"BUDISMO COM ATITUDE"
Há pouco tempo, li e já estou relendo o livro “Budismo com Atitude” de B. Alan Wallace, Ph. D.
E posso dizer com toda sinceridade que é uma obra que pode ser referência para alguém que quer ter uma vida mais significativa.
Numa linguagem clara, o autor discorre sobre o “Treinamento da Mente em 7 Etapas”. Tal ensinamento provém de uma antiga tradição do budismo tibetano e tem como objetivo trabalhar a mente do praticante de forma que ele enxergue a vida com maior lucidez, maior felicidade e muitíssimo menos confusões.
Percebi que o autor é um mestre que prima pela dedicação e zelo em relação à sua fé e à sua vida espiritual, pois segundo ele, não devemos adaptar nossa prática espiritual ao nosso estilo de vida, mas sim o contrário. De fato, o que há de maior importância do que a busca pelo equilíbrio e pela felicidade?
O livro trata exaustivamente sobre a prática budista em 7 etapas, não no sentido de cansar o leitor, mas de forma a fazer uma abordagem profunda, minuciosa. O que exige dedicação e zelo para assimilar os preceitos e colocá-los em prática no dia a dia.
Logo de início, há uma fase de preparação. Os “4 pensamentos que mudam a mente*”. Tais pensamentos são: A preciosidade da vida humana, impermanência e morte, sofrimento e carma.
*O que esperamos para nossa vida? Como tornar a rara vida humana numa fonte de felicidade? Como fazer uma vida humana ter um significado especial? Segundo a tradição budista é muito raro ter um nascimento humano, e por sermos humanos, temos a oportunidade de vivermos livres de sofrimento e levar uma vida significativa. Portanto, quando contemplamos o valor de nossa vida, a oportunidade que nos foi concedida, começamos a operar mudanças em relação aos nossos valores e às coisas que fazemos.
*Tudo muda. Absolutamente, tudo muda. Se temos posses, relacionamentos, fama, poder, dinheiro e até nós mesmos estamos sujeitos à roda da vida. Ou seja, tudo aquilo que quisermos tornar fixo ruirá, e com isso nossa felicidade. Onde está o seu primeiro namorado(a)? E os seus pais? São eles os mesmos? Amigos do passado, tão fieis e companheiros, onde estão? Aquela primeira bicicleta que você tanto queria e conseguiu ganhar, qual é o paradeiro dela hoje?
*Tudo que tem vida perece. Não será diferente conosco. A realidade da vida é, entre outras coisas, nascimento, envelhecimento, doença e morte. Podemos até achar que esse assunto é chato, e por que pensar sobre coisas ruins como morte? Mas, independente de considerarmos o assunto bom ou ruim, a verdade é que a morte virá, e, pensar sobre ela nos faz valorizar a vida. Ao contemplar a nossa própria morte a vida toma outro rumo. Não podemos mais viver uma vida frívola diante da realidade da morte. Diante dela, todas as nossas más ações tornam-se amargas, encaramos a vida com mais seriedade e respeito, sabendo que não somos eternos e considerando a possibilidade fática de nossa extinção.
*Filósofos e pensadores de todos os tipos concordam entre si que o objetivo desta vida é encontrarmos a felicidade. Contudo, o sofrimento é uma realidade em nossas vidas. Temos raiva, medo, ansiedade, amargor, mágoa, depressão e tudo isso dói muito. Certamente, não há ninguém que queira levar uma vida repleta de sentimentos ruins. Meditar sobre o sofrimento também nos faz pensar sobre o que podemos fazer para nos livrarmos do aturdimento mental, que tantas e tantas vezes retira nosso bem-estar.
*Carma é uma palavra que significa ação. Segundo a tradição budista, nossas ações e pensamentos têm repercussão nesta vida e em vidas vindouras. Portanto, devemos agir de maneira correta, para não nos ferir, não ferir os outros e não acumularmos negatividades para essa e para as próximas vidas. A moralidade deve ser auto-imposta. Não devemos ter bons comportamentos por que uma tradição religiosa nos impõe, mas para nosso próprio bem e para não fazermos mal aos outros. Para que nossa natureza última, que é pura e livre de toda confusão, não seja encoberta por atitudes malévolas. Que só nos trarão sofrimentos e infortúnios.
Estes são, muitíssimo resumidamente, os pensamentos que mudam a mente. Contemplá-los com seriedade e profundidade nos faz reavaliar nosso rumo e começar a tomar atitudes que tornem nossa vida uma fonte de felicidade.
O livro ainda trata de muitos e muitos preceitos para efetiva mudança de paradigmas arraigados em nossa mente. Abordei somente os preparativos.
O Buda costumava dizer às pessoas que o ouviam para que não acreditassem simplesmente no que ele dizia, mas que colocassem os ensinamentos em prática e examinassem os resultados.
Esse é o desafio que nos propõe o livro; viver uma vida significativa e cheia de felicidade. Resta-nos por em prática esta preciosa sabedoria milenar.