Mais livros
Fazendo um esforço intencional para intervalar o meu embrenhado mergulho no mundo “Aquiliniano” fui espreitando alguns livros.
Começo com um apregoado best-seller de um autor talvez famoso chamado Augusto Cury. Este escritor-psiquiatra e responder a várias questões de ordem filosófica de universal relevância, como por exemplo: Quem somos? Deus existirá? Quais os limites do pensamento?”.
A originalidade do autor é que este se propõe ao longo do livro oferecer-nos as respostas utilizando um método ultra-revolucionário: A análise exaustiva da oração do Pai-Nosso.
O livro chama-se “ Os segredos do Pai-Nosso”. Tem ainda o subtítulo: “ A Solidão de Deus”.
Cury adapta a sua técnica terapêutica ao Criador, Ele mesmo, para analisar as suas emoções e sentimentos em relação à sua criatura: o Homem. Parece que tudo gira em volta da palavra “Pai”. Deus não desejou que oremos: Criador nosso que estais no céu...
Logo Deus tem sentimentos quase, quase iguais a nós. E por aí a fora.
No entanto a última página revela-nos a maior surpresa: a análise do Pai-Nosso termina na frase: “Santificado seja o Vosso nome, assim na terra como no céu”.
Quem quiser saber o que significa “ O pão-nosso de cada dia nos dai hoje”, e o que se segue até ao final da oração, terá de comprar o próximo livro!
Claro que para ser totalmente honesto o autor deveria ter intitulado a obra de “ Os segredos do Pai-Nosso mas só pela metade”. Mas pareceu-lhe muito comprido.
Por isso quem quiser saber mais sobre o “Pãozinho” poderá adquirir “ Os Segredos do Pai-Nosso: A Sabedoria Nossa de Cada Dia”... Numa livraria perto de si.
Existem motivações várias para ler os êxitos editoriais do Sr. Cury. Ele sabe como vender o que escreve. Eis alguns exemplos da sua colecção: “Dez Leis Para Ser Feliz”; Seja Líder De Si Próprio”; “ Doze Semanas Para Mudar Uma Vida”.
Eu por mim vou esperar pela futura obra: “Como Preparar os Filhos Para a Vida em Cinco Dias e Meio”. Aposto que ele é homem para isso!
Andava eu procurando, coleccionando e empilhando numa mesa livros sobre gatos quando me chegou às mãos uma obra singular: “ Porque Pintam os Gatos?: uma Teoria da Estética Felina.”
Sendo eu veterinária, tendo-me interessado especialmente em determinada altura da minha vida profissional pelo comportamento animal, fiquei estupefacta com a descoberta da aptidão dos gatos para a pintura e para a estética.
Os autores são os Neo-Zelandeses, Heather Busch e Burton Silver. A senhora é pintora e escultora e o cavalheiro é escritor e crítico de arte. De arte, portanto percebem eles.
Ao longo do livro eles procuram contrapor as teorias dos biólogos e outros profissionais especializados em etologia que reconhecem a tendência dos felinos para produzirem marcas visuais como forma de marcação de território.
Ao longo de vários anos os autores fotografaram as obras dos gatos artistas e frequentemente os ditos, em plena acção artística. O resultado é excelente. As fotos são lindíssimas e eu não me canso de as ver.
Para além disso divirto-me com o nome dos capítulos: “Tiger: reducionista espontâneo”; “Minnie: Expressionista Abstracta”; Smokey: “Ruralista Romântico”
Este é um dos meus preferidos. Somos informados que um dos seus quadros foi vendido por seis mil dólares.( Será que a minha obesa Cassandra poderá fazer umas marquinhas com tinta se eu lhe arranjar um cavalete jeitoso à sua altura?...)
No meu primeiro contacto com o livro fiquei com a sensação que os autores brincavam o tempo todo com a situação e o texto seria fina ironia. Mas parece que existe um tal de Conselho Internacional para a Conservação da Arte Felina que mexe com muitos milhares de tostões.
Numa das maravilhosas fotos em que Smokey se “vê” a pintar pode ler-se a legenda: “ Smokey introduz os toques finais em Malmequeres Maníacos. Ele também escolhe uma parte isolada do jardim e informa o seu dono do sítio onde deve deixar as tintas e o cavalete, marcando exuberantemente o local com urina.” (Ainda bem que as fotos não captam o odor!).
Por último passo a falar mais a sério. Um dia passei numa mini feira do livro na zona da linha e entre vários livros escolhi um pela simples razão de ter uma cor lindíssima. Um roxo fantástico. Deve ter sido influências da zona... pensei: “ mesmo que não seja bom ficará super bem na minha estante...”
Não é que descobri uma poetisa extraordinária? Else Lasker-Shüler (1869-1945). Alemã e judia: que sina! Baladas Hebraicas da Assírio & Alvim. A realidade era dura e Else preferia sonhar. “ O sonho é a vida”. É a minha frase preferida dela. Minto. Esta é apenas a minha segunda frase preferida dela. A minha frase preferida dela é mesmo: “ O importante não é o poema, mas sim o estado poético(...) Uma palavra tem de beijar a outra.”
A cor roxa da capa é a cor da tinta da caneta com que ela escrevia os poemas. O livro inclui a versão manuscrita.
Escolhi um poema para terminar.
Reconciliação
Há-de uma grande estrela cair no meu colo...
A noite será de vigília,
E rezaremos em línguas
Entalhadas como harpas.
Será noite de reconciliação
Há tanto de Deus a derramar-se em nós.
Crianças são os nossos corações
Anseiam pela paz, doces-cansados.
E nossos lábios desejam beijar-se
Por que hesitas?
Não faz meu coração fronteira com o teu?
O teu sangue não pára de dar cor ás minhas faces.
Será noite de reconciliação,
Se nos dermos, a morte não virá.
Há-de uma grande estrela cair no meu colo.
Juro que me arrepiei enquanto transcrevia estes versos. Haverá sonho maior?
Fazendo um esforço intencional para intervalar o meu embrenhado mergulho no mundo “Aquiliniano” fui espreitando alguns livros.
Começo com um apregoado best-seller de um autor talvez famoso chamado Augusto Cury. Este escritor-psiquiatra e responder a várias questões de ordem filosófica de universal relevância, como por exemplo: Quem somos? Deus existirá? Quais os limites do pensamento?”.
A originalidade do autor é que este se propõe ao longo do livro oferecer-nos as respostas utilizando um método ultra-revolucionário: A análise exaustiva da oração do Pai-Nosso.
O livro chama-se “ Os segredos do Pai-Nosso”. Tem ainda o subtítulo: “ A Solidão de Deus”.
Cury adapta a sua técnica terapêutica ao Criador, Ele mesmo, para analisar as suas emoções e sentimentos em relação à sua criatura: o Homem. Parece que tudo gira em volta da palavra “Pai”. Deus não desejou que oremos: Criador nosso que estais no céu...
Logo Deus tem sentimentos quase, quase iguais a nós. E por aí a fora.
No entanto a última página revela-nos a maior surpresa: a análise do Pai-Nosso termina na frase: “Santificado seja o Vosso nome, assim na terra como no céu”.
Quem quiser saber o que significa “ O pão-nosso de cada dia nos dai hoje”, e o que se segue até ao final da oração, terá de comprar o próximo livro!
Claro que para ser totalmente honesto o autor deveria ter intitulado a obra de “ Os segredos do Pai-Nosso mas só pela metade”. Mas pareceu-lhe muito comprido.
Por isso quem quiser saber mais sobre o “Pãozinho” poderá adquirir “ Os Segredos do Pai-Nosso: A Sabedoria Nossa de Cada Dia”... Numa livraria perto de si.
Existem motivações várias para ler os êxitos editoriais do Sr. Cury. Ele sabe como vender o que escreve. Eis alguns exemplos da sua colecção: “Dez Leis Para Ser Feliz”; Seja Líder De Si Próprio”; “ Doze Semanas Para Mudar Uma Vida”.
Eu por mim vou esperar pela futura obra: “Como Preparar os Filhos Para a Vida em Cinco Dias e Meio”. Aposto que ele é homem para isso!
Andava eu procurando, coleccionando e empilhando numa mesa livros sobre gatos quando me chegou às mãos uma obra singular: “ Porque Pintam os Gatos?: uma Teoria da Estética Felina.”
Sendo eu veterinária, tendo-me interessado especialmente em determinada altura da minha vida profissional pelo comportamento animal, fiquei estupefacta com a descoberta da aptidão dos gatos para a pintura e para a estética.
Os autores são os Neo-Zelandeses, Heather Busch e Burton Silver. A senhora é pintora e escultora e o cavalheiro é escritor e crítico de arte. De arte, portanto percebem eles.
Ao longo do livro eles procuram contrapor as teorias dos biólogos e outros profissionais especializados em etologia que reconhecem a tendência dos felinos para produzirem marcas visuais como forma de marcação de território.
Ao longo de vários anos os autores fotografaram as obras dos gatos artistas e frequentemente os ditos, em plena acção artística. O resultado é excelente. As fotos são lindíssimas e eu não me canso de as ver.
Para além disso divirto-me com o nome dos capítulos: “Tiger: reducionista espontâneo”; “Minnie: Expressionista Abstracta”; Smokey: “Ruralista Romântico”
Este é um dos meus preferidos. Somos informados que um dos seus quadros foi vendido por seis mil dólares.( Será que a minha obesa Cassandra poderá fazer umas marquinhas com tinta se eu lhe arranjar um cavalete jeitoso à sua altura?...)
No meu primeiro contacto com o livro fiquei com a sensação que os autores brincavam o tempo todo com a situação e o texto seria fina ironia. Mas parece que existe um tal de Conselho Internacional para a Conservação da Arte Felina que mexe com muitos milhares de tostões.
Numa das maravilhosas fotos em que Smokey se “vê” a pintar pode ler-se a legenda: “ Smokey introduz os toques finais em Malmequeres Maníacos. Ele também escolhe uma parte isolada do jardim e informa o seu dono do sítio onde deve deixar as tintas e o cavalete, marcando exuberantemente o local com urina.” (Ainda bem que as fotos não captam o odor!).
Por último passo a falar mais a sério. Um dia passei numa mini feira do livro na zona da linha e entre vários livros escolhi um pela simples razão de ter uma cor lindíssima. Um roxo fantástico. Deve ter sido influências da zona... pensei: “ mesmo que não seja bom ficará super bem na minha estante...”
Não é que descobri uma poetisa extraordinária? Else Lasker-Shüler (1869-1945). Alemã e judia: que sina! Baladas Hebraicas da Assírio & Alvim. A realidade era dura e Else preferia sonhar. “ O sonho é a vida”. É a minha frase preferida dela. Minto. Esta é apenas a minha segunda frase preferida dela. A minha frase preferida dela é mesmo: “ O importante não é o poema, mas sim o estado poético(...) Uma palavra tem de beijar a outra.”
A cor roxa da capa é a cor da tinta da caneta com que ela escrevia os poemas. O livro inclui a versão manuscrita.
Escolhi um poema para terminar.
Reconciliação
Há-de uma grande estrela cair no meu colo...
A noite será de vigília,
E rezaremos em línguas
Entalhadas como harpas.
Será noite de reconciliação
Há tanto de Deus a derramar-se em nós.
Crianças são os nossos corações
Anseiam pela paz, doces-cansados.
E nossos lábios desejam beijar-se
Por que hesitas?
Não faz meu coração fronteira com o teu?
O teu sangue não pára de dar cor ás minhas faces.
Será noite de reconciliação,
Se nos dermos, a morte não virá.
Há-de uma grande estrela cair no meu colo.
Juro que me arrepiei enquanto transcrevia estes versos. Haverá sonho maior?