Avaliar para cuidar

DEMO, Pedro. Avaliação para cuidar que o aluno aprenda. São Paulo: Editora Criarp. 2006.

RESENHA CRÍTICA

De acordo com o sociólogo Pedro Demo, que atualmente é professor titular da (UnB) Universidade de Brasília e que trabalha como assessor da Secretaria de Educação da Prefeitura de C. Grande (MS), para programas de formação permanente de professores da Educação Básica e para a Alfabetização de crianças da 1ª série. O texto Avaliar para cuidar trata de uma tomada de consciência que abrange desde a prática educativa realizada pelo professor e seu papel como integrante no processo de avaliação, pelo qual ainda existe uma incógnita sobre o que avaliar, e como avaliar. Pois, o modelo que vemos ainda é arcaico e não progride, a avaliação existe como forma punitiva e não como diagnóstico para solucionar eventuais problemas.

Segundo o autor, a questão não é ser ou não ser avaliado, mas ser avaliado de tal forma que se possa aceitar crítica e auto – criticamente, o mesmo ressalta que ninguém gosta de ser avaliado, mas todos somos, quer gostemos ou não, faz parte de todo o processo das relações interpessoais e institucionais. Na maioria das vezes alega-se que as avaliações são mal-intencionadas é verdade que o professor não está preparado para ser avaliado, se bem que ao ser avaliado o professor toma consciência de que algo deve ser feito ou aprimorado, talvez seja por temer as críticas e não estarem aptos a mudanças que surgem “os fantasmas” da avaliação no que se refere ao docente. Demo diz: “Quando não se avalia o avaliador, este faz o que bem entende”. Ora, o professor não suporta ser questionado pelo aluno, simplesmente por não está preparado para novas descobertas e questionamentos, seguindo um modelo antigo, que não mais funciona, o qual se acha detentor do saber e não se encontra democraticamente aberto às novas fórmulas e conceitos de aprendizagem, esta que é através da troca de conhecimentos, onde o aluno com o saber informal é aproveitado, quando o professor se torna mediador de seus conhecimentos.

Saber aprender, implica em está aberto a novas situações, a redescobrir novos meios de melhorar o processo de ensino e a forma de avaliar o que está sendo feito. Professores que evitam ser avaliados são, em geral, professores com consciência carregada. Sabem que se sairiam mal. O medo de errar está implícito em tal atitude. O aluno que aprende bem é sustentado por um professor que aprende bem, de certa forma o aluno tem refletido em si, retratado um modelo de aprendizagem realizado por um bom professor. É preciso apostar no professor todas as fichas da boa qualidade de aprendizagem dos alunos, todavia quando a qualidade do ensino não é satisfatória, na verdade o professor já se sente meio que com medo do resultado que seus alunos irão refletir, mesmo que inconscientemente, o professor sabe e aos poucos vai “caindo a ficha”, pois se os alunos não estão aprendendo, deve-se em boa parte, que algo no processo avaliativo, onde o mesmo detecta as diferenças na aprendizagem, retrocede na mesma proporção à responsabilidade para o professor.

Quando o ponto central está em saber explicar para o aluno que avaliar é parte do aprender, o professor torna-se hipócrita por não está aberto ao diálogo e as diversas formas de auto-avaliação para melhorar a sua metodologia e favorecer uma descoberta de novos conhecimentos, outro sim, é objetivo maior do professor conseguir que o aluno ao ser avaliado, se sinta “cuidado”...

O educador só irá conseguir transmitir essa visão, quando o mesmo deixar-se reconstruir e vencer os preconceitos que o impede de renovar-se, e encontrar-se apto à “restauração” como uma pedra preciosa que precisa ser lapidada e posteriormente, tornar-se radiante entre tantas outras que buscam o aperfeiçoamento.

Quando a avaliação destacar-se como um procedimento de “diagnóstico e tratamento”, teremos efeito favorável ao aluno, mas, acontece o contrário, ao detectar que o aluno não aprendeu puni-o através da avaliação quantitativa, e porque não, aprimorar e tratar das dificuldades encontradas, diminuírem as defasagens diagnosticadas nas avaliações, surtiria um efeito menos punitivo e valorizaria o refazer, o descobrir novos métodos buscando novas soluções para vencer os déficits existentes, em quaisquer que sejam as áreas, o que interessa é retomar, recomeçar de onde não deu certo. Avaliar pode ser: identificar defasagens e reconstruir através de novas metodologias de ensino.

O autor destaca É difícil fazer da avaliação jogo aberto, porque a tradição é de jogo nenhum: um lado apenas impõe, o outro apenas engole secamente muitos professores sequer aceitam “conversar” sobre a avaliação, o professor traduz o modelo antigo de avaliação, talvez por um dia ter sido tratado sem chances de argumentar suas idéias, o mesmo foi educado pelo método tradicional, faz-se então refletir tal metodologia até os dias atuais, mesmo com propostas de construtivismo, mas, o professor ainda é prisioneiro do modelo tradicional, onde a possibilidade de um diálogo fica além do imaginável.

A idéia é criar um ambiente de confiança mútua única referencia capaz de sustentar autoridade do professor sem recair no autoritarismo, é importante que haja confiança do aluno e a reciprocidade do professor é decisiva na realização das metas, pois, as propostas de aprendizagem evoluem, e as dificuldades que surgem são diagnosticadas, tratadas e não frustradas ou engavetadas sem soluções por falta de confiança e diálogo entre professor e aluno.

De acordo com o autor, cabe ao professor educar os alunos de tal modo que se convençam de que plagiar não leva a nada, isso é importante, se o aluno está em um processo contínuo de aprendizagem, ele deve conscientizar-se de que a melhor maneira de conseguir êxito nas atividades não é copiando o que está pronto, mas, buscar, criar e inovar e até mesmo errar, pois, errando é que se descobre o que precisa ser melhorado. Que adulto ou ser humano nós teremos? Se não ensinarmos aos nossos alunos que errar faz parte de qualquer tarefa de nossas vidas, na verdade, são das atitudes que erramos que redescobrimos novas fórmulas de amadurecimento; a informatização é bem acolhida e deve ser aproveitada da melhor forma possível, servindo de instrumento para a descoberta do saber e não uma opção pronta, aproveitando-se de opiniões alheias.

Aprender a trabalhar em grupo é, acima de tudo, uma arte, além dos aspectos técnicos e metodológicos, portanto, quando as individualidades forem respeitadas e a aprimorização das idéias de cada membro chegarem a um consenso, teremos não só um bom trabalho em grupo, mas, uma vitória no critério de sociabilização entre as pessoas, que antes de serem educadores, são seres humanos cheios de diversidade sócio-cultural, as quais precisam de reconhecimento e respeito por todos.

O valor pedagógico é imprescindível e só vem a somar com a formação de indivíduos capazes de expor idéias, ouvir sugestões e adaptar-se à mudanças, é necessário que o educando tenha estrutura para dar seqüência aos estudos(...).Na verdade, não adianta enganar o aluno com palavras hipócritas, porque a dureza da vida não perdoa: mais cedo ou mais tarde o aluno descobre que não aprendeu bem e já é tarde.

É ironia do destino, antes dos governantes facilitarem o acesso às universidades existentes deveriam pensar também, que ao chegarem às universidades muitos alunos não possuem bagagem necessária para dar continuidade aos estudos universitários, da mesma forma que os demais, considerados universitários de fato, por terem enfrentado um processo seletivo rígido e eliminatório, o qual só se classificam os que tiveram melhores oportunidades de estudos e consequentemente uma boa formação. Porém, promover não é empurrar de qualquer maneira, mas o exercício exigente de bom desempenho a partir do aluno, é importante a evolução do saber, quando o educando é avaliado e ao detectar erros o mesmo procura corrigir-se e assim promover-se não só no que diz respeito aos conhecimentos, como também tornar-se sujeito a descobertas e transformações são atitudes que precisamos valorizar e incentivá-las sempre.

Enfim, como educadores devemos desmistificar o fato de que a avaliação é a busca de um resultado, mas, a solução para aplicarmos novas metodologias, de acordo com cada diagnóstico, e não um único modelo, onde nem sempre os resultados são satisfatórios e os alunos permanecem rotulados como: “eles não querem nada com a vida”, se encararmos o ato de educar como uma realidade que sofre adaptações a cada momento, assim, acompanharemos a evolução dos tempos, nos situando na era moderna, adaptar-se é preciso, muito mais do que olhar para traz e criticar o que deveria ter sido feito. Porém, somos nós quem escrevemos no presente o papel que atuaremos hoje e quem sabe, serviremos de exemplo no futuro, basta consciência de que temos que mudar nossas atitudes para cuidar melhor dos nossos educandos.

Jane Cleide Cardozo dos Santos

Juarez Távora, agosto de 2007