Sociopatia- Um predador ao seu lado



 

''O ser humano é capaz de atos vis, cujo teor foge aos parâmetros da normalidade. Daquilo que comumente partilhamos a vida inteira e sabemos que existem...
Em labirintos, sombras e porões escuros.

Mas não podemos passar a margem da estrada sem que respingos de lama nos alcancem. É preciso conhecer os olhos famintos que espreitam nas esquinas, na internet...
no trabalho...Ou no mais inofensivo e bucólico parque de diversões. ''
 

 
 Algumas pessoas possuem  características que a psiquiatria associa ao chamado  distúrbio da personalidade anti-social ou sociopatia.
São inteligentes, articuladas, em geral não tem nenhuma ansiedade, depressão, alucinações ou outros sintomas e sinais indicativos de neurose, pensamento irracional ou doença mental.
Muitas vezes são líderes em sua família ou grupo social e quase sempre sobressaem. A grande maioria das pessoas, em contato com o sociopata, é incapaz de imaginar que alguns conseguem ocultar por trás de uma vida dupla.
 
O Transtorno de Personalidade Anti-Social, vulgarmente chamado Sociopatia, é um transtorno de personalidade 
 , caracterizado pelo comportamento impulsivo do indivíduo afetado, desprezo por normas sociais, e indiferença aos direitos e sentimentos dos outros. A 
psicopatia bastante próxima do transtorno de personalidade anti-social, em geral, é mais severa que este.

Na 
classificação Internacional de doenças , este transtorno é chamado de Transtorno de Personalidade Dissocial (Código: F60.2). Indivíduos com este diagnóstico são usualmente chamados de sociopatas. é uma psicopatia generalizada: aversão de tudo e a todos. Total ausência de compaixão, nenhuma culpa pelo que fazem ou medo de serem pegos, além de inteligência acima da média e habilidade para manipular quem está em volta.
 
Sociopatia ou transtorno de personalidade anti-social, não se trata de raridade. Entre os psiquiatras, há consenso quanto a estimativas surpreendentes sobre a psicopatia.  De 1% a 3% da população tem esse transtorno. Entre os presos, esse índice chega a 20%", afirma a psiquiatra forense Hilda Morana, do Instituto de Medicina Social e de Criminologia do Estado de São Paulo (Imesc).
 
Isso significa que uma pessoa em cada 30 poderia ser diagnosticada como psicopata. E que haveria até 5 milhões de pessoas assim só no Brasil. Poucas seriam violentas, a maioria não comete crimes, mas deixa as pessoas com quem convive desapontadas. Eles andam pela sociedade como predadores sociais, dissolvendo  famílias, se aproveitando de pessoas vulneráveis e deixando carteiras vazias por onde passam, segundo o psicólogo canadense Robert  Hare, professor da Universidade da Colúmbia Britânica e um dos maiores especialistas no assunto.
 
 
O francês Philip Pinel, um dos pais da psiquiatria, escreveu no século 18 sobre pessoas que sofriam uma "loucura sem delírio".
 
O primeiro estudo para valer sobre psicopatia só viria em 1941, com o livro The Mask of Sanity ("A Máscara da Sanidade", sem tradução para o português), do psiquiatra americano Hervey Cleckley. Ele dedica a obra a um problema "conhecido, mas ignorado" e cita casos de pacientes com charme acima da média, capacidade de convencer qualquer um e ausência de remorso. Com base nesses estudos, Robert Hare passou 30 anos reunindo características comuns de pessoas assim, até montar sua escala Hare, o método para reconhecer psicopatas mais usado hoje.
Trata-se de um questionário com perguntas sobre a vida do sujeito, feito para investigar se ele tem traços de psicopatia. Seja como for, não é fácil identificar um. Psicopatas não têm crises como doentes mentais: o transtorno é constante ao longo da vida. Outras funções cerebrais, como a capacidade de raciocínio, não são afetadas. Algumas características, no entanto, são evidentes. 
 
 
 
A capacidade de mentir 

 
 
Todo mundo mente, mas psicopatas fazem isso o tempo todo, com todo mundo. Inclusive com eles mesmos. São capazes de dizer "Já saltei de pára-quedas" e, logo depois, "Nunca andei de avião", sem achar que existe uma grande contradição, pois sempre pensam que ninguém será capaz de perceber suas histórias e fantasias.
 
Não é raro freqüentarem sites de relacionamentos e salas de bate papo. No mundo virtual, cada um pode ser o que desejar e muitas vezes, as pessoas personificam o que o ‘’outro’’ anseia. Projetamos uma gama de virtudes que podem ‘’milagrosamente’’ aparecer de um momento para o outro. Homens e mulheres que passaram por esta experiência são pródigos em afirmar que realmente não sabem como aconteceu...
 
"Depois que descobri as mentiras que ele me contou, passei um tempo me perguntando como tinha sido tão burra para acreditar naquilo", diz a professora carioca Lucia. Há alguns anos, ela conheceu um cara incrível.
Ele dizia que, com apenas 27 anos, era diretor de uma grande companhia e que, por causa disso, viajava sempre para os EUA e para a Europa. Atencioso e encantador, João  era o genro que toda sogra queria ter. Em poucos meses, estávamos quase casando. Então a mãe dele revelou que era tudo mentira. O filho era doente, enganava  as pessoas desde criança e passava por um tratamento psiquiátrico." A vida desta mulher nunca mais foi a mesma. Para João, não fez a menor diferença. Ele simplesmente não se importa.
 
Nem sempre quem passa pelas mãos de um psicopata, tem tempo de descobrir a verdade. Que o digam as pessoas que cruzaram o caminho de Alessandro Marques Gonçalves. Formado em direito, ele resolveu fingir que era médico. E levou esse delírio às últimas conseqüências:  Forjou documentos e conseguiu trabalho em grandes hospitais paulistas. Enganou pacientes, chefes e até a mulher, que espera um filho dele e não fazia idéia da fraude. Desmascarado em fevereiro de 2006, Alessandro aleijou pelo menos,  vinte e três pessoas e é suspeito da morte de alguns.
 
"Ele usa termos técnicos e fala com toda a naturalidade. Realmente parece um médico", diz o delegado André Ricardo Hauy, de Lins, que o interrogou. "Também acha que não está fazendo nada de errado e diz, friamente, que queria fazer o bem aos pacientes." Quando foi preso, Alessandro não escondeu a cabeça como os presos geralmente fazem: deixou-se filmar à vontade.
"O diagnóstico de transtorno anti-social depende de um exame detalhado, mas dá para perceber características de um psicopata nesse falso médico. É que, além de mentir, ele mostra ausência de culpa", afirma o psiquiatra Antônio de Pádua Serafim, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
 
Nada deixa esses indivíduos com peso na consciência. Fazer coisas erradas, todo mundo faz. Mas o que diferencia o psicopata do "todo mundo" é que um erro não vai fazer com que ele sofra. Sempre vai ter uma desculpa: "Um cara que matou 41 garotos no Maranhão, Francisco das Chagas, disse que as vítimas queriam morrer", conta Antônio Serafim.
Justamente por achar que não fazem nada de errado, eles repetem seus erros. "Psicopatas reincidem tres vezes mais que criminosos comuns", afirma Hilda Morana, que traduziu e adaptou a escala Hare para o Brasil. "Tem mais: eles acham que são imunes a punições." E isso vale em qualquer situação. Até na hora de jogar baralho.
 
Foi o que mostrou o psicólogo americano Joe Newman num experimento em 1987. No laboratório, havia 4 montes de cartas. Sem que os jogadores soubessem, um deles estava cheio de cartas premiadas. Ou seja: quem escolhesse aquele monte ganhava mais dinheiro e continuava no jogo. Aos poucos, porém, a quantidade de cartas boas rareava, até que, em vez de dar vantagem, escolher aquele monte passava a dar prejuízo.
 
Pessoas comuns que participaram da pesquisa logo perceberam a mudança e deixaram de apostar nele. Psicopatas, porém, seguiram tentando obter a recompensa anterior. "Pessoas comuns mudam de estratégia quando não obtêm recompensa", afirma o neurocientista James Blair, autor do livro The Psychopath – Emotion and the Brain ("O Psicopata – Emoção e o Cérebro", sem edição brasileira). "Mas crianças e adultos com tendências psicopatas  continuam a ação mesmo sendo repetidamente punidos com a perda de pontos."
 
Se você estivesse indo comprar cerveja perto de casa e  desse conta que esqueceu a carteira, o que faria? Em vez de voltar para buscar dinheiro, um psicopata da Califórnia preferiu catar um pedaço de pau, bater num homem e levar o dinheiro dele. Também tem o caso de uma mulher que deixou a filha de 5 anos ser estuprada pelo namorado. Perguntada por que deixou aquilo acontecer, ela disse: "Eu não queria mais transar, então deixei que ele fosse com a minha filha."
 
Eis mais um traço psicopata. "Eles tratam as pessoas como coisas", afirma o psiquiatra Sérgio Paulo Rigonatti, do Instituto de Psiquiatria do HC. Isso acontece porque eles simplesmente não assimilam emoções. Para entender isso melhor, vamos dar um passeio pelo inferno.
 
Corpos decapitados, crianças esquálidas com moscas nos olhos, torturas com choque, gemidos desesperados. Só de imaginar cenas assim, a reação de pessoas comuns é ter alterações fisiológicas como acelerar as batidas do coração, intensificar a atividade cerebral e enrijecer os músculos.
 
Em 2001, o psiquiatra Antônio Serafim colocou presos de São Paulo para assistir a cenas assim. Cada um ouvia, por um fone, sons desagradáveis, como gritos de desespero. "Os criminosos comuns tiveram reações físicas de medo", diz ele. "Já os identificados como psicopatas não apresentaram sequer variação de batimento cardíaco."
 
Uma série de estudos do Instituto de Neurociência Cognitiva, nos EUA, mostrou que psicopatas têm dificuldade em nomear expressões de tristeza, medo e reprovação em imagens de rostos humanos. Outros estudos ligaram psicopatia com a falta de nojo e problemas em reconhecer qualquer tipo de emoção na voz das pessoas, afirma Blair.
 
Assim como daltônicos não conseguem ver cores, psicopatas são incapazes de enxergar emoções. Não as enxergam nem as sentem, pelo menos não do mesmo jeito que os outros fazem. Em vez disso, eles só teriam o que os psiquiatras chamam de proto-emoções : Sensações de prazer, euforia e dor menos intensas que o normal. "Isso impede os psicopatas de se colocar no lugar dos outros", diz Hilda Morana.
 
No livro No Ventre da Besta – Cartas da Prisão, o escritor americano Jack Abbott descreve com honestidade o que acontece na sua cabeça de psicopata: "Existem emoções que eu só conheço de nome. Posso imaginar que as tenho, mas na verdade nunca as senti".
 
Hoje, se sabe que boa parte da estrutura cerebral se forma durante a vida, sobretudo na infância. Mas cientistas buscam uma causa genética porque a psicopatia parece surgir independentemente do contexto ou da educação. "Nascem tantos psicopatas na Suécia ou na Finlândia quanto no Brasil", afirma Hilda Morana. "Os pais costumam se perguntar onde foi que erraram." A impressão é que psicopatas nasceram com o problema. "Eles também surgem em famílias equilibradas, são irmãos de pessoas normais e deixam seus pais perplexos", afirma Oliveira-Souza.
James Blair vai pela mesma linha: "Estudos com pessoas da mesma famíla, gêmeos e filhos adotados indicam que o comportamento dos psicopatas e as disfunções emocionais são coisas hereditárias", afirma.
 
Mesmo quem defende uma origem 100% genética para a psicopatia não descarta a importância do ambiente. A criação, nessa história, seria fundamental para determinar que tipo de psicopata um camarada com tendência vai ser.
"Fatores sociais e práticas familiares influenciam no modo como o problema será expresso no comportamento", afirma Rigonatti. Por exemplo: psicopatas que cresceram sofrendo ou presenciando agressões teriam uma chance bem maior de usar sua "habilidade" para matar pessoas.
 
 
Já os que vêm de famílias equilibradas e viveram uma infância sem grandes dramas teriam uma probabilidade maior de se transformar naqueles que mentem, trapaceiam, roubam, mas não matam. Mais de 70% dos psicopatas diagnosticados são desse grupo, mas não há motivo para alívio.
 
Psicopatas infiltrados na política, em igrejas ou em grandes empresas podem fazer estragos ainda piores.
Exemplos não faltam. O político absurdamente corrupto,  que é adorado por eleitores, cativa jornalistas durante entrevistas, não entra em contradição nem parece sentir culpa por ter recheado suas contas bancárias com dinheiro público é um. O líder religioso que enriquece as custas de doações dos fiéis é outro.
 
"Certamente há mais psicopatas no mundo dos negócios que na população em geral", diz o psiquiatra Hare, que escreveu com Babiak o livro Snakes in Suits – When Psychopaths Go to Work ("Cobras de Terno – Quando Psicopatas vão Trabalhar", inédito no Brasil). "O poder e o controle sobre os outros tornam grandes empresas atraentes para os psicopatas", diz.
 
 "Psicopatas têm plena consciência de que seus atos não são corretos", afirma Hare. "Apenas não dão muita importância para isso." Se cometem crimes, então, devem ir para a cadeia como os outros criminosos.
Só que até depois de presos psicopatas causam mais dores de cabeça que a média dos criminosos. Na cadeia, tendem a se transformar em líderes e agir no comando de rebeliões, por exemplo. "Mas nunca aparecem. Eles sabem como manter suas fichas limpas e acabam saindo da prisão mais cedo", diz Antônio de Pádua Serafim.
 
Por conta disso, a psiquiatra forense Hilda Morana foi a Brasília em 2004 tentar convencer deputados a criar prisões especiais para psicopatas. Conseguiu fazer a idéia virar um projeto de lei, que não foi aprovado. Nas prisões brasileiras, não há procedimento de diagnóstico de psicopatia para os presos que pedem redução da pena. "Países que aplicam o diagnóstico têm a reincidência dos criminosos diminuída em dois terços, já que mantêm mais psicopatas longe das ruas", diz ela. Tampouco há procedimentos para evitar que psicopatas entrem na polícia – uma instituição teoricamente tão atraente para eles quanto as grandes empresas. Também não há testes de psicopatia na hora de julgar se um preso pode partir para um regime semi-aberto. Nas escolas, professores não estão preparados para reconhecer jovens com o transtorno.
 
"Mesmo dentro da psiquiatria existe pouca gente interessada no assunto, já que os psicopatas não se reconhecem como tal e dificilmente vão mudar de comportamento durante a vida", diz o psiquiatra João Augusto Figueiró, de São Paulo. Também não existem tratamentos comprovados nem remédios que façam efeito.
 
Outro problema: quando levados a consultórios, os psicopatas acabam ficando piores. Eles adquirem o vocabulário dos especialistas e se munem de desculpas para justificar seu comportamento quando for necessário. Diante da falta de perspectiva de cura, quem convive com psicopatas no dia-a-dia opta por vigiá-los o máximo possível.
 
 
 
Relacionamento
 
Palavras perfeitas na hora e momento preciso. Capazes de persuadir os mais cautelosos, possuem espírito de liderança e o dom da manipulação. Ciumentos por natureza,  almejam total controle financeiro e emocional. A capacidade de reverter a situação de acordo com seus interesses, faz com que acusem e convençam as demais pessoas, que são responsáveis por seus sofrimentos. Incutindo culpa e instabilidade emocional. Desta forma conduzem a fraqueza dos parceiros ao seu bel prazer.
 
 
Remorso
 
Este sentimento simplesmente não existe, mas podem fingir perfeitamente bem uma bela crise de consciência, se necessário. Em benefício pessoal, espere tudo de quem nunca dará nada em troca.
 
 
 
Criatividade
 
Criam um mundo de glória e êxitos, insistem em propagar os ‘’tempos áureos’’ que na maioria das vezes são mentiras para atrair as vítimas. Neste conto de fadas macabro, sedução e fascínio ocultam o lado perverso e obscuro.
.
 
Egoísmo
 
Usam da mentira, sedução, intimidação e ameaças para conseguir seus objetivos. Não sentem remorsos e desconhecem lealdade ou fidelidade.
 
 
Frieza
 
O sociopata é um egocêntrico patológico, expressa desprezo completo pelos outros seres humanos. Incapaz de
Sentir emoções não consegue retribuir, ser solidário ou sentir compaixão.
Insensíveis ao extremo, não se compadecem do sofrimento alheio, podendo até mesmo agredir e humilhar aumentando assim, o completo domínio emocional sobre o outro.
 
 
 
Exploração
 
 
Irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou honrar obrigações financeiras; é capaz de explorar o próximo até a exaustão.
Sempre conhecem negócios muito lucrativos e convencem a vítima a fazer grandes investimentos. E desaparecem com todo o dinheiro, deixando para trás pessoas iludidas e muitas vezes cheias de dívidas.
 
 
 
 
The Psychopath - James Blair e outros, Blackwell, EUA, 2006
Without Conscience - Robert Hare, Guilford, EUA,1993
The Sociopath Next Door - Martha Stout, Broadway, EUA, 2005
 
 
 Foto: Kathy Bates em Misery - Homenagem 

Giselle Sato
Enviado por Giselle Sato em 03/06/2009
Reeditado em 15/04/2010
Código do texto: T1630361
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.