O Sentido do Passado
HOBSBAWM, Eric. O Sentido do Passado. In:_____. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 22-35.
O autor faz uma análise da relação entre passado e presente, ressaltando como ocorre a diferenciação deste presente a partir das bases e fundamentos passados. O presente para algumas sociedades é constituído seguindo uma estrutura rígida do passado, na qual podem ocorrer inovações sutis, sem alterar o padrão preestabelecido. Tais inovações sutis podem estar contidas nos interstícios do passado, e subentendidas as causas dessas pequenas mudanças. Há certa dificuldade em aceitar mudanças relacionadas à estrutura social, enquanto é provável maior aceitação aos adventos da tecnologia. O molde do passado é distinto nas sociedades letradas e iletradas, mas tem a mesma finalidade em ambas e são seguramente mantidos. Certas inovações tendem a resgatar o passado para convertê-lo em presente. Outras partem de um princípio anti-histórico para modificar o presente. Podem ocorrer mudanças sociais um pouco drásticas, por determinação exterior à sociedade, mas estas não desestabilizam as opiniões da sociedade em relação a tal novidade, até que cheguem a um ponto de concessão. O padrão estabelecido de passado como determinante do presente causa certo atraso nas mudanças históricas, tendo em vista que dificulta as inovações. Mas estas podem ocorrer gradativamente, e consequentemente serem absorvidas. Uma sociedade pode ser considerada “tradicional” até certo ponto, mas jamais será imutável. Como as tradições urbanas, são mais flexíveis em relação às camponesas. Pode ocorrer o caso de uma sociedade se modificar a ponto de não conseguir seguir o padrão do seu passado, e este acaba se restringindo a apenas modelo. Mas se a partir daí há uma tentativa de restauração do passado vivido, haverá frustração neste intento, pois não há como realmente fazer uma cópia plena do passado. As restaurações seletivas do passado podem ser simbólicas ou efetivas. Essas “restaurações” não podem ser consideradas cópias, mas inovações com elementos que estavam presentes no passado almejado, sendo ele real ou imaginário. Quando uma novidade é identificada visando o progresso é provável haver uma rejeição do passado para aquisição das inovações. Há também uma maior propensão a ser aceito prontamente todas aquelas novidades relacionadas à ciência e tecnologia, tendo em vista que o homem tem controle sobre ela e participa do processo de transição, mas em situações em que essas inovações também são temidas e recusadas, ocorre o temor em uma ruptura com a estrutura do passado, e uma possível invalidação de tal. Já no plano social, o processo de mudança é mais rejeitado, portanto ocorre lentamente. É relativo o modo que a sociedade pode resistir ou não a uma mudança. E influencia o modo que é apresentado a novidade, e assim pode ser facilmente aceito. A investigação de mudanças constantes se dá através da busca do “sentido do passado”. Pois o presente, não é uma extensão do passado, e sim uma transformação e ajustamento deste. Busca-se explorar o passado para se ter um conhecimento do presente e uma noção do futuro. Mas embora em alguns casos seja possível a interligação entre o passado e futuro, não se pode imaginar todo um futuro com base no passado, pois existem mudanças contínuas que inviabilizam uma exata ligação entre esses extremos. Um dos aspectos pelo qual a sociedade emprega o passado é em forma de genealogia, de modo que o presente é apresentado a partir de histórias passadas, como uma continuidade das mesmas. Já a cronologia nos dá uma orientação do passado, visto que faz ligação entre os fatos ocorridos. E se faz presente em todas as sociedades, independente do modo que é registrado, pois tem implicação social. Portanto a história busca fazer referência entre o passado, presente e futuro de acordo com as mudanças históricas ocorridas, que em alguns casos podem parecer insignificantes, mas tem total relevância, devido a existência marcante de um passado que traz suas influências para o presente e participa da composição do futuro. Hobsbawn trabalha de forma clara o tema. Faz relações a fatos históricos e utiliza de argumentos concisos para problemática. Além de fornecer exemplificação para melhor compreensão e assimilação. Ele contextualiza os fatos, traz uma citação e analogias. O autor aproxima o texto do leitor, de modo que faz questionamentos, e assim estimula a compreensão. Portanto é um ótimo texto introdutório de história que é indicado a todos que desejam saber sobre o tema de forma objetiva, que viabiliza a aquisição de conhecimento sobre o passado e sua importância histórica.