ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA
MISTERIOSAMENTE, UMA PANDEMIA DE “CEGUEIRA BRANCA” DISSEMINA-SE RAPIDAMENTE EM UMA INDETERMINADA CIDADE, ATINGINDO POUCO A POUCO A POPULAÇÃO.
A INEXPLICÁVEL SITUAÇÃO INICIA-SE COM UM ORIENTAL, QUE APÓS PERCEBER-SE ACOMETIDO POR UMA REPENTINA “TREVA BRANCA”, VÊ-SE OBRIGADO A CONFIAR EM ESTRANHOS PARA SE SITUAR, JÁ QUE ENCONTRA-SE PRIVADO DO SENTIDO DA VISÃO. SUCESSIVAMENTE, AS PESSOAS QUE TÊM CONTATO COM O ORIENTAL, PASSAM A APERCEBEREM-SE VITIMADAS PELA CEGUEIRA, QUE SEGUNDO O RELATO DE TODOS OS INFECTADOS, BASEIA-SE EM UMA ESPÉCIE DE SUPERFÍCIE LEITOSA NOS OLHOS. O ROMANCE DO RENOMADÍSSIMO ESCRITOR PORTUGUÊS, JOSÉ SARAMAGO, MAIS DO QUE INCITAR À REFLEXÃO SOBRE A EXCLUSÃO SOCIAL, LEVA-NOS A COMPREENDER O QUANTO É FRÁGIL A NATUREZA HUMANA E COMO MUITAS VEZES, É NECESSÁRIO PERDER O QUE SE TEM PARA QUE SE PASSE A DAR VALOR AO QUE SE TEM.
NAS PALAVRAS DO PRÓPRIO SARAMAGO: "Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso." DESSA FORMA, O ENREDO FICCIONAL PROSSEGUE DE UMA FORMA EM QUE A SUCESSÃO DE FATOS TORNA TODOS IGUAIS DIANTE DA DEFICIÊNCIA. AS PERSONAGENS NÃO POSSUEM NOMES E, CURIOSAMENTE, OBSERVA-SE TODAS AS FAIXAS ETÁRIAS E ETNIAS ACOMETIDAS PELA MESMA MOLÉSTIA. RICOS E POBRES. NINGUÉM ESTÁ IMUNE. OS “CEGOS” SÃO ISOLADOS EM “QUARENTENA” PELO SERVIÇO ESTADAL DE SAÚDE. GRADATIVAMENTE, TODA A POPULAÇÃO FICA CEGA, MENOS A MULHER DO MÉDICO (ASSIM DESCRITA PELO AUTOR), QUE FINGE-SE INFECTADA COM A FINALIDADE DE AJUDAR SEU MARIDO. DURANTE O FORÇADO RETIRO, AS PESSOAS SÃO APRISIONADAS EM UM MANICÔMIO DESATIVADO, IMUNDO E INSALUBRE, ONDE A LUTA PELO PODER E PELA SOBREVIVÊNCIA TRAVA UMA GUERRA ENTRE OS GRUPOS, PROVANDO QUE NEM MESMO DIANTE DA DOR, ALGUNS “SERES HUMANOS” CONSEGUEM SE ALIAR.
UMA DAS ALAS (ALA DO BEM) É LIDERADA PELA MULHER DO MÉDICO, A ÚNICA PESSOA DO GRUPO QUE É DOTADA DO SENTIDO DA VISÃO. ESTRANHAMENTE ELA PARECE IMUNE À DOENÇA E PASSA A COMANDAR O GRUPO, AUXILIANDO A TODOS. APÓS UMA REBELIÃO ENTRE OS GRUPOS, ELES CONSEGUEM ESCAPAR E GANHAR AS RUAS. NA MEDIDA EM QUE SEGUEM, TODOS OS CEGOS ANDANDO EM FILA INDIANA, AMPARADOS UNS COM AS MÃOS SOBRE O OMBRO DOS OUTROS, A MULHER QUE GUIA O GRUPO OBSERVA O CAOS INSTAURADO NA CIDADE E VÊ AS PESSOAS AGINDO COMO BICHOS, ASSISTINDO INCRÉDULA À DEGRADAÇÃO HUMANA DIANTE DA LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA. TODOS ESTÃO FAMINTOS. ELA ENTRA EM UM SUPERMERCADO E APÓS UMA FRENÉTICA LUTA CORPORAL COM PESSOAS CEGAS, CONSEGUE ESCAPAR COM ALGUMAS SACOLAS DE COMIDA E SEGUE COM O GRUPO RUMO A SUA CASA. O SENTIMENTO DE AMIZADE ENTRE OS MEMBROS DO GRUPO PRESERVA O QUE RESTA DE CONVÍVIO CIVILIZADO E ESSA UNIÃO FAZ COM QUE O GRUPO SE TRANSFORME EM UMA ESPÉCIE DE CLÃ FAMILIAR.
INEXPLICAVELMENTE, O ORIENTAL (A PRIMEIRA PESSOA ACOMETIDA DA PERDA DE VISÃO), REPENTINAMENTE RECOBRA O SENTIDO E PASSA A ENXERGAR NOVAMENTE COM NITIDEZ. TODOS FICAM FELIZES, POIS O PENSAMENTO COLETIVO LEVA A CRER QUE OBVIAMENTE TODOS VOLTARÃO A VER DE NOVO, PORÉM VENDO DE FATO, ALÉM DO QUE O SIMPLES SENTIDO DA VISÃO. NAS PALAVRAS DO TRECHO DO LIVRO: “Por que foi que cegamos?, Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão. Queres que te diga o que penso? Diz! Penso que não cegamos, penso que estamos cegos.Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem".