Sobre TCHAU, São Paulo (crônicas da cidade grande: problemáticas e solucionáticas
TCHAU, São Paulo (Crônicas da cidade grande: problemáticas e solucionáticas). Livro de Octávio Caúmo Serrano.
Livro de crônicas, contendo 105 páginas, no qual o autor, sob uma narrativa bem peculiar, expõe vivências do trágico-cômico do cotidiano da vida na grande cidade: - São Paulo – que o viu nascer, crescer e se realizar.
Com o avolumar dos inúmeros problemas da megalópole paulista, o escritor Octávio Caúmo Serrano, procede o movimento inverso de tantos nordestinos, que na década de 40-50 tomaram no “pau de arara”, o rumo sul – em busca de um lugar ao sol.
O autor vem se abrigar, na fase da maturidade, no “lugar ao sol mais bonito e onde o sol amanhece primeiro”, segundo bonito poema sobre a cidade de João Pessoa, na última página deste livro. Nesta fase da vida, a busca da placidez, do sossego e da melhor qualidade de vida são preponderantes na vida do indivíduo.
Ex- industrial, poeta, escritor e espiritualista, o autor possui uma visão humana muito ampla, com múltiplos pendores e missões. As duras lições e traumas que a cidade grande ensejou-lhe, soube, com capacidade crítica, controle e serenidade superar.
Em crônicas criativas, estabelece diálogo duro com sua cidade, sem perder a fina sensibilidade; como válvula de escape canta alegrias e se refaz das dores. Estilo original, observa as idiossincrasias da vida urbana, recriando-as sob prisma humano e possíveis soluções para tão agudos problemas sociais da grande cidade selvagem.
O livro é uma despedida da grande selva de concreto, que é São Paulo – 3a. cidade em arrecadação no Brasil; no entanto tantas carências onde as pessoas vivem arquivadas nos apartamentos, sob muros de pedra, assustados com a violência urbana. Vivem numa solidão coletiva.
O autor nas crônicas, denota ser profundo conhecedor das mazelas de sua cidade: a violência urbana, as drogas, homicídios, assaltos, poluição, tráfego urbano, distribuição da população, o abandono à criança, desrespeito ao patrimônio alheio, lixo, pichações, siriri, as matemáticas dos impostos, o saldo devedor astronônimo da casa própria, os “contos do vigário”: dos seguros, dos telefones, dos planos de saúde privados, das falsas Igrejas e falsas religiões. Enfim todas as incivilizações da cidade de grande porte – todos estes transtornos e muito mais – “verdadeira máquina de fazer doidos”.
O autor sente quão aguda é a problemática social, tanto quanto a incompetência, desonestidade, impotência e desmandos dos governantes – que por via de regra, só oferecem soluções paliativas em ações incipientes.
Com senso crítico e aguda percepção social e espiritual, capta todos os meandros e ironias da vida urbana, como ressalta no livro: ...”quando não é a ganância é o desequilíbrio e a maldade que está na pele e nas almas das criaturas” ... “ que está transformando os habitantes da minha cidade em criaturas tresloucadas incapazes de controlar-se, a ponto de serem mais violentas do que animais selvagens. Seriam eles as bestas do apocalipse” ?
Não obstante o autor , com grande experiência, observa as durezas, até de solidariedade, em São Paulo; acha possível minimizar os conflitos existentes: “ o favelado precisa de comida e o abastado de atenção. Não é difícil a fusão dos dois interesses. A vida é troca e amor é isso”.
Com originalidade encaixa campo semântico com abundantes substantivos abstratos, para realidades tão concretas, ao encerrar com originalidade cada crônica do livro: traumas, ironias, sequelas, tiranias, provações, incompetências, abandono, mistério, incongruências, contrastes, ignorãncias, labirintos, justiça, safadezas, burlas, carrascos, exemplos, vigaristas, voluntários e por aí vai. Ante tantos males e sofreguidões, Octávio Caúmo Serrano disse: Arrivederci São Paulo!
A cidade de João Pessoa ganhou com o deslocamento do escritor espírita Octávio Caúmo Serrano: acolheu-o de braços abertos poèticamente na Academia Paraibana de Poesia, na qual é atuante sócio e colaborador.
Só que, com a globalização, o que acontece em São Paulo, acontece aqui também, embora em menor escala. Pelo menos em João Pessoa desfruta-se de um ambiente ecológico mais puro e menos poluído, com boa arborização. Tem-se inegavelmente melhor qualidade de vida!
Termino estas singelas considerações sobre o interessante livro de Crônicas de Octávio Caúmo Serrano, TCHAU SÃO PAULO, com uma passagem-mensagem socialista-espiritualista, muito bonita, deste livro em apreço: “Há um novo mundo se formando, se pode sentir no ar um cheiro de esperança. É hora de dividir para somar; operação matemática que desagrada a ganância a mais, que cria espaço para um fraterno abraço coletivo”.