HISTÓRIAS SOBRE A COMPLEXIDADE E O COTIDIANO ESCOLAR, de Ulisses F. Araujo
HISTÓRIAS SOBRE A COMPLEXIDADE E O COTIDIANO ESCOLAR, de Ulisses F. Araújo.
Por Paulo de O. Nascimento
Este é um capitulo do livro A Construção de escolas democráticas: Historia sobre complexidade, mudanças e resistências, do mesmo e no qual são levantadas questões acerca da realidade escolar e aquilo que se pensa sobre essa realidade.
A realidade e o cotidiano escolar são, para o autor, extremamente complexos e ricos para serem explicados por teorias simplistas. Aliás, é uma torno desse tipo de teoria que o autor desenvolve o texto, enquanto a raiz de problemas como o fracasso escolar e a evasão não estão apenas nas condições econômicas, ou nos pais (desses alunos) separados, ou na rigídes dos docentes, mas relaciona-se a uma miríade de outras questões, além destes.
O autor enfoca a fragmentação que os profissionais promovem a todo o processo educacional. Desde o próprio currículo que é fragmentado em disciplinas indiferentes umas das outras, até a causa dos problemas, tudo é fragmentado, enquanto justifica-se, a que a partir dessa fragmentação, poder-se entender a atualidade, e isto é reputado pelo autor.
Baseado no modelo cartesiano de ciência, essa prática escolar elegi alunos e alunas como os responsáveis pela assimilação de todos os conteúdos, afim de que eles próprios construam sua totalidade, o que acaba não acontecendo.
Contra esse pensamento simplificado, que desintegra o real, põe-se o pensamento complexo que vem integrar esse real. Este pensamento complexo e ideal para fornecer as possíveis respostas para as questões do cotidiano escolar.
O pensamento complexo, como coloca Ulisses F. Araújo, é um campo extenso, amplo, difícil de lidar, o qual contempla todos os mundos dos indivíduos.
A escola não pode receber explicações simplistas, dada a miríade de mundos dos indivíduos, senão uma outra miríade em que se dividem cada um desses indivíduos.
O autor ainda destaca o fato da escola está ligada a uma miríade de outras estruturas (família, religião, tribos, etnias, etc.) e todas se relacionam de forma intrínseca, o que também interfere na construção desse universo escolar. Isso dá múltiplas faces a este universo escolar, o que também gera a necessidade de controlar os indivíduos e isso ocorre de duas frentes: controla-se o corpo e a mente.
Na busca por esse controle, fragmenta-se, porque só através dessa fragmentação é que se compreende e controla o objeto, segundo os cartesianos.
Sempre que surgem problemas no seio da escola, atribui-se estes a uma das partes, através do unidimensionamento enquanto se ignora o todo, no qual se compõe a escola. É o pensamento simplificamente o responsável por muitos equívocos nessas questões. Quando se adota o pensamento complexo, torna-se mais tangível, consistente a compreensão do processo educativo.
O(s) problema(s) enfrentado(s) no dia-a-dia das escolas, estas quando entendidos como superestruturas que congregam “mundos” dentro de outros “mundos”, que juntos e/ou separados, constituem outros “mundos”, estes problemas podem estar relacionados não apenas com um dois fatores, mas com o conjunto desses fatores que, juntos, constituem esses “mundos” e que, de uma maneira o de outra, estarão na gênese do(s) problema(s) posto(s) em foco.
E isto que a visão complexa possibilita aos olhares daqueles que tendem a buscarem respostas para as questões suscitadas em face desses problemas. A partir dessa visão, as soluções também passam a ter um caráter de maior complexidade.
Esta visão complexa é norteada pelos princípios da incerteza e do acaso, o que foge do controle daqueles que se prestam ser os controladores, talvez por isso, seja considerado um campo perigoso e receba certa resistência. Por isso também é um campo de experiência que pode enriquecer grandemente todo o processo.
Para o autor, o determinismo da visão simplista acaba por atrapalhar o desenvolvimento do processo educativo.
Diante dessas proposições do autor, que são muito bem fundamentadas, me arrisco a ver a escola de forma metafórica: Esta seria como um deserto de dunas, as quais os ventos do sul, do norte, do leste e do oeste, e estes estão, a cada instante, interferindo e modificando as formas dessas dunas. Daí, seria impossível que uma simples fórmula pudesse explicar a “razão de ser e/ou estar” dessas dunas.
Na escola, a cada instante, os ventos movimentam e modificam seus componentes e, apesar de, como nas dunas, haverem alguns princípios norteadores, torna-se difícil sua compreensão.
Pra mim, é isto que o texto de Ulisses F. Araújo quer mostrar, através de fortes argumentos, claros exemplos e uma vontade de entender melhor o que, de fato, acontece na escola e em torno dela e de todos que, de uma maneira ou de outra, ligam-se a ela.
Bibliografia
ARAUJO, Ulisses F..Histórias sobre a complexidade do cotidiano escolar. In: A construção democrática: histórias sobre complexidade, mudanças e resistências. São Paulo: Moderna, 2002.