A IMPREVISIBILIDADE SEMÂNTICA DOS DEVANEIOS FILOSÓFICOS MODERNOS
Sobre a Obra "os sete saberes necessários à educação do futuro" de Edgar Morin.
O filósofo francês Edgar Morin é um dos mais bem conceituados pensadores da educação na contemporaneidade: seus escritos nesta área lhe renderam notado prestígio no meio acadêmico mundial. Em 1999 foi convidado pela UNESCO a elaborar um painel reflexivo sobre o panorama atual e os ideais caros a ‘sociedade planetária’ no que concerne às praticas pedagógicas futuristas.
A obra em questão é um apelo, quase quimerial, como tantas e tantas outras propostas apresentadas ao longo dos séculos por filósofos e educadores, inseridos em um determinado contexto socio-econômico-cultural, necessitados por contribuir de alguma maneira na mudança de paradigma na educação de seu tempo. Leitura simples e de fácil assimilação, as sete explanações – ensinar a identidade terrena, principalmente - brotam da mente de Morin com um gritante ar de obvialidade, apesar de sua intelectualidade consciente. Concordar é preciso; avante!, é otimista, prazeroso aos sentidos céticos dos educadores engajados, universalmente estimulante, e por isso mesmo : “u-topos”: sem lugar; utópico. A novidade é que desta vez o discurso empregado adquiri contornos inéditos na história da humanidade; o principal deles é a integração planetária como atriz de influência direta no comportamento social ao redor do mundo – capitalistamente falando “ o tal do aldeiamento global” .
Pensar em um modelo de educação com diretrizes uniformes para todas as milhares de correntes culturais desta ínfima poeira cósmica chamada por muitos de terra, é convergir demasiadamente com as fantasias dos desejos de aurora; com as novidades saborosas ao paladar visionário, e isso já é provado por a + b: -ah! Aderir ao protocolo de kyoto é bonitinho, mas vai desacelerar minha economia, faz o seguinte: eu pago àquele país lá da América do Sul, do qual me esquecí o nome, para que o mesmo sequestre um pouco de carbono por mim. Ponto final. Não se pode interagir bilateralmente sobre sustentabilidade com a mola propulssora dos picos de desenvolvimento no mundo moderno: a OMC e seus tentáculos; do mesmo modo que no país mais populoso do planeta não se pode disseminar os frutos das ciências sociais, não obstante a incoerência.
Capitalismos, socialismos, comunismos; ateísmo, induismo, islamismo, cristianismo. Sim é urgente a necessidade de saberes imprescindíveis à educação do futuro, no entanto direcionados a cada uma dessas realidades, pois, embora saiba-se da maior demonstração Obamiana de democracia; e isso seja muito simpático, a aldeia global, de Marshall McLuhan, não garante, ou mesmo permite, um certo auxílio ao resto do mundo, no que se refere ao protecionismo alfandegário e outras imposições praticadas por quem podem se dar a estes luxos, e o Francês tem noção disso.
É preciso ser otimista sempre, em contra partida, faz-se necessário adequar o pensamento à realidade, que, hoje em dia, comunga muito sempre com as constantes pessimistas.
Aos pedagogos displicentes é um livro de cabeceira; ideal para desencadear uma tomada de consciência, no sentido de dotar-se de um maior campo de visão em sua principal área de interferência: a educação em todas as suas complexidades. Mas se a companhia noturna estiver lotada com as obras de Vygotsky, Piajet, Wallon e Paulo Freire, ainda há outra alternativa: leia este livro num domingo a tarde, depois do almoço familiar e da correção das provas de seus alunos – disciplina por disciplina, uma a uma – é claro, faça isso naquela rede armada no fundo do quintal debaixo da mangueira, se o sono vier antes da metade da leitura, ‘sem problemas’, entregue-se a ele, com os resquícios pedagógicos que acabou de absorver, e seja o mais novo componente do ‘dream team’: patrocinado pela UNESCO e liderado pelo Senhor Edgar Morin.
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