A Miséria do Jornalismo Brasileiro - Juremir Machado da Silva
Nas palavras de Juremir: “todos sonham em brilhar na mídia. Os fracassados atacam – na”. Esta pode ser a primeira impressão que se tem ao ler A Miséria do Jornalismo Brasileiro. A frase de Balzac usada para abertura do livro ("Se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la”), mostra toda raiva que o autor usou para escrever este ensaio. Com uma linguagem simples, de frases curtas e objetivas e capítulos com três ou quatro páginas, a leitura se torna simples e de entendimento quase que instantâneo. A tática de “choque e pavor” do autor causa indignação aos que se postam contra suas idéias, de alguma forma isso agrada os que são a favor.
As verdades, que Juremir relata sobre o jornalismo brasileiro, estão escancaradas nas capas dos jornais, nas noticias pobres ou nos programas vespertinos da televisão. O difícil tem sido encontrar quem as fale e não seja ridicularizado por isso. Juremir é um jornalista respeitado (ou era pelo menos), escritor, doutor em Sociologia pela Sorbonne, em Paris, e professor da Faculdade de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Isto quer dizer que um jornalista com quase dez anos de profissão esta expondo tudo que viu dentro do jornalismo. Ele faz isso, aparentemente, sem ter nenhum medo de ser criticado e colocado na posição de ressentido, que ele renega lembrando o nome de Pierre Bourdieu, um Europeu que critica ferozmente a mídia.
O autor divide os jornalistas em três categorias: o esquerdista ilustrado, o aluno modelo dos cursos de jornalismo e o idiota tecnológico. O primeiro acredita piamente na crítica frankfurtiana, o segundo vive nas regras do “bom jornalismo e nas palavras do manual de redação”, já o terceiro crê que a Internet é a salvação de todos os problemas do mundo, incluindo ai a mídia.
É certo dizer que nada do que está escrito é novidade, criticar fenômenos criados para alimentar o mercado é comum nos bastidores da mídia. Talvez o mais importante na obra foi citar nomes, como a vulgaridade de Xuxas e Carlas Peres. Expor uma rixa, pessoal do autor, com personalidades reconhecidas nacionalmente como Luis Fernando Veríssimo ou Jô Soares.
Uma questão fundamental nesta discussão é a formação de novos jornalistas. Estes profissionais já chegam à redação sabendo o mal que fazem a sociedade, e tem consciência cada vez que o fazem. Por medo de perder o emprego e serem excluídos deste fedido universo que é a mídia, prosperam um jornalismo sem o elemento essencial da profissão, a noticia. "Repassar toda culpa aos patrões pusilânimes significa antes de tudo arranjar um excelente álibi”. Esta talvez tenha sido a passagem que tenha alfinetado com mais força a classe jornalística em geral, cutucar diretamente aqueles que se dizem de mãos atadas.
A transformação da noticia em produto perigoso e que deve ser cuidadosamente moldado antes de ser veiculado não é só culpa do dono do jornal, o capitalista selvagem, e o editor, seu leal carrasco. O jornalista não produz um bom material que é vetado, ele produz o que sabe que vai ser aceito pelo seu editor. Ele sabe que se não seguir as normas e regras, que ele desconhece em muitos casos, impostas pelo retorno financeiro vai ser substituído por alguém que o faça. E isso tem que ser feito de uma forma “amigável”, sempre evitando o constrangimento de ser repreendido pelo seu editor por fazer um bom trabalho.
A era da desinformação, como o escritor coloca, veio apenas para confirmar a alienação e a massificação da massa imposta pela industria cultural depois da invenção da televisão. Juremir Machado mostra que a mídia é um grande centro de trocas de favores, aonde o fator determinante é o “quem indica”, e este indicador na maioria das vezes age em favor de interesses pessoais. O jornalista de esquerda só existe porque nos dias de hoje há uma esquerda economicamente ativa, isto quer dizer que, se a esquerda não gerar lucro para o capitalista selvagem que ela tanto condena, o mesmo não vai produzir mais produtos para que ela o consuma. A Companhia das Letras, editora criticada pelo autor, não tem nenhum interesse em promover qualquer tipo de idealismo reacionário, o interesse dela é sim lucrar com os que acham que isso ainda é possível e para isso usa como recurso sua influencia na mídia para transformar seus lançamentos em “best sellers” através do caderno Mais! de Folha de São Paulo.
Juremir afirma também que a mídia trabalha cada vez mais para si, sendo apenas uma representante de celebridades criadas por ela mesma. Os jornalistas, na visão do autor, tem como certeza que a opinião do leitor é de que “pensar cansa”, por isso devem produzir textos padronizados e sem conteúdo, se enganando com o termo "é o que o que o povo quer". A Miséria do Jornalismo Brasileiro desperta no leitor uma estranha sensação de isolamento, de que ninguém presta. Faltou por parte do escritor mostrar um outro caminho para o jornalismo, ou uma segunda opção aos que querem fugir do modelo existente. No final acaba-se por se pensar que o autor é contra tudo e contra todos, um egocêntrico, que tem com ele a formula mágica para a mudança e não quer contar a ninguém.