GRAMÁTICA PADRÃO: SUAS BASES E AMPLIAÇÃO DAS MESMAS

Luis Carlos Travaglia (1997), em Gramática Padrão: suas bases e ampliação das mesmas, esboça uma intrigante reflexão sobre a importância de rever as bases que sustentam a gramática tida e eleita enquanto padrão, uma vez que a sociedade contemporânea, apesar da aparente descartabilidade de tais manuais, encara os mesmos como instrumentos de ascensão social, o que os torna, pois, imprescindíveis.

Ora, tal imprescidibilidade da Gramática normativa esbarra em algumas significativas incoerências, dentre elas o fato da mesma calcar-se em uma variedade lingüistica histórica oriunda de um tempo anterior ao atual, desprezando, destarte, a variedade padrão contemporânea da língua. Circunstâncias como essa, corroboram para com a proliferação de uma série de preconceitos lingüisticos e, concomitantemente, suscitam um repensar das bases sustentáculos da Gramática Normativa.

A fim de minimizar as incoerências presentes na constituição da Gramática Normativa, Travaglia propõe uma ampliação das bases das mesmas a partir de contribuições da Lingüistica e, para tal, aponta cinco aspectos. O primeiro deles sugere a consideração do uso dos bons escritores de textos de outros tipos correntes em nossa sociedade que não os literários. O segundo, por sua vez, propõe considerar a variedade escolhida em sua modalidade falada ao constituir as regras da gramática da norma padrão e calcar a mesma numa linguagem culta mais contemporânea constitui o terceiro aspecto.

Contudo, o quarto e quinto aspectos discriminados por Travaglia são, essencialmente, ousados. Pois, enquanto o quarto propõe uma observância da adequação comunicacional que antecederia a proscrição e prescrição de unidades, formas e construções, o quinto sentencia que o processo de ampliação das bases pressupõe uma rearticulação da própria definição dos critérios que levam a prescrever ou proscrever da norma padrão formas e usos da língua.

Destarte, ao esboçar os cinco aspectos promotores da ampliação das bases da Gramática normativa, Travaglia, certamente, articulou, e concomitantemente, abriu as portas de viáveis caminhos rumo à um repensar do uso social da língua. E, ainda, os efeitos benéficos resultantes de tais ampliações de bases possibilitarão a transição da Gramática Normativa enquanto relíquia de um passado literário para um manual constituído pela descrição da variedade da língua eleita como norma padrão e de regras para falar e escrever bem calcadas na contemporaneidade, e não mais nos antepassados lingüísticos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

TRAVAGLIA, L. C. Gramática Padrão: suas bases e ampliação das mesmas. In: PEREIRA, Maria T. G. (org). Língua e Linguagem em questão. Rio de Janeiro: UERJ, 1997.