Ponto de Impacto - Dan Brown
Ponto de Impacto – Dan Brown
Primeira Parte
Poderia até considerar escrever uma resenha sobre o livro de Dan Brown, mas vou ficar pelas poucas palavras com o comentário do volume e deter a atenção em um assunto curioso que ele levanta, que bem ou mal Isaac Asimov já havia alertado em seus ensaios, sem o dizer de fato.
Dan Brown nunca esteve mais cinematográfico quanto nesse volume, talvez ao final de Anjos e Demônios ele se supere, mas a mão está certa ao fotografar cada capítulo com extremo cuidado. Sem pudor algum ele nos dá mais um livro-cinema, onde as cenas se intercalam em uma montagem frenética, misturando cenários e prendendo a atenção do leitor até o final.
Como em qualquer filme de ação o autor peca em alguns detalhes. Torna-se muitas vezes claro e direto que determinada informação vai ser relevante dali a alguns capítulos. Mas ele o faz de determinadas maneiras que as informações que recebemos nos faça esfriar o próprio acontecimento que delas depende.
Nada muito grave, mas para um leitor nível 2 isso pode incomodar um pouco, só um pouquinho. E como estamos falando de livro de ação no velho e correto sentido da palavra o final é meio broxante já que sabemos que de qualquer jeito o maldito senador vai se ferrar, só não sabemos como, mas isso é meio irrelevante já que temos a certeza do fato.
O livro é bem escrito e atende quase em 100% as demandas de tal tipo de literatura, deixando umas oito horas da vida do leitor (eu li o livro em oito horas) mais prazerosas. Como li a versão traduzida, também, tenho que concordar que ela mesmo feita com primor peca em alguns detalhes. Para conhecedores da língua americana em alguns trechos isso se mostra claro.
Partindo para um lado mais próprio da literatura, acho que alguns personagens são tratados muito superficialmente e eles poderiam ser um pouco mais profundos, isso contribuiria para algumas reviravoltas ao longo do volume. O manjado flashback fotográfico que ele faz para alguns personagens já é batido e isso compromete um pouco essa exploração na construção dos personagens (me desculpe mas não consigo dizer das personagens).
Mas no balanço final é uma ótima aquisição e, mesmo de leitura fácil e rápida, diverte, entretém e nos deixa imersos na estória durante todo o desdobrar dos acontecimentos. Com ótimo timing no clímax e um desfecho para fechar a última página com aquele riso de canto de boca Ponto de Impacto é boa leitura de entretenimento. O que já é bastante, para quem aspira não ser mais que isso.
Segunda parte
Um assunto interessante que Dan Brown, não sei se conscientemente, abrange no livro é a corrida espacial. Não mais aquela corrida entre duas potências globais, mas uma mais destrutiva ainda, a corrida das corporações ao espaço.
Na trama do Ponto de Impacto o chefão da NASA é colocado muitas vezes defendendo seus interesses e da própria instituição dizendo que o monopólio de exploração espacial pela NASA é a coisa mais acertada que existe e não deveriam nunca deixar a coisa escapar para a “iniciativa privada”.
Mesmo operando no vermelho em muitos casos a instituição, longe de ser a mil maravilhas que parece, pelo menos mantém a integridade na operação espacial. Como vemos, e quem não vê é porque não está ainda apto a tal, nossa sociedade atual não liga a mínima para os cuidados com o que quer que seja, desde que seja consumível está ótimo.
Liberar o espaço para exploração de corporações é banalizar ao máximo as pesquisas e desenvolvimentos sérios que podem ser alcançados se o fizermos com intuitos científicos. O paralelo que posso traçar é quando na década de 30 nos EUA uma gama enorme de aparelhos invadiu o mercado, refrigeradores, ar condicionados, carros, lava louças, lava roupas etc. Devido a certo avanço tecnológico isso foi possível, mas devido a ganância dos produtores esses produtos foram na contramão da evolução tecnológica fechando as portas para qualquer reestruturação que pudessem ter. Ao mesmo tempo que são o sinal de nosso avanço científico eles nos atrasam no mesmo quesito.
Por quase uma centena de anos vivemos com os mesmo aparelhos e quem diz que o funcionamento, a máquina, mudou? Vemos sim uma gama impressionante de adicionais, de superficialidades adicionadas a maquina original. Essa, em si, nunca mudou e porque?
Pois não é interessante do ponto de vista comercializável. Uma máquina de lavar que antes tinha certo ritmo de funcionamento hoje tem 4 programas independentes, suporta um pouco mais de carga, dura um pouco menos, mas o maquinário é o mesmo. E nisso se vê com tudo o que nos rodeia.
Enfim, deixar que o espaço seja explorado por empresas sem pensamento cientifico é o mesmo que nos atrasar e nos estagnar em determinado nível social. Lembrando que a gama de descobertas feitas para atender necessidades da exploração espacial se disseminaram em nossa sociedade com incrível aplicabilidade e, lembremos, que mesmo tendo sido descartadas pelas instituições que vão ao espaço, continuam a povoar nosso dia a dia. Porque não mudar? Pois não compen$a.
Nesse quesito o livro abre uma idéia bastante abrangente de quanto pode ser prejudicial se empresas particulares começarem a explorar, de fato, o espaço com seus intuitos puramente monetários. Creio que entre correr para o espaço deveríamos olhar para os cantos de nossa própria terra, onde crianças morrem de fome. Não deveríamos estar pensando em enviar humanos ao espaço se metade deles passa fome aqui.