a globalização está fazendo de nós” é que a partir da queda do Muro de Berlim (1989) - e o consequente tropeço e colapso do comunismo – no final do século XX, o capitalismo se consolidou em todo o mundo. Filha do Capital, a globalização (re)surge com mais vigor e começa a conquistar espaços rapidamente, a partir das duas últimas décadas do século passado.

O fenômeno da globalização, mesmo à distância, pode influenciar, retirar poder das nações em termos econômicos e até mudar os costumes, procedimentos e desejos de todos, em todo o mundo.

É incrível como um determinado ato de um agente social de um determinado local do planeta pode ter consequências diretas e indiretas para terceiros, distantes. É a pura realidade e já está acontecendo há algum tempo.

A globalização acabou com as fronteiras geográficas, ignora tempo e distâncias, liga economias, mercados e sociedades nacionais de tal forma que os acontecimentos de um país têm um impacto direto em outros. Tudo isso é possível graças às novas formas de interação social, através de satélite, da internet, dos aparelhos celulares e de outros mecanismos eletrônicos de transferência de dados.

A explicação vem do próprio Giddens: “a globalização é política, tecnológica e cultural, tanto quanto econômica (...) influenciada, acima de tudo, por desenvolvimentos nos sistemas de comunicação que remontam apenas ao final da década de 1960”.

Apesar de promover mudanças e transformações na sociedade, a globalização, indiferente a fronteiras nacionais, é desagregadora e não tem a capacidade de ‘criar’ uma sociedade global harmoniosa. Por isso é por muitos (ainda) contestada, haja vista que as suas consequências não são de todo benéficas. De acordo com o próprio Giddens, muito distante da Europa e da América do Norte, esse processo “tem uma desagradável aparência de uma ocidentalização – ou, talvez, de uma americanização”.

Giddens vê como inevitável o processo de globalização econômica, mas defende formas de organizações não governamentais para equilibrar a balança social.

Ao discutir diferentes aspectos do texto e do contexto que estão colocados hoje no mundo – como tradição, família e democracia – o sociólogo inglês procura identificar novos significados nas mudanças por que passam as culturas tradicionais, a busca de integração global, o fundamentalismo religioso que renasce, o contraste de uma homogeneização das mensagens com a retomada das identidades étnicas, bem como todas as incertezas inerentes a esse processo.

Giddens propõe como antídoto, uma “democratização da democracia”, um aprofundamento da democracia, bem como a sua transnacionalização. Segundo ele, o aprofundamento da democracia seria necessário porque os velhos esquemas não funcionam, quando todos têm o mesmo nível de informação, quando as pessoas têm acesso às mesmas informações do que aqueles que detêm o poder.

Há, principalmente por questões ideológicas, quem pense de forma contrária e quem veja as mudanças no mundo com outros olhos e de outra ótica. A globalização, diz Giddens, é “uma revolução global da vida cotidiana, cujas consequências estão sendo sentidas no mundo todo, em esferas que vão do trabalho à política”.

Portanto, é necessário se fazer uma nova leitura do mundo, a partir da consolidação desse processo. O problema é que grande parte da população sofre com ela (a globalização), mas não se preparou e não está (ainda) preparada para assimilá-la ou, quem sabe, combatê-la.

Mundo em Descontrole: o que a globalização está fazendo de nós

Anthony Giddens

Rio de Janeiro, RJ: Editora Record, 2000

ISBN 850-10-5863-7