Panorama sobre a obra WUTHERING HEIGHTS DE EMILY BRONTË

A estratégia brontiana, no tocante à reiteração de nomes, constitui-se como uma premonição de um conceito inerente à contemporaneidade. As hodiernas pesquisas científicas têm procurado provar, empiricamente, a tese sobre a ciclicidade temporal, espacial e vital. E conforme a mesma, os seres e as coisas mundanas estão sujeitos não à linearidade e à cronologia, dantes imaginada, mas sim ao fenômeno cíclico. Se, por exemplo, a cada ano celebra-se ano novo, racionalmente, exclui-se a noção de flecha temporal. Logo, apesar do ser humano ser senhor de si, nada é etéreo o suficiente, uma vez que, tudo está sujeito à uma reincidência.

Eis, pois, a sapiência estético-literária de Emily Brontë: ao reiterar nomes no transcurso da obra, a mesma quis, subliminarmente, sugerir que os acontecimentos ali vividos estão sujeitos à ciclicidade temporal, podendo, destarte, reincidir por gerações e gerações. Além de que as características psico-comportamentais das personagens da obra são tidas como universais, e por serem inerentes à todo ser humano, mas em diferentes dosagens , são capazes de processar catarse em qualquer leitor não importando à época ou ideologia.

Destarte, considerando a adequação de Wuthering Heights com um romance gótico, alguns críticos inferem que tal reiteração nominal alude à não finalização da obra.

A dualidade constitui-se como um recorrente recurso literário no universo da Literatura Ocidental, uma vez que, alude à uma idiossincrasia inerente ao ser humano que por natureza é um ser dual, sendo, destarte, seu meio e tudo que o circunda, consequentemente, profundamente paradoxal.

Emily Brontë soube manobrar tal artimanha literária, sapientemente. Todo o universo da obra Wuthering Heights é marcadamente dual. Por exemplo, a personagem Catherine vive um dilema dual: ama, sentimentalmente, Heathcliff mas, anseia a prosperidade sócio-finaceira contida na figura de Edgar Linton.

A própria autora de Wuthering Heights, Emily Brontë percebe a personagem Edgar Linton como um ícone representativo da humanidade humana. Todas as potencialidades humanas, no tocante à perfeição, estariam, pois, reunidas no mesmo.

Contudo, o transcurso dos conflitos da obra demostram a ineficácia de tal ideal de benevolência diante da força psicológica de um personagem como Heathcliff. Conforme a personagem Catherine, seu amor infantil eliminaria Edgar como um mero rato. Destarte, a simpatia de Edgar resplandecia fragilidade psico-comportamental.

A presença de duas vozes narrativas, na obra Wuthering Heights, encarna, certamente, a magistral habilidade literária brontiana, uma vez que, a própria dualidade do foco narrativo antecipa a atmosfera, profundamente, paradoxal reiterada em tal romance gótico.

Nelly Dean, empregada da casa de Catherine, presenciara todos os conflitos rascunhados, ficcionalmente, por Emily Brontë. E tal fato imprime potente grau de verossimilhança à sua narrativa, uma vez que, a mesma detém uma cacheira de gotas memorialísticas a respeito do par dual Heathcliff e Catherine. Contudo, apesar de Ter tido contato direto com o conflito, Nelly é um ser humano, como outro qualquer, e como tal está sujeita ao esquecimento e à miscigenação de situações. Logo, essa restrição constitui-se com um empecilho ao nível de credibilidade de sua narração. Além de que a sentimentalidade da mesma no ato narrativo pode imprimir à estória, uma atmosfera não muito fiel ao que realmente ficciona-se Ter acontecido.

Se, pois, o narrar de Nelly é certos aspectos desconfiável. Imagine-se, pois, o narrar de Lockwood, o inquilino da antiga casa de Edgar Linton que toma conhecimento do que ocorrera na residência de Wuthering Heights apenas por meio do narrar de Nelly. Destarte, quando o mesmo transcreve em seu diário o instigaste amor de Heathcliff e Catherine, o afastamento é perceptível imediatamente. Logo o grau de confiabilidade de seu narrar é minimizado diante do de Nelly.