A menina que roubava livros - Markus Zusak
Quem disse que a morte não tem coração? Pois ela tem!
Quem disse que a morte não tem face ou que se assemelha a um esqueleto que carrega uma foice? Basta pegar um espelho, olhe e veja o rosto da morte. A própria o disse.
A vida de uma simples menina, que perde muitos de seus amores da vida. Que amou e odiou as palavras, que enfrentou os desafios impostos pelo destino, escutou os bombardeios sobre sua cabeça e sobreviveu, que perdeu seu primeiro amor, seu grande amigo, que lhe implorava um simples beijo e que só depois de morto é que conquistou tão grande gesto de sua amada ("Ah, como ele gostaria de estar vivo para receber o único prêmio glorioso de sua vida").
Em meio a guerra e o domínio de Hitler sobre a Alemanha, a roubadora de Livros é separada de sua mãe para morar com seus pais de criação e no meio da viagem perde seu irmão, que é levado pelos braços da morte. A vida se passa e seus pais de criação acabam se tornando seus verdadeiros pais, a guerra os aproximara muito e um homem cumpridor de promesas, tem que cumprir uma das mais arriscadas delas.
Hitler não tinha piedade, até a morte o detestava por fazê-la trabalhar de mais. Como ela gostaria de não estar ali. Combates e combates, mortes e mortes, era o que trazia a guerra em campo de batalha, mas existia a guerra entre o que você era e o que deveria ser. Os judeus eram perseguidos e a promessa a se cumprir pelo cumpridor delas era justamente essa: guardar em sua própria casa um "inimigo" da pátria, da raça alemã.
A roubadora de livros começa sua caça quando seu irmão morre e é enterrado. No cemitério ela encontra um livro e guarda consigo. Depois rouba um livro judeu da grande fogueira e depois começa a roubar da mulher de roupão.
O judeu que habitava seu porão se tornou seu amigo, e passaram muito tempo juntos, um ajudando o outro, um presenteando o outro, mas a menina dava ao judeu algo que as perseguições haviam tirado dele: o mundo.
A morte? Saia recolhendo as almas e observando a menina. Observava a sede dela com os livros, como não tinha medo de tamanhos perigos. Não tinha medo. Não. Nem quando descoberto seus furtos a casa da mulher de roupão ela o deixou de fazer. Fazia ela se sentir bem. Não sabia o porquê, mas se sentia melhor.
E ela os lia, quantas vezes fossem necessárias. Às vezes para o judeu escondido, ou para a vizinha rabugenta, ou para os sedentos de sobrevivência dentro de um porão, ouvindo ao longe, talvez, o som da morte.
E quando a menina descobre que seu amigo judeu é pego pelos nazistas e o vê pela última vez indo à direção, não se sabe pra onde. O local sim, mas não o destino de seu corpo, de sua alma.
Quando se vê perdida e desamparada em meio às desgraças de sua vida, a pobre menina começa a sentir raiva das palavras. Sem as palavras nada do que se passou teria acontecido. "De que serve as palavras?"
Era preciso perceber que sem palavras não haveria livros, sem livros não existiria a roubadora de livros. Que agora, passou a escrever sua própria história.
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• A menina que roubava livros - Última linha •
Odiei as palavras e as amei,
e espero tê-las usado direito.
Lá fora, o mundo sibilava. A chuva manchou-se.
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