Praça Carlos Drummond de Andrade é inaugurada hoje
MAIS CRUZEIRO - [ 31/10 ]
Notícia publicada na edição de 31/10/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno D.
A reportagem publicada pelo Mais Cruzeiro no dia 7 de fevereiro de 2009 motivou o vereador Paulo Mendes a retomar uma antiga proposta, idealizada em 1987, quando era prefeito de Sorocaba: homenagear o poeta Carlos Drummond de Andrade dando seu nome a uma praça. O projeto será concretizado hoje, 22 anos depois. A partir desta data, a rotatória da avenida São Paulo, sobre o córrego Piratininga, será conhecida pelo nome do escritor mineiro.
Este dia, 31 de outubro, coincide com o aniversário de Drummond, que se estivesse vivo completaria 107 anos de idade. A inauguração da praça pela Prefeitura será às 10h e contará com a presença de membros da Academia Sorocabana de Letras, que prometem uma manhã de poesia para os que comparecerem ao evento. A solenidade, que contará com a presença das autoridades, terá declamação de poemas e textos em prosa do escritor. Conforme a acadêmica Myrna Atalla Senise, uma pedra no caminho indicará o local. “Sempre encontramos uma pedra no caminho. Essa é de Carlos Drummond de Andrade”, diz.
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, em 31 de outubro de 1902. “Vida simples. Estudou. Brigou com o professor de Português. Foi expulso da escola. Momento que nunca esqueceu. Injustiça carregada com mágoa a vida toda. Formou-se farmacêutico. Profissão que nunca amou. Foi funcionário público. Foi poeta maior. Poeta sofrido. Vivendo o mundo das palavras. Sentindo a perenidade de tudo. Amando o simples. Depois a perda. A morte. A filha que se foi. Carlos dobrou-se ao peso da dor. Entregou-se. Deixou-nos”, lembra Myrna.
A acadêmica ainda destaca a repercussão de um de seus mais conhecidos poemas, “No Meio do Caminho”: “Poeta mineiro, nascido gauche na vida, o referido poema foi uma pedra no caminho de Drummond. Chocou. Anti-poesia. Besteiras. Críticos inconsequentes. Nada poético. O novo incomoda. Tornou-se, no entanto, a marca registrada de Drummond. Onde ele estava, a pedra estava. Se não estava, o povo pedia a pedra. No caminho. Pedra valiosa. Pedra preciosa. Drummond precioso. Fez versos brincando. Pareciam jogos, mas eram reais. Machucavam.”
Cronista do Cruzeiro do Sul
Ao longo de sua vida, Carlos Drummond de Andrade colaborou com diversos jornais e revistas. Inclusive foi cronista do Cruzeiro do Sul em 1984, quando escreveu, a convite da então editora Maria Cláudia Miguel, para o recém-criado Mais Cruzeiro. O poeta deixou o suplemento apenas quando se despediu de todos os órgãos de imprensa do País, na famosa crônica “Ciao”, em outubro de 1984, em que diz “Aos leitores, gratidão, essa palavra-tudo.”
Mesmo depois de despedir-se da imprensa, continuou produzindo. Escreveu seu último poema no 31 de janeiro de 1987: “Elegia a um tucano morto”, que passou a integrar “Farewell”, último livro organizado pelo poeta. No dia 5 de agosto, depois de dois meses de internação, falece sua filha Maria Julieta, vítima de câncer. Doze dias depois, no dia 17 de agosto de 1987, falece o poeta, vítima de problemas cardíacos. É enterrado no mesmo túmulo que a filha, no Cemitério São João Batista do Rio de Janeiro.
Poucos dias depois do falecimento do escritor, no dia 20 de agosto de 1987, o Cruzeiro do Sul publicou uma nota sobre a intenção do então prefeito Paulo Mendes de fazer uma homenagem a Drummond, dando seu nome a uma praça da cidade.
Passados 22 anos, a intenção ainda não tinha se concretizado, quando a reportagem publicada pelo Mais Cruzeiro no dia 7 de fevereiro de 2009, fez com que Paulo Mendes, agora vereador, retomasse o projeto. Conforme disse para a reportagem, na época, ele acreditava que a praça seria no Piazza Di Roma e afirmou que mesmo tardiamente, iriam fazer essa homenagem. O local mudou - o que a Academia Sorocabana de Letras comemora, por ser um ponto mais perto da região central - , e a homenagem está se concretizando através da Lei Nº 8808, de 13 de julho de 2009.
A Academia Sorocabana de Letras espera que o local seja bem utilizado pelos artistas. “Que seja um lugar da poesia, dos encontros. Um lugar que todos possam se expressar. A ideia é que a praça seja utilizada com frequência”, acredita Myrna.