HÁ OU NÃO TEORIAS DA COMUNICAÇÃO?

O livro “Teorias da Comunicação: muitas ou poucas?” organizado pelo professor e pesquisador Luiz C. Martino, é um trabalho composto por quatro artigos. A obra é, na verdade, um espaço onde se discute a existência (ou não) das teorias da comunicação.

Mas o que são, afinal, teorias da comunicação? Quais são? Como são classificados os estudos teóricos? Esses são alguns questionamentos que Martino faz logo de início no livro, como forma (até) de provocar o leitor e levá-lo a seguir os caminhos da reflexão e do questionamento acerca dessas teorias.

Graduado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luiz C. Martino é doutor em Sociologia, formado pela Universite de Paris V (Rene Descartes). Tem mestrados em Comunicação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e em Psicologia pela Fundação Getúlio Vargas e Universidade Federal do Rio de Janeiro. É mestre também em DEA En Sciences Sociales Cultures et Comportaments - Universite de Paris V (Rene Descartes). Tem experiência na área de comunicação, com ênfase em Estudo de Meios, atuando nos seguintes temas: teoria da comunicação, epistemologia da comunicação, meios de comunicação e metodologia da pesquisa. Atualmente é professor adjunto da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do CNPq, tendo sob a sua responsabilidade a coordenação da linha de pesquisa Teorias e Tecnologias da Comunicação, do Programa de Pós-Graduação.

"Teorias da Comunicação: muitas ou poucas?" é o primeiro volume da Coleção Azul, da Ateliê Editorial, que traz como proposta a abertura de um canal voltado para as discussões dos processos, teorias e objetos da comunicação. O livro é composto por quatro artigos, distribuídos em 138 páginas.

No primeiro artigo, intitulado “Uma questão prévia: Existem teorias da comunicação?” e escrito pelo próprio Martino, o autor inicia expondo o problema e procura puxar de imediato o debate. Questiona o leitor acerca de onde vem a crença da existência de teorias da comunicação e, ao longo do texto, faz outros questionamentos, buscando respostas.

Ele explica que as ditas teorias da comunicação existentes na atualidade foram apropriadas de outras áreas do conhecimento, a exemplo da lingüística, da psicologia, das ciências políticas e da sociologia, somente para citar algumas. E chega a afirmar:

“Algumas das mais reconhecidas teorias de nossa área, como a Teoria Hipodérmica, o Esquema de Lasswell, o modelo dos Dois Estágios da Comunicação, a Teoria Crítica (Escola de Frankfurt), a Escola de Chicago (...) freqüentemente têm sido apontadas como clássicas em nossa área de conhecimento. Tais teorias, no entanto, curiosamente nunca reivindicaram para si o título de teorias da comunicação. Ao contrário, cada uma delas permanece ligada a seu campo disciplinar de origem. Somos nós, do campo da comunicação, que a enxergamos como teorias da comunicação.”

Tendo cumprido o objetivo de chamar a atenção para um debate que vem sendo travado por estudiosos em outras partes do mundo, agora vem Charles R. Berger, da Universidade da Califórnia, com o seu artigo defender “Por que existem tão poucas teorias da comunicação?”. Ele fala da inexistência de “um núcleo teórico” específico para o campo da comunicação. Para ele o campo importa mais teorias do que exporta.

No artigo, Berger aponta as razões para a carência de crescimento teórico da comunicação (heranças históricas, obsessão metodológica, aversão a arriscar-se e auto-inclusão) e faz críticas aos procedimentos dos pesquisadores. Entre elas a falta de produção teórica própria; a grande atenção dada à metodologia, em detrimento da construção de teorias e, também, o medo de correr riscos. O especialista ainda apresenta sugestões para melhorar a situação, como fazer do desenvolvimento de teorias “uma parte integral da experiência da pós-graduação”.

Na posição oposta, o professor Robert T. Craig, da Universidade do Colorado, é autor do terceiro artigo, “Por que existem tantas teorias da comunicação?”. Ele chama a atenção para o fato de que as teorias da comunicação “estão atualmente florescendo como nunca” e diz que a existência de muitas teorias deve-se ao fato de que as ciências humanas se tornaram mais teóricas e, tornando-se teóricas, tornaram-se mais científicas. Outro argumento de Craig é que qualquer teoria pode ser apropriada com a finalidade de servir a um determinado fim, fragmentando-se e criando novas teorias.

No último texto, “Muitas & Poucas: a dupla personalidade das teorias da comunicação”, do próprio Luiz Martino, é feito uma análise e resumo dos artigos dos estudiosos norte-americanos, com o autor comentando os argumentos apresentados por Berger e Craig nos seus trabalhos para justificar posições contrárias, respectivamente, a existência de poucas e a existência de tantas teorias da comunicação. Mas Martino ressalta não importante nesse momento aderir a qualquer das posições, mas procurar entender essa dissensão. Ele avalia que “por detrás dessa desavença há problemas mais profundos sobre o que devemos entender por ‘campo comunicacional’”.

A edição do livro “Teorias da Comunicação: muitas ou poucas?” trouxe à discussão um tema de interesse de pesquisadores, professores e estudantes desse campo, que puderam conhecer os pontos de vista de outros especialistas que atuam na área comunicacional. A leitura desse trabalho leva-nos mesmo a fazero seguinte questionamento: - Existem poucas ou muitas teorias da comunicação? Pesquisemos.

Como este é o primeiro volume da Coleção Azul, acreditamos que o debate sobre o tema não foi concluído, nem se encerrará tão cedo. A discussão é boa.

___________________________________________________________

"Teorias da Comunicação: muitas ou poucas?"

Luiz C. Martino, Charles R. Berger, Robert T. Craig

Organização: Luiz C. Martino

Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2007

ISBN 978-85-7480-359-3

Nº páginas: 138