Filhos $ Amantes (TVD) Cap. 20
Capítulo 20
O professor Papeco estava na rua. Teve vontade de ligar para Igor. Haviam se encontrado em duas oportunidades. Era um belo espécime! Fornicava de forma profissional. Deixava somente para o pagador a parcela de sentimento que pudesse existir na breve relação. Os homens (heterossexuais ou não) têm sempre atitudes desiguais. Contudo, a inerência do prazer supre qualquer falta. Gozo pelo gozo. O jeito educado e sincero de falar tornavam-no encantador. Confessava ao cliente maduro:
___ Gosto do senhor...
___ És u’a maçã saudável que não se deve comer...
___ Ao contrário, sou repleto de pecado...
___ A pureza e o pecado perdemos ou ganhamos em fases diferentes pela vida... Tens um tipo preferido de freguês, Igor?
___ Só tenho preferência por tipo de mulher... Faço sexo com homem por dinheiro... Beijo de língua e amor só dou em minha mulher... Há fregueses que são arrogantes, gostam de humilhar a gente quando contrariados... Descarto um novo encontro... Mas geralmente sou bem tratado...
Quase todos eles faziam diferença entre sexo-amor e sexo-dinheiro para protegerem a masculinidade. Negócio era negócio.
___ Tenho u’a mulher! Contei para o senhor, não contei?
___ Contou... Ela sabe o quê fazes? perguntou o professor.
___ Sabe... só não quer que me apaixone ou pegue doença, falou sorrindo.
Na cama, Igor esforçava-se para satisfazer o zod. Após o clímax sempre dizia: a mágica acabou! Era um sucesso na Vapor Dourado. Se ganhasse o prêmio, que seria sorteado entre os sigs, no fim de ano, abandonaria aquela vida, lhe confidenciara O professor tentou ligar mais uma vez para ele. Não atendeu. Devia de estar muito ocupado...
Era meia noite. O carro do professor apresentara defeito no motor e ficara na oficina para reparo. Fazia frio. Morava no lado sul da cidade. Não tinha hábito de viajar de ônibus. Só quando bebia demais pegava uma condução. Temia assaltos. A demora do circular o inquietava...
“Fizera uma visita ao tio Bocudo e a tia Lalinha. Distraíra-se, não notando as horas passarem, no bate papo animado. Saíra tarde. Divertiu-se com os impropérios proferidos pelo velho amigo.
___ Já é tarde homem, dorme aqui! A casa é pequena, mas só ouvirás uns peidos de madrugada...
___ Isso é coisa que se fale para o professor! protestou tia Lalinha.
___ Por acaso não peidas, mulher?
___ Pára com isso! exclamou tia Lalinha mais envergonhada.
___ Vou gravar teus peidos para que não me desmintas, prometeu tio Bocudo.
___ Desculpe professor os maus modos desse grosseiro! Bebeu vinho demais...
___ Eu também sofro de ventosidades, Lalinha, disse o professor em tom resignado. Ingiro comprimidos...
___ Oh, para mim chega! Vou para meu quarto... Estão cúmplices para me irritar...
___ Vai! Já vai tarde que teu mal são gases! falou tio Bocudo. Essa aí disfarça até fazendo cocô... Não me deixa entrar no banheiro antes de gastar uma latinha de bom ar... É cheia de melindres como a Carrel...
___ É uma boa esposa, elogiou-a o professor. Não tens do que reclamar...
___ Não existe boa esposa! Depois de velhas, sem filhos, não tendo lugar para onde ir, ficam chatas, sentenciou tio Bocudo com desprezo.
Eles formavam um casal semelhante a Jean Gabin e Simone Signore no filme O Gato. Estavam fadados a permanecerem juntos até a morte. Como as águias. O tio Bocudo adorava uma picuinha...”
O professor Papeco distinguiu do outro lado da avenida alguém que parecia ser um garoto. Procurava algo. Distraiu-se a observá-lo. Viu-o sentar-se num banco. Encolher-se na camiseta comprida e folgada. Ficou lá imóvel. De repente se ergueu. Atravessou a avenida em passos firmes. Veio ao encontro do professor que ficou apreensivo. Um estilete ou uma arma, podia surgir da mão daquela criança. Ele estava desprotegido no ponto de ônibus. Porém, ela falou mansamente:
___ E aí tio! Dá um crivo, dá um trocado!
Dos cabelos maltratados, curtos e pretos surgia um rosto moreno e angelical. De olhos amendoados e penetrantes, parada diante dele, não desistia do pedido.
___ Dá um trocado!
___ Estás com fome, garotão?
___ Não sô garotão! Sô menina...
E assim dizendo, desinibida, desceu a camiseta e mostrou o par de seios delicados. O professor Papeco ficou desconcertado. Queria que o bendito ônibus chegasse o mais rápido possível. Olhou ao longo da avenida. Nada. Não passava nem um táxi! Falou, tocando o ombro da menina:
___ Desculpe, pensei que fosses um moleque... Não tenho cigarro... não tenho trocado... vai embora...
___ Pô, o tio tá liso, tá nervoso? Tá com medo d’eu?
___ Vai embora...
___ Num assalto as pessoa, só peço ajuda...
___ De onde és? Estás com fome?
___ Não é todo dia que rango... Sonho com pizza, sorvete, bolo de chocolate, bolacha recheada, iogurte, geléia... Moro em Bertioga...
___ Qual tua idade, filha?
___ Sô di maior, embora num pareça! Saí com o Bronx e uns vagaus pa dá um rolé... Os putos deram de pinote...
Sentiu falta da presença do tio Bocudo, ouvindo o palavreado daquele serzinho. Quando estavam juntos, na rua, ele não admitia que desse esmola e afugentava criança carente, mendigo, vendedores, alcoólatras. Bêbado só tu, dizia. As expressões ameaçadoras e chulas, que proferia, desencorajavam qualquer um:
___ Vão dando o fora cambada de nojentos! Chupá meu pau velho ninguém qué...
O professor procurou moedas para dar à jovenzinha. Não as achou. Queria livrar-se dela, de seu linguajar de rua e olhar atrevidamente analista. Não desejava abrir a carteira em sua frente. Ela, esperta, como se entendesse o embaraço que provocara, apressou-se em dizer:
___ Otro dia o moço dá, fui!
___ Qual teu nome, garota?
___ Jupira, mas pode me chamá de Jura...
Jupira voltou a cruzar a avenida, caminhando para os lados da areia da praia. O professor teve ímpetos de acompanhá-la. Julgou-se mesquinho em negar-lhe ajuda. Abriu a carteira retirando algumas cédulas. Guardou-as no bolso do casaco, indeciso. Seguiu-a...
Na escuridão do areal tentou encontrá-la. Viu seu vulto perto da água. Chamava o cão:
___ Bronx, Bronx!
Jupira, notando a presença do professor, demonstrou cordialidade estudada:
___ O Bronx sumiu... Deve vadiá por aí... Tá a fim de um mergulho, tio?
___ Não, está frio! respondeu o professor. Não estás com frio?
___ Não, tô quente, respondeu ela a meia voz.
E pegando as mãos do professor, colocou-as por baixo da camiseta. A princípio ele conteve-se e se condenou em participar daquilo. Depois, fitando seu rostinho de menino, fechou os olhos e permitiu aquele desejo. Apertou os seios dela. Deslizou-lhe os dedos pelas costas até as nádegas. Não usava calcinha. Afagou sua vulva. Tinha pêlos. Tentou enfiar o dedo médio em seu ânus. Ela gemeu e tirou a camiseta.
___ O tio gosta de cuzinho? É mais caro, observou ela.
O professor esqueceu suas formas femininas, ocultas momentos atrás pela vestimenta barata. Protegidos pela escuridão e o rumor das ondas, balbuciou em seu ouvido:
___ Meu garotinho safado!
As mãos pequenas da jovem procuraram abrir o zíper da calça do professor. Com destreza ela pôs à mostra o membro rijo.
___ O tio é um jerico! Tá babando! disse, alisando-o. Se pagá bem, não tenho nojo, eu chupo esse pintão...
___ Tudo bem, concordou ele.
Ela abaixou-se e levou-o à boca em movimentos compassados. A saliva viscosa, a língua ardente, ágil desnorteava o professor. Ergueu-a, virou-a, procurando penetrá-la.
___ O tio gosta, não gosta?!
A saliência alongada de seus glúteos tornava-a sedutora. Ouviu-a, permissiva, pedir:
___ Empurra, pode empurrá, tio! Eu agüento...
O professor agarrou com força aquele corpo, aparentemente frágil, cheio de energia. Entre suspiros ela repetia:
___ Hum... põe tudo, tio! Ai, ui... vai dá um bom trocado, num vai? Põe tudo...
___ Sim, meu príncipe! O quanto tu quiseres, sussurrava ele.
Ficaram ali por momentos, até caírem na areia úmida, extenuados. Ele viu-a desvencilhar-se, sair debaixo dele e vestir a camiseta. Ficou estática, aguardando a recompensa. Mudo, o professor recompôs-se e retirou do bolso do casaco notas de vinte e deu-as à Jupira. Ela pegou o dinheiro, conferiu e se afastou. Primeiro andando, depois correndo, chamando:
___ Bronx, Bronx!
O professor Papeco sentiu que precisava de uma boa talagada. O quê fizera? Fora um animal! Nem usara camisinha naqueles tempos de AIDS...
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