RETRATO DE DORIAN GRAY DE OSCAR WILDE: UMA RELEITURA DO MITO DE NARCISO
O intrigante romance O Retrato de Dorian Gray do romancista irlandês Oscar Wilde tematiza uma curiosa história de um homossexual, nomeado Dorian Gray e conhecido como o Príncipe encantado, que transformou seu percurso vital em uma tragédia humana ao reverenciar sua própria imagem em uma pintura produzida pelo amigo Basílio.
Apesar da árdua resistência dos críticos da época vitoriana que condenaram a obra como sendo de natureza imoral, a tragédia de Dorian Gray se constitui como um dos principais vestígios da sapiência literária e estética do polêmico irlandês Oscar Wilde que rascunhou, sublimemente, as perturbações físico-psicológicas do protagonista Gray que, satanicamente, vira o mundo envelhecer enquanto seus atributos maléficos se acresciam, paulatinamente, culminando na sua etérea juventude.
Interessante é que a obra The Picture of Dorian Gray tesmunha uma recriação do mito greco-romano do vaidoso Narciso que morrera ao contemplar a beleza de sua imagem nas águas de um lago. E, concomitantemente, aborda o mito do Fausto, aquele que vendera a própria alma ao Diabo em troca de coisas terrenas. Contudo, a sublimidade de tal obra de arte, talvez, resida no modo como o esteta conseguiu universalizar a fragilidade e mediocridade humana, uma vez que, a persona do Dorian Gray corporifica a maioria das carniças presentes nas entranhas daqueles seres humanos aprisionados aos valores egocêntricos.
Certamente, a força pragmática dessa obra wildiana é capaz de purgar, profundamente, os leitores no que concerne à nossa capacidade inata de autodestruição. Se a obra fora taxada de imoral na contemporaneidade de sua criação, para nós, seres estéticos, a obra aprecia a sublimidade literária ao universalizar um Gray que repudiava não o seu próprio retrato, e sim todos as malícias e reflexos sociais nele refletidos.