OBSESSÃO TEMÁTICA DRUMMONDIANA: A OSCILAÇÃO EU-MUNDO-POESIA
Antônio Candido, no estudo intitulado Inquietudes na poesia de Drummond, debruça-se em torno de um dos momentos da poética drummondiana, essencialmente, marcado pelo intenso e íntimo relacionamento entre os elementos da tríade Eu-mundo-Poesia.
Emergido entre as duas primeiras e a última obras drummondianas, cronologicamente entre 1935 e 1959, tal momento-miolo destoa da serenidade e integridade entre ser, mundo e poesia caracterizadoras de um outro momento, no qual o nivelamento fraternal entre o eu e o mundo, harmoniosamente, convergiam-se em assunto de Poesia. Destarte, diferentemente do momento-miolo, o registro dos sentimentos, acontecimentos e dos espetáculos materiais e espirituais do mundo ascenderam-se ao patamar de objetos poéticos via registro aparente.
Galgando uma distinta postura do Eu em relação ao mundo, no momento-miolo, o ato poético, conforme Candido, parece ignorar o registro a fim de constituir-se como processo, uma vez que, a inserção do duelo entre o Eu e o mundo responsabiliza o próprio ato poético à harmonizar os conflitantes.
Logo, o momento-miolo das obras de Carlos Drummond de Andrande presentifica a poesia com a testemunha das inquietudes de um Eu que se percebe representante do (s) outro(s), que martiriza-se diante dos problemas do mundo e que se faz “eu todo retorcido” por ser embrião de um mundo, também, todo retorcido e por articular ambos em um universo poético todo retorcido capaz de universalizar as indagações individuais de um ser em dissonância com o lugar do próprio ser.
Portanto, o empirismo particular de um Eu torna-se processo catártico tanto para si como para o outro. Tal problemática inerente à identidade ou identificação do ser constitui-se como o fulcro do movimento criador das obras pertencentes ao momento miolo, conforme a compreensão de Candido . Pois, tal atmosfera de elucubração e inquietação existencial desemboca numa descontente e contrafeita oscilação entre o eu, o mundo e a arte.