Tão estranho quanto uma Laranja Mecânica
O livro Laranja Mecânica foi escrito em 1962, por Anthony Burgess, mas é possível a apreciação da trama em versão musical, roteiro de cinema, tv e biografia. A obra faz parte da nada santíssima trindade dos romances de ficção científica de todos os tempos, junto com Admirável mundo novo e 1984. Num futuro distante, aproximadamente 40 anos depois de ser escrito, Burgess nos conta, através de Alex McLarge, protagonista e narrador, sobre uma Inglaterra totalitária, onde as pessoas não saem a noite com medo da violência das gangues juvenis. Alex e seus amigos (druguis, como são chamados para ressaltar as gírias usadas por esses jovens)cometem espancamentos, estupros e latrocínios, mas nada acontece a eles de imediato. Depois do espancar um escritor e molestar sua mulher, o protagonista malfeitor acaba preso, mas ao descobrir um tratamento que o livraria da prisão, logo troca a cela por um quarto de hospital. Após um curto período, ele se vê em um mundo de dor e repúdio às coisas que tanto gosta; violência, Beethoven e sexo, tudo graças ao Tratamento Ludovico. Era o Estado combatendo a violência de modos tão desumanos quanto a mesma. Alex acaba por "curar-se" segundo os médicos, porém toda sociedade, inclusive antigos amigos, acham que ele é o mesmo e se vingam quase matando-o. Partidos políticos opostos lutam pelo poder tentando usá-lo nas suas respectivas campanhas, direita e esquerda.
A trama instiga por conseguir transparecer um mar de sentimentos em nós espectadores com relação ao protagonista malfeitor. Os ataques de ânsia de vômito em repúdio a violência de Alex após o tratamento conseguem causar o mesmo efeito no espectador em muitos momentos. A linguagem em gíria, que mistura o idioma russo com o inglês, é só um detalhe, Burgess nos convida página por página, a ver até onde vai o arrependimento humano. A liberdade muda de significado ao percebermos tudo o que a palavra abrange.